Maringá: uma cidade militarista?
No fim de 2018, um veiculo militar transitava pelo centro da cidade. Regularmente, todos os dias. Não era um anuncio de golpe, muito menos uma operação: era um automóvel utilizado para o passeio de natal. Em vez de soldados armados, famílias munidas com celulares. Mas de longe dava para ver a cor verde-oliva do caminhão REO modelo de 1963.
Mesmo que simbolicamente, o veiculo faz parte de um movimento de avanço do militarismo pelo Brasil. Nem mesmo Maringá está fora disso. Repare: com mais de sete décadas de vida, somente agora a cidade recebeu dois colégios militares – um público; um privado. Além disso, a Prefeitura quer armar a Guarda Municipal, e há coronéis da reserva da PM na gestão do executivo municipal – e sem contar, claro, o caminhão verde-oliva no Natal.
O prefeito Ulisses Maia, do PDT, em mais de uma ocasião em que a CBN esteve presente, ressaltou o fato de ter três militares em seu governo. São os secretários de Patrimônio, Controladoria Geral e Segurança Pública.
Em uma visita do comandante da 5ª Região Militar do Exército a Maringá no fim do ano passado, ele até brincou. Disse que tinha sido mais rápido que o então presidente eleito Jair Bolsonaro na utilização de militares no primeiro escalão.
No começo deste ano, questionado pela CBN se a gestão era adepta ao militarismo, Ulisses Maia disse que não. Os coronéis foram escolhidos pela competência, disse.
“A questão não é estar sendo militarizada. No que diz respeito à prefeitura, o que nós fizemos foi aproveitar na nossa equipe de técnicos que nós montamos quando assumimos, três militares.O coronel Carstens para cuidar das nossas licitações de todo o almoxarifado do município, o coronel Lage que está na Controladoria Geral, que coordena e fiscaliza todas as ações da administralção, e o coronel Padilha na Secretaria da Segurança Pública. São pessoas renomadas, que fizeram um grande trabalho na Polícia Militar”, afirmou o prefeito.
A gestão atual do executivo municipal começou em 2017. E até o meio do ano passado, não tinha uma secretaria específica para a segurança pública. Agora tem. A pasta foi criada e tem R$ 18 milhões no orçamento em 2019.
Entre as atribuições dela estão a gestão da Guarda Municipal e a integração das forças de segurança. O comando é de Antonio Padilha, coronel da reserva da Polícia Militar que atuou por anos no 4º Batalhão.
Ele avaliou que a prefeitura não está militarizada. Figura bem aceita no alto Comando da Polícia Militar, Padilha falou sobre a chegada dos colégios militares em Maringá. A sociedade quer mais respeito, e esse tipo de escola pode auxiliar, avaliou em entrevista à CBN Maringá.
“Nós trabalhamos com a criança e o adolescente princípios que vemos que ao longo dos anos se perderam no Brasil. Principalmente a questão do respeito aos mais velhos e às autoridades”, afirmou.
Há poucos dias o projeto para armar a Guarda Municipal entrou em pauta na Câmara de Maringá. E lá o debate vai ter alguma resistência. A casa tem dois vereadores do PT. Um deles é Carlos Mariucci, presidente da sigla em Maringá. Ele não vê um avanço do militarismo na cidade. Quanto aos colégios militares, ele imagina que vai ser bom para educação e disciplina. Em relação ao armamento da Guarda, Mariucci falou que vai ter debate inclusive com o prefeito, se for o caso.
“É uma tema que realmente tem que ser muito discutido. Não só o partido dos trabalhadores, mas eu, particularmente, também entendo que o armamento não tráz segurança, mas, sim, desequilíbrio. Mesmo os guardas municipais, se não tiverem muito bem preparados, não tem lógica, você acaba trazendo complicações para a sociedade”, defende.
Ulisses Maia foi eleito como grupo de oposição a Silvio Barros. Na eleição, contou com apoio do PT, mesmo que de forma não declarada. Historicamente, o Partido dos trabalhadores não é favorável ao militarismo, à militarização ou algo do gênero. Questionado se o fato de ter militares no governo criaria algum embaraço com o Partido dos Trabalhadores, Maia disse que a gestão fica acima da ideologia.
Maringá ainda conta com escola de formação da Polícia Militar e também o comando regional da PM – além de outras forças de segurança.
