Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso site, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao acessar nosso portal, você concorda com o uso dessa tecnologia. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

24 de abril de 2024

CINE QUARENTENA #9 – HBO GO


Por Elton Telles Publicado 11/05/2020 às 13h24 Atualizado 23/02/2023 às 03h08
 Tempo de leitura estimado: 00:00

A seção “Cine Quarentena” já fez recomendação em variadas plataformas: Amazon Prime, Netflix, Mubi, SpCine Play, Belas Artes à la Carte, Telecine Play e Globoplay. Chegou a hora de sugerir filmes disponíveis para assistir na HBO Go.

Sinceramente, acho que o streaming da HBO é mais indicado para quem aprecia séries, uma vez que a emissora já produziu vários clássicos para a TV, como “The Sopranos” (1999 – 2007), “The Wire” (2002 – 2008) e “Game of Thrones” (2011 – 2019). Ainda assim, há alguns filmes interessantes no catálogo e aqui resenhamos três deles.

Em seu segundo longa-metragem, o magnífico “Domando o Destino” (2017), o que a diretora e roteirista Chloé Zhao propõe é a ficcionalização de uma história verídica. Até aí, não há novidade nenhuma, já que estamos habituados a assistir a várias produções baseadas em episódios reais. A grande sacada de Zhao – e deveras desafiadora – foi convidar as pessoas verdadeiras, que vivenciam essa história na realidade, para dividirem com o mundo diante das câmeras. E assim, o público é introduzido a Brady Blackburn, um jovem caubói que dedica a sua vida ao rodeio. Ele mora com o pai e a irmã mais nova em um rancho, onde a economia local gira em torno de produtos agrícolas e torneios ligados ao campo.

Brady, entretanto, sofreu uma lesão grave durante uma montaria, ficou em coma por semanas e está proibido de participar de rodeios. Para não se distanciar por completo de seu sonho, ele faz bicos como domador de cavalos para vaqueiros moradores da região. Mergulhado em um tom melancólico e emoldurado na fotografia entorpecente de Joshua James Richards, observamos os desejos do protagonista serem castrados por obstáculos que surgem casualmente na vida. “Temos que jogar com as cartas que temos; às vezes nossos sonhos não se realizam” diz o pai em um momento.

Há muitas qualidades que precisam ser reconhecidas em “Domando o Destino”, a começar pela delicadeza fundamental que perpassa esta história. Zhao dribla possíveis armadilhas emocionais e, consciente de seu espaço, dá origem a uma experiência sincera e comovente. O fato dos atores não-profissionais estarem interpretando a eles mesmos aproxima o espectador e engrandece o efeito fascinante de compaixão e reflexão que este filme tão simples é capaz de despertar. Outra vantagem do elenco é a crueza e a naturalidade das atuações, já que não presenciamos os maneirismos típicos e nem as marcações de método na personificação dos intérpretes.

É válido destacar que “Domando o Destino” não é um documentário encenado, é puramente uma ficção, apesar das condições de sua realização. Pela estrutura narrativa que se apresenta e pelo o que se alcança com ela, sem dúvidas, este é um dos filmes mais fascinantes do cinema recente.

“Garotos de Programa” (1991) é um dos melhores filmes com a assinatura do cineasta Gus Van Sant, dono de uma filmografia instável, e muito interessante por este mesmo motivo. A trama é focada em dois jovens que trabalham e vivem nas ruas: o sociável Scott (Keanu Reeves) leva uma vida desajustada por opção para irritar o pai milionário, enquanto Mike (River Phoenix), abandonado pela mãe, encontrou na prostituição o seu miserável sustento. Rodeado por companheiros sem-teto, o roteiro acompanha as perambulações da dupla em diferentes cidades, as desventuras com os clientes e a busca por um lugar no qual eles possam se sentir acolhidos. Evitando transformar a situação em uma tragédia ininterrupta, Van Sant alcança leveza e sensibilidade no seu registro, ocasionalmente recorrendo ao humor para aliviar as condições de desamparo em que vivem os rapazes. E assim, concebe um filme honesto, bastante autoral pela narrativa “descompromissada” e carinhoso, como evidencia o seu latente espírito de proteção.

Reeves está ótimo em cena, mas é a ingenuidade e a gentileza personificadas em Mike, de River Phoenix, que faz o coração do espectador sangrar. Há certas particularidades que intensificam a sua persona emblemática – e potencializam o desempenho desolador de Phoenix –, como o olhar perdido, a memória turva e o fato de sofrer de narcolepsia, um distúrbio que lhe causa um sono súbito e profundo – possivelmente seu mecanismo de defesa involuntário. Há muito o que ser descoberto sobre Mike, mas a direção e o roteiro afetuoso de Van Sant, como se preservasse a intimidade do garoto, respeitosamente compartilham poucas fagulhas de seu passado e de seus pensamentos; o suficiente para o público ser capturado.

A interpretação bonita e delicada de Phoenix lhe valeu uma unânime Copa Volpi de Melhor Ator no Festival de Veneza, e coroou o fim de uma carreira promissora, interrompida pela morte precoce. Em sua curta, porém calorosa contribuição ao cinema, “Garotos de Programa” se destaca como um de seus trabalhos mais especiais.

Todo o excesso é pouco para Liberace (1919 – 1987), instrumentista norte-americano que encantou plateias do mundo com suas composições no piano e os candelabros voluptuosos que ostentava em cima dele. Apelidado como “Senhor Espetáculo”, popularizou seu nome em diversas turnês, além do show residente em Las Vegas até meados dos anos 1980, quando faleceu por complicações da AIDS. Não só pelo talento e carisma que esbanjava em suas apresentações, Liberace também era conhecido pelo luxo, irreverência e pelo estilo de vida extravagante que levava, incluindo seus interesses amorosos, geralmente rapazes mais novos que o pianista “adotava” e permitia que morassem em sua mansão. Extremamente dedicado à carreira e à imagem, recorria a procedimentos cirúrgicos com a espontaneidade de se fazer um omelete pela manhã; outra prova de sua vaidade é o prazer de ouvir o seu nome em voz alta – proferido por ele próprio na maioria das vezes. Todas essas facetas do artista são bem exploradas em “Minha Vida com Liberace” (2013).

No entanto, o roteiro um tanto previsível, baseado no livro do ex-affair Scott Thorson – representado no filme por Matt Damon –, narra a trajetória de Liberace mediada pelo romance-relâmpago engatado com o rapaz. Na primeira metade, o espectador é acomodado no universo cintilante do biografado e acompanha o mar de rosas que é o relacionamento entre ele e seu admirador. Não demora muito para a relação demonstrar desgastes, enfraquecendo o laço do casal. “Minha Vida com Liberace” impressiona pela produção apurada, como o excelente e versátil trabalho de maquiagem e os figurinos arrojados idealizados por Ellen Mirojnick. Mesmo convencional, a história é contada de forma espirituosa pelo diretor Steven Soderbergh, a quem ainda é creditada a iluminação e a montagem do filme.

Todavia a alma de “Minha Vida com Liberace” pertence à atuação assombrosa de Michael Douglas no papel do personagem-título. O ator desaparece por completo como Liberace, em uma transformação impecável denunciada por voz, gesticulações e postura. Se o filme deixa a desejar em alguns aspectos, vale para conferir a provável melhor performance de Douglas em sua consagrada carreira na TV e no cinema.

Pauta do Leitor

Aconteceu algo e quer compartilhar?
Envie para nós!

WhatsApp da Redação
Geral

Cine Belas Artes tem sessão de clássico ‘Yellow Submarine’ com trilha sonora ao vivo; saiba mais


O cinema REAG Belas Artes, em São Paulo, realizará uma sessão de Yellow Submarine com trilha sonora tocada ao vivo…


O cinema REAG Belas Artes, em São Paulo, realizará uma sessão de Yellow Submarine com trilha sonora tocada ao vivo…

Geral

Mãe e filho suspeitos de duplo assassinato em Mato Grosso se entregam à polícia


A pecuarista Inês Gemilaki e o filho dela, o médico Bruno Gemilaki Dal Poz, apontados como autores de um duplo…


A pecuarista Inês Gemilaki e o filho dela, o médico Bruno Gemilaki Dal Poz, apontados como autores de um duplo…