2019 chegou: vamos marcar aquela cerveja?


Por Victor Simião

Jair Bolsonaro tomou posse, o Queiroz meio que apareceu, mas aquela cerveja ainda não rolou. Quantos encontros prometidos em 2018 e nada? E em 2017? E em ad infinitum?

Das promessas que a gente faz para o ano novo, um das que fiz foi a de não dizer “vamos marcar aquela cerveja?” Também defini que, assim que alguém pronunciar tal frase para mim, amarrarei a pessoa ao meu corpo. Dessa forma, iremos juntos ao bar mais próximo para não só marcar como tomar a cerveja. Jurei a mim mesmo não me importar caso o estabelecimento só tenha Glacial e não toque Amado Batista na jukebox. O mais importante é fazer da possibilidade de agendamento um encontro real.

O que seria do mundo não fosse o “vamos marcar aquela cerveja?” que de fato foram marcadas? Charles Darwin talvez nunca tivesse ouvido falar sobre o Brasil, a Revolução Francesa não teria tido sucesso, meu tataravô não teria conhecido a minha tataravó – e, portanto, esta crônica não existiria.

Cervejas marcadas e realizadas evitam tragédias ou alterações negativas ao curso da História. O mito da Criação é um exemplo. Diz-se que a cobra deu uma maçã a Eva, que deu a Adão. Ele, ao ser questionado por Deus sobre o fato de ter comido a fruta da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, dedurou a mulher, que, por sua vez, entregou o animal.

Ouso dizer que se o encontro tivesse ocorrido num bar e não no Jardim do Éden ninguém teria dedurado ninguém. Para além disso, ao final os quatro – Adão, Eva, Deus e a Cobra – estariam abraçados, cantando “Evidências”.

O Pancho Blues, amigo de longa data que tem feito apresentações imperdíveis em Maringá, é um cara realista quanto a esse fato. Cinco anos atrás, mais ou menos, nos encontramos na faculdade. “Vamos marcar aquela cerveja?”, ele me disse. Nada aconteceu.
Três anos atrás nos encontramos novamente. Eu saia de um restaurante enquanto ele passava em frente. “Vamos marcar aquela cerveja?”, ele me disse. E, para variar, nada.

Três meses atrás, no Caverna 128, nos encontramos novamente. Pancho se apresentava no bar. Enquanto conversávamos durante uma das pausas do show, ele começou a fazer o já clássico convite quando se interrompeu. “Vamos marcara aquela… Não, não. A gente só fala isso e nunca marca. É melhor só a gente se encontrar por aí mesmo”, ele disse. E rimos.

O Pancho tem razão: se encontrar por aí, ao caso, é melhor do que dizer que vai marcar algo e não realizar o mínimo para isso. É ser honesto consigo mesmo, com o outro, com a vida. Mas, como é ano novo, período em que costumeiramente a gente se engana e diz para si mesmo que tudo será diferente, eu sinto que tudo será diferente.

Inspirado pela ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, profetizo: que o Tatá já separe o amendoim, a cerveja gelada e os dois microfones do karaokê porque o próximo que dizer “vamos marcar aquela cerveja?” será arrebatado ao estabelecimento que fica em frente à Acema. Amarrado a mim, cantaremos a plenos pulmões: “E nessa loucura de dizer que não te quero/Vou negando as aparências, disfarçando as evidências/ Mas para quê viver fingindo se eu não posso enganar meu coração?”.

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