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25 de abril de 2024

Uma festa danada


Por Elton Tada / Passeio Publicado 24/02/2020 às 18h00 Atualizado 23/02/2023 às 22h55
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Um homem, um ser humano como eu e você, fez uma declaração que deixou muita gente brava. Acontece que esse homem é ministro da economia do Brasil. Acontece que ele criticou uma classe que é muito ampla e historicamente muito injustiçada, a classe das empregadas domésticas. Quantos de nós, brasileiros e brasileiras, não fomos criados com a renda de uma mulher, uma mãe, uma avó, que se dispõe a limpar a casa dos outros em troca de um pagamento? Apenas recentemente essa profissão foi regularizada, mas mesmo assim existem inúmeras formas de informalizar esse trabalho para evitar as despesas trabalhistas.


Para quem não estava presente nesse mundo nos últimos dias, o ministro disse que há algum tempo tinha até “empregada doméstica indo para a Disney. Uma festa danada”. E o fulano se desculpou pela metade, dizendo que sua frase foi tirada de contexto, mas o contexto é ainda pior, ele estava tentando justificar a alta astronômica do dólar no governo atual, dando exemplos do turismo. Acontece que esse ministro não é burro. Ele sabe o que faz. E, se o sabe, o faz por bem querer. Acho que não lhe falta alguma inteligência, mas lhe falta muito coração.


Mas, tudo isso já era esperado desse ministro e desse governo. Não me surpreende em nada. Quero falar sobre o que me surpreende, pois isso sim nos interessa, e muito. Eu quis – e quero, talvez, entender – porque os outros pobres do Brasil não se sentiram ofendidos e não estão lutando contra essa declaração do ministro. Mas, quem são os outros pobres? Nós, ora bolas, os assalariados e assalariadas. Nós, que temos nosso sustento, nossa vida e sua qualidade, nossa subsistência e nosso pequeno conforto, dependentes do salário que alguém paga por nossa força de trabalho.


O brasileiro médio sofre de uma cegueira curável, mas que há muito não vem sendo tratada, a ponto de se tornar uma doença tão crônica que é quase imperceptível. Nós sofremos da dificuldade de perceber onde estamos na cadeia alimentar do capital, qual é o lugar que ocupamos, em que andar estamos na pirâmide social. O que posso dizer é que todos nós assalariados estamos muito próximos da condição remuneratória das empregadas domésticas. A média dos salários na indústria, no comércio, na agricultura e na construção civil não desvia muito do que recebe uma doméstica, algo entre um e dois salários mínimos.


Se as pessoas que recebem um pouco mais querem se esquivar dessa situação dizendo que esse não é um problema seu, sinto muito, mas essas pessoas não possuem sangue nobre. Quem ganha cinco, dez, ou vinte salários, ainda assim é um assalariado, que vende sua força de trabalho por menos do que ela de fato vale. Existe vacina para essa picada da mosca azul, e é simples, se chama consciência crítica. Uma pessoa que ganha vinte mil reais por mês no Brasil está em situação privilegiada, mas está bem longe da riqueza. Emula uma vida de luxo com um pequeno rei na barriga, sem perceber que se por algum motivo seu salário cessar, não terá mais a condição de vida e consumo que está acostumado, voltará à pobreza que é a condição de cada um de nós.


Talvez as empregadas domésticas tenham percebido agora que esse governo não as representa. Talvez os outros pobres tenham, por consciência crítica ou solidariedade, entendido que esse recado também foi pra eles. Talvez um dia viveremos em um país no qual a população não louva e despeja suas esperanças em seu rico algoz.


Mas, só talvez.

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