Deus, São Jorge e uns diabos


Por Passeio

“Estou escrevendo hoje para apontar meu nojo, minha repulsa por quem critica o pobre a partir do sereno olhar de sua riqueza.”

Há alguns anos que tenho trabalhado com a questão dos direitos humanos. Uma das coisas que mais leio e que mais ouço sobre esse tema é que existe uma defasagem do conhecimento dos direitos.

bviamente, quem não conhece seus direitos não pode requerê-los. Eu acredito nessa teoria, mas acrescento um ponto que acho muito mais crítico: as pessoas não sabem serem humanas. Quem não sabe ser humano certamente não é capaz de humanizar.

Há ainda quem pense que esse não é um grande problema, pois os direitos humanos são voltados ao bem-estar de meia dúzia de infelizes e mal-amados que habitam às margens da sociedade. Com esses desgraçados não há por que se preocupar. O problema dos direitos humanos só estaria no centro das discussões se gerasse algum benefício direto aos ricos e poderosos.

Os ricos vivem desumanizando os miseráveis. Nos semáforos da vida, um qualquer de vez em quando atrapalha seu dia lhe pedindo um trocado. Não são tratados nem mesmo como animais, pois os pets sempre arrancam uns sorrisinhos.

Um dia entenderemos que o miserável é mais bem-aventurado do que o rico que desdenha de sua miséria. Confesso que às vezes sinto pena desses tais, mas estou escrevendo hoje para apontar meu nojo, minha repulsa por quem critica o pobre a partir do sereno olhar de sua riqueza. Aquele que desumaniza não poderia ser diferente, pois aquele que é desumano só poderia desumanizar.

São Jorge poderia sair da lua “amuntado em seu jumaio” proclamando a necessidade de se pensar no direito dos outros: não adiantaria. O próprio Deus, se descesse dos sete céus, pegasse sua Harley abençoada e pregasse sobre os direitos humanos: não seria o suficiente. Os desumanos são simplesmente incapazes de perceber a sacralidade humana.

Eu não deveria me frustrar com os posicionamentos que tenho ouvido. É isso mesmo. Nossa humanidade é pouca, bem pouquinha. E já entendi bem que não somos santos, mas não queria acreditar que nos tornamos demônios.

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