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19 de abril de 2024

A CONSAGRAÇÃO DA VIGILÂNCIA


Por Tiago Valenciano Publicado 26/12/2018 às 12h00 Atualizado 19/02/2023 às 12h20
 Tempo de leitura estimado: 00:00

O ano de 2018 ficou defintivamente marcado pelo protagonismo da vigilância em nossas vidas. Não, não estou falando do vigiar da vida alheia somente via redes sociais. Falo de uma vigilância como um todo, marcada excessivamente pelo o ver do outro e o querer ser/ter o que o outro é ou tem. Mas, como esta vigilância ocorre quase que naturalmente em nossas vidas?

Em “Vigiar e punir”, Michel Foucault já sinalizava como seriam os tempos da modernidade, com uma sociedade marcada pelo “olhar que vê sem ser visto”. Neste modelo societal, há uma espécie de luz projetada sobre o objeto que está sendo vigiado e, por sua vez, quem vigia tende a se tornar completamente invisível. Não seria este o comportamento essencialmente vigilante que adotamos na atualidade?

O primeiro exemplo deste comportamento são as redes sociais. Nelas vigiamos sem sermos vistos – ou com filtros, sendo que o vigiado pode (e quer saber!) quem o vigia. São nas redes sociais que sabemos tudo o que acontece com os outros e os outros sabem tudo o que acontece conosco. É através da conectividade, do mundo das nuvens virtuais que o real se torna passageiro, em que a localização do instagram ou check-in do facebook vale mais do que os sentimentos vividos em determinada viagem. São nestas redes que o enquadramento perfeito do eu, aliado, é claro, à marcação do lugar (via hashtag ou google maps) tem maior importância do que as pessoas que viajaram comigo.

E as câmeras de…vigilância? Protagonistas do nosso tempo, elas se tornaram integrantes da paisagem cotidiana. As placas “sorria, você está sendo filmado”, criadas para naturalizar nosso comportamento diante das câmeras foram passo a passo introduzidas em nosso dia-a-dia, quase que uma premonição para nos ambientar diante da vigilância extrema. Tanto é que estas placas praticamente sumiram. Até mesmo nas salas de aula, espaços dedicados à construção do saber, elas estão presentes. Já já chegarão aos banheiros.

O “mal do século” certamente não são os aparelhos celulares. Eles somente transformaram a fofoca e o saber da vida alheia das praças para o ambiente virtual. O experimento em massa que marcou 2018 foi o compartilhamento de notícias e de fake news via whatsapp, a caixa preta das eleições gerais, em que a vigilância ocorreu ponto a ponto, pessoa a pessoa, celular a celular, quebrando um pouco a lógica da rede em que já estamos nos acostumando. Vilão da ceia do natal, das famílias reunidas nas fartas mesas de jantar, o aparelho celular foi o protagonista das informações, tanto para produzir a fofoca, quanto para repassar em tempo real o que acontecia na minha família cada vez mais virtual.

A culpa não é da geração. A culpa não é de um aparelho de telefone que faz quase tudo – menos ligações. É a natureza humana, marcada pela vida em/na sociedade que apenas ganhou um meio fácil e ágil para institucionalizar a vigilância prevista por Foucault. Que em 2019 a sensação de vigilância extrema possa diminuir e, da mesma forma, a vontade de fugir para uma ilha deserta possa passar em tempos cada vez mais vigilantes…

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