Adeus, ano letivo!

A Marlene, motorista do ônibus que eu pego todos os dias para ir ao trabalho, disse ter notado que eu estava com cara mais simpática na última terça-feira.

– Até parece mais jovem, Victor. Fico feliz por você. Felicidade assim, que faz a pessoa ter um rosto sorridente, só pode ter um motivo: separação de um casamento infeliz – ela disse.

Eu ri e disse que não. Que eu nem havia me casado ainda. Que o maior erro que eu cometera até ali em toda a minha vida fora o de ir ao show do Jorge e Mateus na Expoingá 2011.

– Nossa, Victor. Quando você se casar, vai ser uma alegria tremenda. A de se separar, então, maior ainda. Não fosse isso, teria matado aquele desgraçado do Alexandre – a Marlene continuou a dizer.

Conversamos até chegarmos ao centro de Maringá. Assim que me preparava para passar a catraca e descer do ônibus, minha querida motorista quis saber o motivo de minha cara de feliz.

– Acabou o ano letivo da faculdade, Marlene!

Ela ficou feliz por mim.

– Ah, Victor, que felicidade. Você é um menino tão estudioso. Todo dia pega esse ônibus e sempre com um livro novo. Eu era assim, sabia, quando jovem. Mas aí conheci o desgraçado do Marcelo e a minha vida aca..

– Marcelo? O nome do seu ex-marido não é o Alexandre, Marlene?
– Alexandre foi o terceiro, Victor. Teve o Marcelo e o Daniel antes.

Eu adoraria continuar para ouvir a história, mas precisei me dirigir ao trabalho. A vida urgia, a Marlene sabia, mas em breve conversaremos sobre a vida dela. Até porque tenho estado feliz. Até porque o semestre da faculdade acabou. Adeus, ano letivo!

O ano de 2018 foi intenso, com momentos tristes e preocupantes. Eu poderia ficar horas tomando a preciosa atenção dos três leitores que me leem. Para evitar isso, então, citarei apenas alguns fatos de suma importância em minha melancólica vida neste ano: a derrocada do São Paulo no Campeonato Brasileiro, o processo eleitoral 2018 e a suposta volta do Tiago Iorc ao Brasil.

Os fatos acima me abalaram, e tudo isso aconteceu enquanto eu seguia com as obrigações da vida: o trabalho, a faculdade, o bom dia meio sem graça de todos os dias aos estranhos do elevador etc.

Há alguns dias, concluí o sexto semestre do curso de Ciências Sociais na UEM (Universidade Estadual de Maringá). Esse momento da graduação é mais perto do fim que do início. Entretanto, para algumas pessoas, é como se entre a ilha (o início da graduação) e a terra firme (o fim), o mar estivesse cheio de tubarões. No meu caso, não. Eu lido bem com a água – no máximo, encontro o Free Willy durante o percurso: algo grande, assustador, mas superável.

O fim do ano letivo é, portanto, um alívio para o aluno. É descansar em terra firme após um tempo nadando. É poder se encostar em um coqueiro, aproveitando a sombra propiciada, bebendo água fresca.

Não que ir à faculdade seja ruim; é que cansa. É igual beber cerveja todo dia: o lado bom é sempre ficar embriagado; o ruim é sempre ficar embriagado.

Fim do ano letivo também é um alívio para o professor. O quão bom deve ser saber que não irá ouvir pelo menos durante alguns meses “é pra copiar?”, “tenho que usar caneta na prova?” ou “Por que eu fiquei com 59?”

Entretanto, esse período também é aquele momento em que o professor e o aluno sabem que, em breve, um novo ano letivo chega. Não há como se esquecer disso. Mesmo descansando encostado em uma árvore, em algum momento um coco há de cair e me lembrar que 2019 é logo ali.

Bem que poderia demorar, né? É sempre bom ter sombra e água fresca.