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25 de abril de 2024

MOSTRA SP 2019 – OS VENCEDORES


Por Elton Telles Publicado 01/11/2019 às 20h43 Atualizado 25/02/2023 às 05h38
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Depois de duas semanas intensas de filme atrás de filme, a 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo chegou ao fim e os vencedores desta edição foram anunciados.

A premiação é dividida em categorias que contemplam escolhas do júri oficial, público e crítica. O prêmio máximo do evento é o Troféu Bandeira Paulista, atribuído a cineastas em seu primeiro ou segundo longa-metragem.

Neste ano, o júri composto pelo diretor brasileiro Beto Brant (“Ação Entre Amigos”, “O Invasor”), o argentino Lisandro Alonso (“A Liberdade”, “Jauja”), a atriz e diretora portuguesa Maria de Medeiros (“Pulp Fiction”, “Repare Bem”) e a produtora francesa Xénia Maingot decidiu premiar 3 filmes com o Troféu Bandeira Paulista, todos coincidentemente dirigidos ou codirigidos por mulheres: “Honeyland” em Melhor Documentário; “Dente de Leite” e “System Crasher” dividiram o prêmio em Melhor Ficção.

Abaixo, estão as resenhas dos três títulos vencedores da Mostra SP 2019.

HONEYLAND
Origem: Macedônia
Direção: Tamara Kotevska, Ljubomir Stefanov

Premiado no Festival de Sundance e candidato da Macedônia ao Oscar 2020, “Honeyland” tem todos os créditos para render a primeira indicação do país. Entre os seus admiráveis êxitos, técnicos e dramáticos, o documentário constrói uma sublime meditação sobre a remota passagem por este mundo e quais são as possibilidades que se tem de converter o entorno em um legado para futuras gerações. Com muita honestidade e naturalidade, até nos momentos obviamente ensaiados diante da câmera, o que não exclui a veracidade do retrato, a dupla Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov exibem incrível controle narrativo ao extrair essa riquíssima reflexão pelo acompanhamento da miserável Hatidze, uma mulher de 50 e poucos anos em uma vila isolada, onde vive com a mãe debilitada e cuida de uma colônia de abelhas. Os insetos são a vida e tudo o que tem ao redor representa ameaças palpáveis.

A rotina dessas mulheres muda completamente com a chegada de uma família turca itinerante que se instala ao lado. Para garantir o sustento dos 7 filhos, os novos moradores dão início a atividades de plantio e pecuária, incluindo a apicultura, sob tutoria de Hatidze. É muito comovente observar toda a experiência nas marcas e expressões estampadas no rosto da protagonista, além de presenciar seus momentos de verdadeira alegria e a quebra da solidão quando se afeiçoa, por exemplo, com o filho do vizinho, criança que nunca teve a oportunidade de criar porque sua trajetória de trabalho e responsabilidades não a permitiram. O espírito de bondade e solidariedade que enlaçam este filme é abundante.

Não bastasse a beleza dos tópicos centrais, “Honeyland” expande seu conteúdo e aborda os cuidados e preservação do meio ambiente, mostrando como o homem, consumido pela ganância, é o único responsável pela destruição da natureza. O roteiro segue esse discurso sem, no entanto, soar agressivo, optando pela compreensão em se adaptar à realidade opressiva de quem recai a essas tentações. Além de emocionante, poético e um esplendor visual, temos em “Honeyland” um filme consciente e sustentável.

 

 

DENTE DE LEITE
Origem: Austrália
Direção: Shannon Murphy

Se tem um enredo que não é inédito no cinema é o da paixão entre adolescentes com alguma doença terminal. De “Love Story” (1970) à maioria das adaptações dos romances açucarados de John Green e Nicholas Sparks, esta é uma trama batida que raramente apresenta alguma novidade. Podemos incluir nesse balaio o australiano “Dente de Leite”, que mesmo desenvolvido com uma abordagem peculiar, não se difere tanto de seus precedentes. O filme tem um início muito promissor, sobretudo com as observações ambíguas da diretora estreante Shannon Murphy em estabelecer o aspecto macro da história. Conforme adentramos os espaços e ficamos mais íntimos dos personagens, o interesse evapora diante dos conflitos confusos e desnecessários do roteiro, um vai-e-vem que mais distrai do que conecta o público.

Ainda assim, há boas cenas isoladas, como os jantares atípicos em família ou o desfecho emocionante. Os maiores elogios da produção recaem sobre o elenco, um quarteto de peso liderado pelos iniciantes Eliza Scanlen e Toby Wallace, este último vencedor do prêmio Melhor Ator/Atriz Jovem no Festival de Veneza. Por vezes engraçado e espirituoso, infelizmente “Dente de Leite” perde o foco em seu desenvolvimento com adições supérfluas, tornando-o mais longo e, consequentemente, menos cativante do que poderia ser.

 

 

SYSTEM CRASHER
Origem: Alemanha
Direção: Nora Fingscheidt

Um tiro doeria menos do que a sova em grupo que é encarar o alemão “System Crasher”. Após os créditos finais, a sensação que se tem é de que um caminhão carregado passou por cima de você. Logo, a dor é substituída pelo êxtase de ter presenciado um filme vibrante, autoral e com nervos à flor da pele. Uma revelação no cinema atual, é preciso ficar de olho nos trabalhos futuros da jovem cineasta Nora Fingscheidt, brilhante na condução do longa. As escolhas estilísticas de Fingscheidt para compor a narrativa são totalmente coesas com a história de Benni, uma garota de 9 anos constantemente expulsa/transferida de escolas e casas de acolhimento pelo seu comportamento agressivo e imprevisível. A câmera nervosa, a montagem intensa e a trilha sonora eufórica e – neste caso – felizmente intrusiva transformam “System Crasher” em uma experiência angustiante, ao mesmo tempo em que o público se compadece com a situação de desprezo e abandono da personagem central por todas as partes responsáveis, da família aos órgãos públicos de cunho social. O filme problematiza o que deve ser feito em situações desesperançosas, quando todos as instituições falham e são incapazes de acolher e conceder amparo.

Diante de tantas glórias, o que definitivamente paralisa o espectador é a atuação espetacular da pequena Helena Zengel. Falo com tranquilidade: este é um dos maiores desempenhos de um ator mirim do cinema. Geralmente, o trabalho de edição de um filme dá conta de engrandecer o trabalho de uma criança, às vezes sem o estofo dramático que os papéis exigem. Não é o caso de Zengel; no filme, esta atriz nata de apenas 9 anos de idade compreende a sua personagem e impressiona pela desenvoltura, composição física e ferocidade natural. Um verdadeiro achado!

Sem espaço para sentimentalismos e armadilhas emocionais, “System Crasher” é um filme imperdoável que mira direto na jugular. Um retrato devastador sobre a insuficiência e despreparo do Estado no trato com certos desafios. E, mais uma vez, elogios não são o bastante para o trabalho em equipe de Nora Fingscheidt e Helena Zengel. Bravo!

 

 

Confira todos os vencedores da 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Prêmio do Júri | Melhor Documentário
HONEYLAND, de Ljubomir Stefanov e Tamara Kotevska (Macedônia)

Prêmio do Júri | Melhor Ficção
DENTE DE LEITE, de Shannon Murphy (Austrália)
SYSTEM CRASHER, de Nora Fingscheidt (Alemanha)

Prêmio do Público | Melhor Documentário Brasileiro
CHORÃO: MARGINAL ALADO, de Felipe Novaes

Prêmio do Público | Melhor Ficção Brasileira
PACIFICADO, de Paxton Winters

Prêmio do Público | Melhor Documentário Internacional
A GRANDE MURALHA VERDE, de Jared P. Scott (Reino Unido)

Prêmio do Público | Melhor Ficção Internacional
PARASITA, de Bong Joon-ho (Coréia do Sul)

Prêmio da Crítica | Melhor Filme Internacional
HONEYLAND, de Ljubomir Stefanov e Tamara Kotevska (Macedônia)

Prêmio da Crítica | Melhor Filme Brasileiro
AOS OLHOS DE ERNESTO, de Ana Luiza Azevedo

Prêmio da ABRACCINE | Melhor Filme Brasileiro de Diretor Estreante
CURRAIS, de David Aguiar e Sabina Colares

Prêmio Incubadora Paradiso 2020
O CAMPO DOS LOBOS GUARÁS, de Bárbara Cunha e Paulo Caldas

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