Movimento negro realiza ato domingo, 7, mas teme retaliação


Por Creative Hut
Movimento negro realiza ato domingo, 7, mas teme retaliação

As recentes mortes do adolescente João Pedro, de 14 anos, no Rio de Janeiro, e a de George Floyd, nos Estados Unidos, tem duas coisas em comum. Ambos eram negros e foram assassinados pela polícia. Essas mortes, e outras que têm ocorrido no Brasil e no mundo, mobilizaram movimentos sociais em Maringá, que pedem o fim do extermínio das minorias negras e indígenas.

Eles marcaram um ato para domingo, 7, às 15h, na Praça da Catedral. A organização está com medo de retaliação. Isso porque a página deles no Facebook foi derrubada – e surgiram conversas de que pessoas poderiam ir até o local e causar tumulto.

Um dos motivos para haver essa interpretação é o fato de que no domingo existem atos marcados em cidades no Brasil contra o presidente Jair Bolsonaro.

Uma das organizadoras da ação em Maringá disse que o ato é para falar sobre a morte dos negros e indígenas, sem relação com partidos políticos. Em entrevista à reportagem, ela pediu para não ser identificada por estar com medo nesse momento.

“O nosso evento foi derrubado do Facebook por denúncias, sendo que não tinha nenhum tipo de discurso que fosse associado a discurso de ódio. A gente não colocou, em momento algum que a gente pretende fazer uma manifestação que não seja pacífica. Então é muito triste e amedrontador você perceber que uma manifestação anti-racista é tratada assim na cidade de maringá, com repúdio. Alguns grupos se colocaram contrários à essa manifestação que busca defender vidas de pessoas negras. Eles argumentam que as nossas pautas são um signo para outras discussões, como crítica ao governo, e nem procuram saber o que de fato estamos construindo. Isso dá um pouco de medo, mas não vai nos calar”, frisa.

Nesta semana, uma criança de cinco anos, Miguel Santana, um garoto negro, morreu em Recife, Pernambuco. No momento do acidente, ele tinha sido deixado pela mãe, doméstica que caminhava com o cachorro dos patrões. E aí, caiu do nono andar. A patroa foi presa em flagrante. E acusada por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

Há o mito da democracia racial, mas não existe isso: as minorias são estigmatizadas, diz uma das organizadoras do ato.

“Essa semana uma blogueira bastante conhecida disse que é instintivo ter medo do homem negro, porque ela é o que comete mais violências. Isso não é verdade, isso é um estigma que homens e mulheres negros carregam. A mulher é mais objetificada, é tida como a mulher para o trabalho doméstico e não para intelectualidade. E a gente não pode aceitar isso calado. A gente tem que se organizar, se colocar na rua e marcar nossa luta contra isso. Essas são as nossas motivações para ir para a rua, não nos calar diante do genocídio que acontece quando nos matam, quando uma bala encontra o nosso corpo, mas também que acontece cotidianamente quando retiram nossa humanidade e nos veem como uma pessoa que não é capaz de ser um cidadão que contribui para a sociedade”, acrescenta.

Embora haja o coronavírus, a organização do ato avaliou que o isolamento social é um privilégio para quem pode ficar em quarentena. Em razão disso, no local haverá procedimentos para garantir o distanciamento entre os participantes e a proteção individual das pessoas.

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