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24 de abril de 2024

JAIR BOLSONARO É ELEITO NOVO PRESIDENTE DO BRASIL


Por Folhapress Publicado 28/10/2018 às 22h12 Atualizado 18/02/2023 às 18h39
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Jair Messias Bolsonaro, 63, é o novo presidente do Brasil -o 42º da história e o 8º desde o fim do regime militar (1964-85). O deputado do PSL-RJ derrotou neste domingo (28) o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, do PT, segundo projeção do Datafolha sobre os resultados já apurados.

Bolsonaro liderou a mais surpreendente disputa eleitoral desde o pleito de 1989 a partir de agosto, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso desde abril por corrupção, foi declarado inelegível.

Haddad, plano B do PT que ocupava estrategicamente a vice de Lula antes de ser lançado candidato, conseguiu chegar ao segundo turno, mas nunca ameaçou a liderança do polêmico deputado.

Ele será o décimo sexto presidente militar da história e o terceiro a chegar ao poder pelo voto direto. Os outros foram Hermes da Fonseca, em 1910, e Eurico Gaspar Dutra, em 1945.

Dono de retórica agressiva e colecionador de polêmicas que lhe valeram pechas que vão de radical a fascista, é o primeiro eleito desde Fernando Collor (1989) a se declarar abertamente de direita.

Suas credenciais democráticas são questionadas constantemente, uma novidade em pleitos presidenciais também desde Collor.

A campanha teve diversos ineditismos. O mais notável foi o atentado a faca que Bolsonaro sofreu durante um ato em Juiz de Fora (MG), no dia 6 de setembro.

Atingido no intestino, o deputado quase morreu e ficou fora da campanha de rua até o fim da disputa.
Transformou o hospital e, depois, sua casa no Rio em quartel-general de onde gravava vídeos para a internet e recebia apoiadores.

A facada desorganizou a estratégia de seus adversários e permitiu a Bolsonaro não se submeter ao escrutínio de debates televisivos -participou apenas de dois deles no primeiro turno, antes do atentado, e preferiu ignorar o confronto com Haddad mesmo estando em condições clínicas na segunda etapa.

A derrota petista é danosa ao partido de Lula, que de todo modo logrou chegar ao segundo turno e elegeu a maior bancada na fragmentada Câmara dos Deputados. Comandando o eleitorado nordestino e mantendo cidadelas na região e no Congresso, o partido está logrou um triunfo relativo após anos de crise.

A eleição foi também um plebiscito sobre o legado do ex-presidente. Haddad era Lula, como dizia a propaganda petista no primeiro turno, convenientemente alterada para uma ideia fracassada de “Frente Democrática” para a disputa deste domingo.

Bolsonaro quebra uma série de quatro vitórias presidenciais petistas. Mais que isso, encimou um tsunami de direita na eleição, com a expulsão de diversos nomes da esquerda e da política tradicional do Legislativo e também com a ascensão de nomes novos nas disputas por governos de estado.

O antipetismo encarnado pelo deputado transformou os partidos conservadores tradicionais numa terra arrasada. O PSDB, que havia amealhado metade do eleitorado em 2014 e perdido por pouco para o PT, foi praticamente extinto em sua encarnação atual.

Diversos fatores concorrem para explicar o sucesso de Bolsonaro. Sua raiz está nos protestos de rua de 2013, quando o sentimento “contra todos” tomou conta do país e derrubou a aprovação dos principais governantes.

No ano seguinte, a Operação Lava Jato entrou no cenário político, varrendo o PT e aliados antes de chegar ao próprio PSDB.

Em 2016, a recessão comandada por Dilma Rousseff (PT) deu condições políticas para o seu impeachment, e após um sucesso parlamentar inicial, o governo sucessor de Michel Temer (MDB) afundou-se em uma crise política e ética sem fim.

A derrocada de Temer deu oxigênio ao PT, agarrado no discurso de que fora vítima de um golpe.
Ao fim, contudo, Haddad não soube criar um fio narrativo coeso para driblar a acusação de leniência com os erros e alienou aliados em potencial –como Ciro Gomes (PDT), que saiu em terceiro lugar no primeiro turno e recusou declarar voto no petista.

Se a negação ao petismo já era uma forma de protesto contra o sistema político como um todo, ela acabou creditada na conta de Bolsonaro, e não na de figuras tradicionais.

Sua ascensão meteórica foi largamente ignorada pelo mundo político até o fim do ano passado, quando a intenção de voto resiliente atrás de Lula o tornou foco de atenção.

Mas Bolsonaro estava na rua desde 2014. Ou melhor: estava na nuvem, no mundo virtual em que montou uma eficaz e bastante contestada estratégia de promoção.

O uso intensivo de multiplicação de mensagens por meio do aplicativo WhatsApp e a adesão ao recurso de comunicação direta por meio de redes sociais foram importados dos EUA –não por acaso, Bolsonaro se diz grande fã do presidente Donald Trump.

Assim como o americano, ele é acusado de disseminar fake news e desinformação, o que nega.

Em outubro de 2015, quando decidiu pela candidatura, ele começou a percorrer o país para apresentar-se como um improvável “novo”, mesmo sendo deputado federal desde 1991 –será o presidente com a mais longa trajetória parlamentar desde José Sarney.

Era recebido em aeroportos por pequenas multidões, que gravavam e divulgavam as imagens em tempo real. Ganhou a alcunha de “mito”.

Montado numa estrutura confusa e amadora, cercou-se de militares da reserva e conselheiros de setores conservadores, como ruralistas e evangélicos.

Seu verdadeiro núcleo duro, contudo, é a família. Bolsonaro tem quatro filhos adultos e uma filha de 7 anos. Os três mais velhos integram seu QG: o senador eleito Flávio (PSL-RJ), o deputado federal reeleito Eduardo (PSL-SP) e o vereador carioca Carlos (PSL).

Criou uma imagem inoxidável a críticas, cujo ambiente controlado e isolado após a facada ajudou a preservar.

O fato de enaltecer um torturador da ditadura, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, e o de ser réu por incitação ao estupro não foram suficientes para lhe tirar apoio. A promessa de “quebrar o sistema”, nas suas palavras, falou mais alto.

Apresentou um único fiador ao mundo dos negócios, o economista Paulo Guedes. Apesar das desconfianças da exequibilidade de suas ideias ultraliberais e do risco da dependência de um personagem demissível pelo presidente, ao fim o consenso entre analistas de mercado financeiro avaliou Bolsonaro como um nome mais benigno que o de Haddad.

Não foi um processo automático. Há um ano, a Folha entrevistou vários analistas voltados ao mercado e todos eram unânimes em apontar Geraldo Alckmin (PSDB) ou um representante do “novo” como favoritos na disputa –mas o “novo” na época nunca foi Bolsonaro.

Aos poucos e discretamente, eventos de bancos de investimento começaram a ter o deputado como estrela.

Sem atrair grandes empresários tradicionalmente associados à política, como empreiteiros, Bolsonaro começou a entusiasmar setores da economia mais próximos do sentimento popular na ponta, como pequenos empresários e donos de redes de varejo.

Desde 2017, um núcleo de generais da reserva liderado pelo já anunciado futuro ministro da Defesa, Augusto Heleno, começou organizar grupos de trabalho para desenhar o programa de governo.

Não sem surpresa, pouco se sabe de fato do que será proposto e, principalmente, de como será feita a mediação com um Congresso sem partidos fortes.

Insinua-se um acordo com o centrão, DEM à frente, para garantir a articulação de suas primeiras medidas. Como isso será negociado para evitar a ideia de adesão aos métodos que prometeu combater é algo ainda a ver, como de resto tudo no governo: é a primeira vez que a hegemonia PT-PSDB é quebrada desde 1994 em nível federal.

Seja como for, o processo não será simples. Bolsonaro já prometeu trabalhar em favor da pacificação do país, mas a disputa conseguiu ser mais polarizada do que a já conturbada vitória de Dilma sobre Aécio Neves (PSDB) em 2014.

Bolsonaro é descartado liminarmente por adversários, tanto que sua rejeição pública é expressa em termos pessoais: #EleNão é o mote da campanha e deverá permanecer no cenário político.

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