Elvis Presley era fã de histórias em quadrinhos, especialmente Capitão Marvel Jr. (hoje chamado de Shazam Jr.). Seus macacões de gola alta, que ganharam capas a partir de 1971, eram inspirados no seu personagem favorito. No palco, na metade final de sua carreira, ele não estava fazendo passos de pop ou rock, mas caratê. Até quando ele cantava, era música de super-herói, como bom rebelde que era. Pelo menos, é o que pensa Baz Luhrmann, que estruturou seu Elvis como uma história de super-heróis, em que o cantor tem um antagonista claro: seu empresário, o Coronel Tom Parker.
“Está no DNA dos super-heróis terem muitos defeitos e terem sua kriptonita”, disse o cineasta em entrevista ao Estadão, por telefone, da Austrália. “Se Elvis é Superman, o Coronel Tom Parker é seu Lex Luthor, a sua kriptonita, que o leva ao chão. Os super-heróis amplificam nossas fraquezas e defeitos e provavelmente também nossas melhores partes.”
Elvis mostra como o Coronel Tom Parker (interpretado por Tom Hanks) viu no artista (vivido por Austin Butler) uma maneira de ganhar muito dinheiro. Mas, se auxiliou seu sucesso, também acabou limitando seu potencial artístico, fazendo com que se comprometesse com uma carreira cinematográfica pouco empolgante, por exemplo. O Coronel Tom Parker é um personagem misterioso, que fugiu da Holanda por motivos desconhecidos e que não era um coronel nem se chamava Tom Parker.
VERDADE OU FICÇÃO
“É uma das maneiras de contar a história. Nem os documentários são a verdade absoluta”, explicou Luhrmann, que se inspirou na estrutura de Amadeus, o longa de Milos Forman de 1984, vencedor de oito Oscars. “O filme fala da relação de Mozart e Salieri e pega o espírito do personagem principal para abordar algo maior, no caso, da inveja”, disse o cineasta. “Elvis, no fim das contas, trata da nossa relação com nossos ícones, de como queremos que sejam super-heróis ou deuses e ficamos um pouco desapontados quando eles são apenas seres humanos cheios de defeitos.”
Para fazer Parker, esse personagem que, por meio de uma narração, tenta se isentar de qualquer culpa na trajetória trágica de Elvis Presley, morto aos 42 anos de idade, Luhrmann apostou em Tom Hanks, que costuma fazer papéis de bons moços e é considerado um dos caras mais legais de Hollywood.
O diretor acha que essa é a principal razão por sua performance ter angariado algumas críticas. “Tom estava muito animado de fazer algo em que não fosse o pai favorito dos americanos”, disse Luhrmann. “Ele foi o ‘sim’ mais rápido que tivemos. Eu contei a história do coronel, e ele disse: ‘Se você me quiser, sou o cara certo para o trabalho’.”
Baz Luhrmann admite que não quis decepcionar nem a família nem os fãs do artista. “Ele tinha seus defeitos, mas fez coisas incrivelmente lindas. Era um unificador, não um divisor”, disse o cineasta. “Parte de suas histórias perderam-se no cara gordo de macacão branco, inclusive a de que não existiria Elvis Presley sem a música negra.” Elvis, que ele descreve como um filme para cinema que exige a participação do público, é uma maneira de resgatar essas narrativas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.