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16 de abril de 2024

Um João, e outras tantas “Marias”


Por Gilson Aguiar Publicado 17/12/2018 às 10h20 Atualizado 19/02/2023 às 09h49
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O médium João de Deus está estampado em vários meios de comunicação em todo o país. Ele abusou de centena de mulheres em mais de 40 anos de liderança religiosa. A cada dia, mas denúncias contra o líder religioso surgem. Fatos que abalaram a pequena cidade de Abadiânia, no interior de Goiás, onde ele recebia seus fiéis.

Mas João de Deus não é algo tão incomum assim. Ele é mais comum do que se imagina. Muitos “Joãos” praticam abusos nos mais variados lugares e funções. Personagens que deveriam proteger e respeitar pela função que exercem, mas que, exatamente por isso, tem acesso mais fácil a intimidade feminina.

Porém, há o culto ao machismo, ao poder masculino. A imposição do modelo do homem impositor. A que se lembrar de que muitas das mulheres, educadas pela lógica da supremacia do macho, educam suas filhas para serem presas fáceis destes tais “Joãos”. Quantas “Marias” não foram abusadas e violentadas? Agredidas moralmente elas se calam diante do temor da represaria interna. Da vergonha exposta. Da lógica da provocação concedida.

Mas em vários lugares estes senhores do abuso se constroem. Eu mesmo já presenciei alguns discursos legitimadores do machismo podre e hipócrita. Um deles, dentro de uma instituição de ensino superior, um professor, doutor, em meio a colegas de trabalho, alguns advogados, comparava os homens e mulheres com chaves e fechaduras.

Ele dizia que o bom homem é como uma chave, que várias fechaduras abrem. Já, a boa mulher, e como uma fechadura, que apenas uma chave abre. Esta é a retórica que constroem nos abusadores a certeza que não serão denunciados. A lógica medíocre e reducionista que permite agredir.

O grande problema de se combater a violência contra a mulher é entender onde se alimenta a educação aos excessos. O professor universitário, aparentemente qualificado, estava rodeado de colegas de trabalho que, em parte, concordaram com sua pobreza de raciocínio. Exatamente os profissionais que formam quem deveriam combater este tipo de prática.

Por isso, João de Deus não é uma aberração. Ele é apenas a demonstração monstruosa de uma prática cotidiana, impregnada e que deve ser combatida intensamente.

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