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18 de abril de 2024

Covid-19: ‘Como não sabemos como cada um irá evoluir, tememos, e muito’, diz médico de Maringá


Por Monique Manganaro Publicado 07/07/2020 às 18h19 Atualizado 24/02/2023 às 17h31
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“Por mais que nos cuidemos, com as medidas preventivas conhecidas, há a chance de sermos infectados. Como não sabemos como cada um irá evoluir, tememos, e muito. Estamos tensos e insones há meses. Além de lidarmos com a doença, muitas vezes temos de lidar com a ignorância de familiares e de outros colegas, que negam a gravidade da Covid-19 ou exigem tratamentos ineficazes. Ter que ouvir de um médico (com máscara N95 no rosto) que a pandemia é uma fraude, enquanto outro colega está prestes a ser entubado na ala Covid, demonstra os tempos confusos e difíceis em que estamos vivendo.”

Leia o relato do médico hematologista Francismar Prestes Leal, que atua na linha de frente do combate ao coronavírus em Maringá
Foto: Reprodução/Facebook

O relato é do médico hematologista Francismar Prestes Leal, que atua na linha de frente do combate ao coronavírus em Maringá. Ao GMC Online, o profissional falou sobre o medo que as equipes de saúde enfrentam todos os dias ao se depararem com uma doença totalmente nova e com reações inesperadas. 

“Tenho medo, sem dúvida, assim como a maioria dos colegas da linha de frente. Temos famílias que dependem da gente e que podemos infectar. Os hospitais são os locais de maior risco de transmissão, especialmente as unidades de atendimento aos pacientes com Covid, onde também trabalho”, afirmou. 

Segundo Leal, com o pouco que se sabe até o momento sobre a covid-19, os médicos ainda trabalham com muitas incertezas. “Trata-se de uma nova doença, com apresentações clínicas muito variadas, muitas das quais inesperadas, apesar do coronavírus ser conhecido há bastante tempo. O novo coronavírus, contudo, tem causado uma doença (covid-19) cuja evolução é ainda ‘misteriosa’ (imprevisível) para a maioria dos médicos – o que dizer para os leigos, então -, sendo que qualquer órgão ou sistema orgânico pode ser acometido. Já vimos de tudo, literalmente, de assintomáticos, oligossintomáticos (‘parece uma gripe comum’), até pacientes com rápida evolução para insuficiência respiratória, falência de múltiplos órgãos e morte em poucos dias”, relatou. 

A população exposta, independentemente de sexo, idade, ou condição social, está suscetível à má evolução da doença. Conforme destacou o hematologista, não é possível prever quem vai reagir bem ou mal após ser infectado.

“Muitos idosos com comorbidades sobreviveram à covid grave, assim como muitos jovens sem qualquer outra doença sucumbiram. Obviamente, os mais frágeis são mais suscetíveis à doença, inclusive às suas formas mais letais, mas parece haver outros fatores envolvidos, que ainda não entendemos direito”, disse. 

De acordo com ele, com base em estudos recentes, especialistas encontraram possíveis sinais de que pessoas com determinado tipo sanguíneo poderia desenvolver a doença.

“Parece haver associação entre o tipo sanguíneo e a suscetibilidade à infecção pelo SARS-CoV-2 e à insuficiência respiratória por covid. Pessoas com o tipo sanguíneo A teriam maior chance de ‘pegar’ o vírus e de desenvolver a doença, enquanto que indivíduos do tipo O teriam menor chance, mas há necessidade de mais estudos. Apesar do desespero natural diante do desconhecido, o que é o caso (estamos aprendendo dia após dia), a ciência tem lutado muito para estabelecer um tratamento eficiente para a covid, que ainda não existe, assim como uma profilaxia medicamentosa”. 

Foto: Reprodução/Facebook

Sem recursos efetivos e com plena eficácia, a classe médica trabalha com o que tem ao alcance. Segundo Leal, a partir do que vivenciou, pode perceber que o suporte clínico administrado por boas equipes de saúde tem salvado muitas vidas.

“A automedicação que tem ocorrido, estimulada inclusive por médicos (que não seguem a cartilha da medicina baseada em evidências, o que neste momento já não é tão aceitável, uma vez que o corpo de evidências nos permite descartar alguns tratamentos que não funcionam em certos cenários), certamente não ajuda. Pelo contrário, a automedicação pode atrasar um cuidado médico adequado. Até que alguma vacina eficaz esteja disponível, a arma mais forte contra essa pandemia segue sendo a tríade ‘higiene, máscara e distanciamento’”, alerta o profissional. 

Quando questionado sobre a realidade maringaense diante do novo coronavírus, Leal afirmou que a cidade se difere em relação aos demais municípios brasileiros. Mesmo diante de cenários mais tranquilos que possam surgir, ele reforçou que não é hora de flexibilizar.

“Há momentos de calmaria e outros de correria, mas estamos, aparentemente, numa situação um pouco menos alarmante, o que não significa que não possa piorar. Se nos descuidarmos, a pandemia avançará mais rapidamente, podendo ‘pressionar’ os recursos de saúde que temos. Não sou epidemiologista, entretanto. Resta-me dizer que devemos manter as medidas de prevenção já conhecidas. Compreendo que a economia está desabando, que há desemprego, fome e outros sofrimentos tantos relacionados ao isolamento social, mas não entendo desse assunto, entendo de tratar quem está doente e precisa de mim. Cabe aos que nos governam buscar um caminho que salve o maior número de vidas, ‘físicas e jurídicas’”, acrescentou. 

Para o médico hematologista, o desempenho brasileiro diante da crise do novo coronavírus não permite qualquer previsão sobre o pico da pandemia. “Não sei. Talvez nosso pico seja um platô longo, talvez venham vários pequenos picos, até que a vacina surja. Acredito, porém, que a pandemia se estenda por todo este ano. Espero estar errado.” 

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