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25 de abril de 2024

A primeira vez a gente nunca esquece?


Por Victor Simião Publicado 19/07/2018 às 16h00 Atualizado 17/02/2023 às 15h06
 Tempo de leitura estimado: 00:00

– Você tem medo?
– Não – respondi.
– É a sua primeira vez?
– Não – menti.
– Será que vai doer?
– Espero que não – falei, tentando parecer calmo.
– Eu tô com medo…
– Tá tudo bem.
– …
– Pode colocar, mas devagar – pedi.


Meia-hora depois, lá estávamos eu, com a boca inchada e sangrando, deitado na cadeira, e Juninho, um velho de amigo de peladas aos domingos que se tornara dentista. Ele me escolhera como primeiro paciente para a primeira operação feita por ele sem alguma supervisão. Pela dor, pelo horror, pelo barulho da maquininha, ainda guardo tudo na memória – e nos três dentes quebrados.


Me lembrando desse fato, percebi como é lugar-comum dizer que a primeira vez é sempre inesquecível. E isso, no fim das contas, é verdadeiro. A primeira aprovação em um vestibular, o primeiro IPVA a ser pago, o primeiro ônibus lotado em horário de pico que você pega – e apesar disso se repetir todos os dias, pelo sufoco & aperto & estresse causados sempre parece a primeira vez.


Que coisa.


Agora aqui estou eu, pela primeira vez, com uma coluna fixa em um portal de notícias cuja missão é publicar algo toda semana. O nome dela, “Bloco de Notas”, indica aquilo que poderá ser encontrado: anotações que, sempre que possível, terão se tornado crônicas, e análises e resenhas de livros.


“Sobre o que você vai escrever em sua primeira crônica?”, algumas pessoas que tinham sido comunicadas desta coluna me perguntaram. Eu não sabia o que responder. Até agora não sei, na verdade. Pensei em fazer uma apresentação, um breve resumo sobre mim, já que isso é o mais comum em quase toda a primeira vez entre pessoas que estão se conhecendo.


Refletindo com mais calma, cheguei à conclusão de que seria brega começar assim esse que é uma espécie de primeiro encontro. “Todo primeiro encontro é estranho, com situações constrangedoras, com arrependimentos que só serão resolvidos – porcamente, claro – em uma sessão de terapia”, me alertou Maurício, um colega que tem três anos de experiências em primeiros encontros marcados pelo Tinder.


Se a minha sina é ser brega, aceito-a.


Victor Simião. 24 anos. Jornalista de formação e agora estudante de Ciências Sociais. Repórter da CBN Maringá e colunista de literatura da emissora. Escrevo, também, para Homo Literaturas e para veículos culturais. Correr, fazer trocadilhos de gosto duvidoso e descobrir novas bandas são alguns de meus hobbys, bem como duvidar de tudo.


Ah, também gosto de histórias engraçadas. Como a do nosso já conhecido Juninho. Esse amigo decidiu trocar de carreira pouco tempo depois da malfadada cirurgia em mim. Largou a ortodontia para se tornar advogado. Deixou de operar bocas para operar o Direito.


Com o diploma em mãos, me perguntou se não queria ser seu primeiro cliente. Por conta da experiência anterior, declinei. Caso decidisse fazer dele o meu procurador, imaginei o que poderia acontecer: em suposta ação criminal movida por ele a meu pedido, haveria grandes chances de eu, o proponente, terminar como acusado cujo fim eminente seria entrar no já falido sistema prisional brasileiro.


E ó, já que dizem que a primeira vez a gente nunca esquece, de minha parte (eu) sempre me lembrarei do convite do editor Fábio Castaldelli para fazer a “Bloco de Notas”. Entretanto, dependo da outra parte (você), leitor e leitora. Somente a assim o sujeito coletivo (a gente) fará sentido.


Seja bem-vindo, tá?, e volte sempre.


PS: O Juninho entrou com uma ação na Justiça para impedir a publicação de sua história, assim que soube que ela seria contada nesta crônica. Obviamente, perdeu. Agora, anda pelo Bar do Zé, pelo Tabuleiros, pelo Atari e pelo Dona Olga dizendo: “vou quebrar os dentes dele”. A grande verdade, Juninho, é que você já os quebrou. Três.

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Fale com o colunista: victorsimiao1@gmail.com

 

 

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