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18 de abril de 2024

Especial


Por Passeio, por Elton Tada Publicado 06/02/2019 às 21h00 Atualizado 19/02/2023 às 22h47
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Alguém já te disse que você é especial? Já te fizeram juras de amor ou de amizade eterna narrando o tamanho da sua importância? Isso é bom, não é? Deixa a gente animado, dá aquela trabalhada na autoestima. E, eu não estou aqui para dizer que você não é especial. Estou aqui para pensarmos juntos nesse labirinto que é dizer e sentir. Acho especialmente interessante quando alguém diz que uma pessoa é especial para Deus. Pode ser que seja, mas fico confuso, pois essa condição parece gerar um desequilíbrio, uma certa injustiça, que não me parece combinar com as características de Deus. Mas, quem sou eu para questionar tamanhos profetas, não é mesmo?

Desde muito cedo li. Li muito, li com vontade, e li várias coisas. Na casa dos meus pais tínhamos uma estante de madeira com portas de correr parcialmente feitas de vidro. Trancado do lado de fora da estante, no mundo, eu sentia desconfiado/desafiado que lá dentro havia um mundo também. Almanaques, coletâneas, revistas, livros de algumas religiões, algumas bíblias e hinários antigos, algumas biografias de genocidas. Essa foi minha base literária. E, como dificilmente seria diferente, me encantei pelas narrativas da bíblia. Em particular, me lembro de uma história de aventura invejável, a história de Davi, o homem segundo o coração de Deus. Se eu pudesse escolher – tanto no passado quanto hoje – um título que me conferisse importância, não quereria ser rei nem super-herói, mas sim ser o homem segundo o coração de Deus. Não sei se você entende, mas ser o homem segundo o coração de Deus é ser o suprassumo da criação. Imagine o tamanho da minha decepção quando eu descobri que eu não era nada disso. Era apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior.

Se Deus comete a injustiça de preferir uns a outros, imagine nós, humanos, que somos bem pendentes à prática do mal. As pessoas escolhem e são escolhidas, sim, mas não sem antes um toque delicado e inadiável do acaso, que te cruza com uma meia dúzia, enquanto outros bilhões estão por aí se cruzando. E por isso justificamos nossos sentimentos, desenvolvemos afetos malucos que transformam um homem qualquer em um pai super poderoso e uma criança torta num gauche charmoso. Mas, me pergunto, afinal de contas, por que nos importa tanto o sentir-se assim, especial?

As vidas soterradas na lama, centenas delas, são vidas igualmente importante. E a partida de quem ganhava mais não dói mais do que a partida de quem ganhava menos. Se era uma bela jovem loira ou um idoso careca, sabemos que o ser humano é sempre igual e o mesmo. Somos marinheiros quase que à deriva. Não sabemos o destino, mas estamos todos e todas no mesmo barco.

Entender que não somos especiais é preciso. E isso, afirmo, nada tem a ver com a própria estima. Estimar-se, sim, é necessário, mas saber-se como um igual é inadiável. Quem sabe não ser especial não deve se sentir menos, pois quando estamos na mesma altura, ninguém pisa em ninguém.

Uma senhora reclamava na fila do supermercado. Senhora, você não é uma deusa, uma louca, uma feiticeira presa nessa deprimente fila de humanos. Você é só uma narcisista com pouca utilidade para o mundo que se sente um pouco viva ao reclamar.

Tem gente que morre por dentro.

Pauta do Leitor

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