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19 de abril de 2024

Jhony 180 – uma tragédia maringaense


Por Victor Simião Publicado 03/10/2019 às 14h00 Atualizado 24/02/2023 às 11h40
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Jhony era um sujeito que aos 15 anos escolheu se dedicar ao que mais sabia fazer: sexo. Abandonou a escola, mas não deixou de frequentar a casa das professoras Matilde e Rosane. Em seus últimos dias de Unidade Pólo, decidiu que, em vez de comer macarrão com carne moída na merenda, focaria em dona Marta, a responsável pela refeição. Ele não se arrependeria disso, e os 47 anos de diferença que havia entre os dois seria mero detalhe. “Com as mais velhas aprendi um dos grandes segredos da vida: felação sem dentes – prazer maior só ao matar aula de história!”, ele costumava dizer aos amigos durante o futebol no Buracão.

Aos 18 anos, em sua primeira viagem a São Paulo, tomou duas decisões que chocaram a sociedade maringaense: não tirou fotos no Beco do Batman e não foi ao MASP. “Se não vou aos museus em Maringá, não vou aqui também, né? E quanto a essa marca na parede, prefiro a que tem lá perto do Avenida Center: ‘Galvão Bueno frequenta boate gay no RJ’”, ele relatou a dona Isabel, avó de sua vizinha, parceira dele na viagem à capital paulista e de otras cosítas más.

Em 2017, aos 28 anos, o jovem amante das experiências – e das experientes – começou a se arrepender das escolhas passadas. Após ter tentando psicoterapia (“Desisti. As três muito novas, com menos de 55 anos”), descobriu por si só que já não se orgulhava dos 37 shows do Jorge e Mateus que vira entre 2008 e aquele ano na Expoingá. Percebeu, também, que tinha alguma fixação por mulheres mais velhas, mesmo que não ficasse com elas por mais de três meses. Notou, por fim, que não vinha sendo um bom pai para John Rambo, o filho que tivera com dona Mina, a diretora do colégio em que seu irmão caçula estudava. “Uma ótima mulher. Muito bom saber que o pequeno guerreiro vai poder se divertir com o walkman e a máquina de escrever que a mãe dele tem desde que ela tinha 29 anos, mas eu sou péssimo pai. Nada mais justo que nem ela e nem ele falem comigo. É por isso que nem penso em fazer o segundo, o Arnold.”

Certo dia – era janeiro de 2018 – tomou uma decisão ao acordar. “Vou namorar a primeira mulher que aparecer na minha frente hoje.” Como se esquecera de que morava com a mãe, já que sem emprego há anos, qual não foi sua surpresa ao ouvir a genitora lhe dando bom dia. “Ok, não a primeira mulher. Quero dizer que podem ser fêmeas mais novas. Já foi o meu tempo de professoras Matilde e Rosane, de dona Marta. Até nunca mais, tia Maria – ó mestra dos apaixonados que te encontravam a partir das 20h sempre em frente à Pernambucanas! Sou um novo homem.”

Foi por esse período que conheceu Heluisa e Simone. A primeira, professora de inglês e viciada em sexo; a segunda, vendedora de uma concessionária Honda e também apreciadora dos prazeres da carne. Por motivos que nos fogem, ele começou a sair com a teacher. Durante três meses, foi feliz com Heluisa, de 33 anos. Frequentaram motéis de Maringá (ela sempre pagando a conta), assistiram à filmografia de Sylvester Stallone (“Até que gostei do Rambo II: A Missão, Jhony, embora seja um filme machista que só poderia ter sido dirigido e escrito por um homem”) e fizeram viagens juntos para Paiçandu e Sarandi.

Um dia, sem mais nem menos, Jhony deu fim à fela… relação. “O problema sou eu, Heluisa. Eu não tenho emprego, moro com minha mãe, além de ter um filho.” Ela, resignada, não protestou, deixou apenas um registro. “Homem é homem: sempre lixo.”

Pouco tempo depois, e por motivos que mais uma vez nos fogem, Jhony começou a sair com a outra. Durante três meses, foi feliz com Simone, de 27 anos. Frequentaram motéis da região (ela sempre pagando a conta), assistiram à filmografia de Arnold Schwarzenegger (“Até gostei do Exterminador do Futuro II: O Julgamento Final, Jhony”) e fizeram viagens para Marialva e Mandaguari.

Um dia, sem mais nem menos, o canalha decidiu dar fim à… Não, antes disso, sem dinheiro e querendo voltar ao passado, às experientes, – ai, que saudades da tia Maria! – Jhony percebeu que precisava de grana: R$ 180, mais especificamente. Não queria acionar a mãe dele, nem a mãe de John Rambo. As outras namoradas já haviam morrido – todas por causas naturais. Mas havia Heluisa: a moça que sabia usar a língua como poucas. A inglesa (“Os dentes branquinho, todos na boca dela. Gosto não”).

Era manhã de domingo. Em desespero, abriu o WhatsApp. “Oi Helu, td bem? Escuta vc tem por acaso 180 reais pra emprestar? Hj é aniversário do meu filho, eu gostaria de dar um presente pra ele, bjos e brigado!!” Ela visualizou a mensagem, lembrando-se que Jhony dissera não ter contato com John Rambo. Era uma mentira deslavada. “Jhony, eu A-D-O-R-O você, mas não. Ok? I hope you understand. Feliz aniversário ao pequeno guerreiro. Um beijo.” E colocou uma carinha de sorridente ao final.

O plano inicial foi por água abaixo, mas Jhony não desistiu. Optou, então, por não se separar de Simone. Ela poderia quebrar esse galho, emprestar R$ 180, não faria diferença. A moça tinha carteira assinada, vale-alimentação, andava em uma CG 125. Um dia fora, para se reencontrar com o seu passado, que mal teria? Decidido, fez a solicitação. Simone atendeu-o. Jhony – ele não desiste? – foi além. “Benzinho, você pode me emprestar outro capacete também? Pra passear com o piá.” Simone serviu ao amado, toda contente.

Jhony, que não sabia exatamente a data de nascimento de John Rambo – a de Sylvester Stallone sim: 06/07/1946 – pegou a moto e foi até o Parque do Ingá. Passou o dia lá, estacionado. Às 20h em ponto, montado na CG, encaminhou-se em direção à Pernambucanas da Avenida Brasil. Estava nervoso, ansioso: o passado, logo ali, chamava-o. Talvez por isso não tenha visto o sinal vermelho e furado o semáforo no cruzamento entre as avenidas São Paulo e Brasil. Em alta velocidade, uma Hilux tocando – veja só, a ironia – Jorge e Mateus acertou a moto financiada em 48 vezes.

Morreu perto do Avenida Center, o Jhony. E apesar da tristeza que a história possa causar em alguns leitores, houve testemunhas que disseram ter visto no rosto dele um sorriso enquanto o corpo sangrava no chão. Não se pode ter absoluta certeza, claro, mas é muito provável que ele soubesse: quando chegasse ao cemitério, encontraria as professoras Matilde e Rosane, a merendeira dona Marta e também dona Isabel, sua companheira de viagem à capital paulista e, bem, você sabe, de otras cosítas más.

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