Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso site, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao acessar nosso portal, você concorda com o uso dessa tecnologia. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

20 de abril de 2024

Gemidão do Zap


Por Victor Simião Publicado 02/08/2018 às 15h30 Atualizado 17/02/2023 às 21h02
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Recebi um vídeo pelo WhatsApp sobre relações amorosas enviado por um amigo na semana passada. “Assista e saiba como manter a esperança no amor”, dizia o texto acima do arquivo. Um homem de terno discursa na gravação. “Ame as pessoas que estão ao seu lado, ame quem te ajuda sempre. Ame quem te faz críticas”, ele diz. Em seguida, uma pausa dramática de dois segundos. E aí o homem volta a falar. “E sabe o que mais? Sabe? É porque o Ahnnnnnn, ohhhhhh, ahnnnnnn, ohhhhhh, ahnnnnnn, ohhhhhh!”.

Era o Gemidão do Zap. E eu caí pela milésima vez.

Eu estava na fila de uma lotérica e todo mundo ali ouviu. Uma senhora, aliás, sorriu para mim. Foi como se me dissesse que sim, ela já havia caído no Gemidão naquele dia, que estava tudo bem, que se eu tivesse o número do Whats dela eu deveria encaminhar-lhe o vídeo.

Passado meu constrangimento e minha troca de olhares com a senhora, automaticamente fiz o que é exigido pelo 11º mandamento: “Não negarás o encaminhamento do Gemidão do Zap para os amigos mais próximos, para os conhecidos e, vez ou outra, para a sua avó”. Dito e feito.

Um dos amigos que receberam o arquivo me disse, horas depois, que abrira o vídeo no meio de uma reunião. Como achasse o áudio baixo, ele aumentou o volume do celular – aí o Gemidão funcionou em público. “Foi até bom porque todo mundo deu risada, acabando com a reunião que estava acabando com a gente como quase toda e qualquer reunião. Inclusive meu chefe me pediu o vídeo para mandar para os amigos dele”, meu amigo me contou depois.

Um dos conhecidos para quem enviei o vídeo não respondeu, mas me adicionou em três grupos nos quais as pessoas só dizem bom dia e mandam imagens com flores e ursinhos. E quanto à minha avó, ela me respondeu dizendo “saudades”. Não sei se de mim ou de…

Refletindo sobre, percebi que o Gemidão do Zap tem anatomia própria. Vejamos quais são. 1) O início do vídeo tem de ser algo sério: somente assim a onomatopeia “ahnnnnnn, ohhhhhh” será uma ótima surpresa; 2) O emissor da mensagem com o Gemidão deve enviá-lo entre 11h e 17h: o horário comercial é o mais proveitoso porque a tendência é a de que o receptor do arquivo abra o vídeo em público; 3) Não se deve enviar Gemidão todos os dias: o item não deve ser banalizado para que não perca a força.

Se as medidas acima forem seguidas à risca, o Gemidão do Zap será bem-sucedido – tão ou mais do que os proprietários de shoppings em Maringá que cobram fortunas pelo estacionamento dentro desses locais.

Porque não é apenas enviar e torcer para que o outro abra o vídeo e se surpreenda. O Gemidão do Zap é mais que uma mensagem engraçadinha: é uma dádiva que podemos compartilhar pelo Whats.

Porque um Gemidão do Zap bem enviado e aberto em público é tão bonito quanto à leitura do Salmo 23 por um pastor que não grita, tão saboroso quanto à hóstia bem molhada no vinho do padre, tão transcendental quanto o atabaque tocado por um alabê.

E sabe o que mais? Sabe?

É porque o ahnnnnnn, ohhhhhh, ahnnnnnn, ohhhhhh!

___

Fale com o cronista: victorsimiao1@gmail.com

Pauta do Leitor

Aconteceu algo e quer compartilhar?
Envie para nós!

WhatsApp da Redação