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23 de abril de 2024

O QUE EU VI NO FESTIVAL VARILUX 2019


Por Elton Telles Publicado 20/06/2019 às 19h52 Atualizado 23/02/2023 às 02h18
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Por conta da cobertura do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, eu não consegui acompanhar com afinco o Festival Varilux de Cinema Francês, que chegou neste ano em sua 10ª edição. Já dá para incluir o Varilux no calendário anual das redes exibidoras, pois o evento virou basicamente uma tradição e só cresce a cada ano em número de espectadores.

A seleção, no entanto, nem sempre é das melhores, porém é interessante por abarcar diferentes gostos e públicos, uma vez que mescla sucessos comerciais ou filmes com DNA próximo ao hollywoodiano e títulos franceses mais autorais, alguns deles exibidos em festivais renomados.

Abaixo, breves comentários dos filmes que eu consegui assistir da programação do Varilux 2019.

ATRAVÉS DO FOGO
Direção: Frédéric Tellier
Que filme triste! A trama é sobre um jovem e recente pai de família que passa no teste para ser Chefe de Operações da Brigada de Bombeiros em Paris. Em uma de suas primeiras missões, é aprisionado por um incêndio, o que lhe deixa consequências severas em sua vida. “Através do Fogo” narra, com uma câmera vagarosa e clima melancólico, a lenta recuperação do rapaz, cuja história é inspirada em um episódio verídico. O destaque é a forma cadencial e respeitosa que o diretor Frédéric Tellier conduz a narrativa, evitando consultar a cartilha do “filme de superação”. Também contribui para a emotividade do longa o bom desempenho de seu protagonista, Pierre Niney, um dos atores mais badalados da atual cinematografia francesa.

 

INOCÊNCIA ROUBADA
Direção: Andréa Bescond, Eric Métayer
Mesmo com alguns deslizes perceptíveis, não se pode diminuir a coragem de se produzir um longa como “Inocência Roubada”. A começar pelo assunto naturalmente espinhoso: pedofilia. Em segundo, pela audácia dos diretores em intercalar a temática com uma proposta bem incomum (a dança), criando um retrato impressionante de como o abuso na infância é encarado pela vítima na fase adulta. Trata-se de um filme bem diferente, que assume os erros e acertos de uma escolha narrativa que, pelo menos, foge do convencional. No fim, o balanço é de um resultado favorável. O trabalho de montagem assinado por Valérie Deseine é um show à parte, pois não só rende dinamismo e proporciona rimas visuais interessantes, mas se coloca em total sintonia com o enredo.

 

MEU BEBÊ
Direção: Lisa Azuelos
Relação entre uma mãe amigável com a filha adolescente que acabou de ser aceita em uma universidade no Canadá. Enquanto a garota continua na França, elas tentam aproveitar o tempo juntas, entre suas similaridades e diferenças. Só muda mesmo a nacionalidade e o nome das personagens, pois já vimos vários filmes como este “Meu Bebê”. O que compensa neste exemplar é que tem a presença radiante de Sandrine Kiberlain em uma atuação cômica e pouco habitual em sua filmografia. Ela e a jovem Thaïs Alessandrin – filha real da diretora Lisa Azuelos – dividem momentos de convincente ternura entre mãe e filha, pois fora isto, o roteiro é bem mais do mesmo e os flashbacks da história soam intrusivos na maior parte do tempo. Vale mesmo pelas atrizes.

 

GRAÇAS A DEUS
Direção: François Ozon
Em tom próximo do documental, o prolífico cineasta François Ozon enfoca “Graças a Deus” nas feridas ainda expostas de três vítimas de abuso sexual na infância por um clérigo francês. Desconhecidos entre si, estes homens ficam indignados com o fato do mesmo padre ainda estar desempenhando papel na igreja com crianças. Diante das várias denúncias de abuso, a Igreja Católica, por interesses e para evitar escândalos, escolheu manter o trabalho sacerdotal do padre pedófilo. O caso retratado no filme é baseado em um episódio real, tendo apenas trocado os nomes dos envolvidos. O protagonismo da história é atribuído a um ótimo trio de atores (Melvil Poupaud, Denis Ménochet e Swann Arlaud), que confere boa dramaticidade. O problema de “Graças a Deus” reside na frieza que embala a trama, além de um roteiro desnecessariamente prolixo. Há revolta e desconforto, mas não há tanto envolvimento, pois não se trata infelizmente de um projeto convidativo. O Urso de Prata recebido em Berlim me faz crer que a seleção do festival deste ano não estava entre as melhores.

O PROFESSOR SUBSTITUTO
Direção: Sébastien Marnier
O mundo está doente. Essa é a principal constatação do angustiante “O Professor Substituto”. Após um professor cometer suicídio durante a aula para um grupo de alunos superdotados, chega Pierre para assumir o posto. Ele estranha a turma, que lhe recebe com desconfiança de sua capacidade intelectual. Certo dia, o professor substituto descobre que esses mesmos estudantes estão envolvidos em uma série de atividades sinistras fora do âmbito escolar. Aos poucos, o filme vai assumindo um clima inesperadamente sombrio e de caráter surreal, violento e enigmático. Nem todas as respostas são dadas pelo roteiro, o que torna a produção ainda mais intrigante. O diretor Sébastien Marnier merece uma estrelinha dourada pela habilidade de comandar “O Professor Substituto”, um projeto inusitado e extremamente atual.

 

AMOR À SEGUNDA VISTA
Direção: Hugo Gélin
E se você acordasse em um mundo que não lhe pertencesse? É isso o que acontece com o escritor Raphaël após uma briga com a esposa. Na realidade paralela, ele é um fracassado professor e ela, uma pianista de renome. Para voltar ao que era antes, ele vai tentar reconquistá-la. Fusão de “Feitiço do Tempo” (1993) com “Um Lugar Chamado Notting Hill” (1999), “Amor à Segunda Vista” é uma comédia romântica inspirada que bebe da fonte do cinema comercial hollywoodiano, tanto no posicionamento e resoluções da trama quanto ao verniz açucarado que dá acabamento ao filme. Trata-se de um bom e atraente passatempo, liderado pelo casal François Civil, que revela um preciso timing cômico, e a apaixonante Joséphine Japy. Também merecem menção a ótima participação de Benjamin Lavernhe e a trilha sonora incidental.

 

FILHAS DO SOL
Direção: Eva Husson
Concorrente à Palma de Ouro no Festival de Cannes, o drama de guerra “Filhas do Sol” é ambientado no conflito do Curdistão, onde Bahar lidera um batalhão composto por mulheres soldadas. Alternado com flashbacks, a trama centraliza na esperança de Bahar em se livrar dos extremistas e encontrar o filho pequeno que foi obrigada a abandonar para assumir a dianteira do grupo. “Filhas do Sol” ganha intensidade pela boa atuação de Golshifteh Farahani, de quem emprestamos o olhar atento para assistimos ao horror da trama. Entretanto, o mesmo alcance dramático não vemos nas tentativas da diretora Eva Husson, que opta pelo conforto e se limita a buscar maiores pretensões, resultando em um filme com bom discurso, mas artisticamente inócuo e esquecível.

 

BOAS INTENÇÕES
Direção: Gilles Legrand
Mesmo defendendo uma personagem por vezes irritante, a ótima Agnès Jaoui preenche os espaços vazios com benevolência no feel good movie “Boas Intenções”. Ela interpreta Isabelle, uma professora de francês em um centro social para refugiados. No entanto, com seu espírito competitivo, ela acaba misturando as bolas e sendo mais do que uma professora aos necessitados, o que causa inevitáveis confusões em sua vida pessoal. O roteiro brinca com fogo em alguns momentos quando comenta sobre a origem dos estrangeiros, ainda temperando os comentários com o típico descaso francês, mas há boas piadas e situações no restante da projeção a ponto de o espectador se deixar envolver pela história um tanto irregular. No fim das contas, “Boas Intenções” é um filme de coração quente.

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