O LIXO E O VIRUS CHINES


Por Rogel Martins Barbosa

O lixo é tema constante para nós, mas os chineses conseguiram trazer para nossa agenda o agora famoso vírus corona ou COVID-19, que também é conhecido por pneumonia de wuhan em Taiwan, esta mesma Taiwan que demonstrou ao mundo como é possível tratar o vírus sem criar histerias e promover colapso social.

Mas o que tem a ver o vírus com o lixo? Muita coisa e eu explico. Primeiro teremos que lembrar um braço especializado da arqueologia, a chamada garbologia. Garbo, não de garboso, expressão que há não se ouve no vernáculo, que significa elegância de modos, de gestos. Mas o garbo aqui vem de garbage, do inglês, que significa lixo. Logia, todo mundo sabe, é um elemento de formação pospositivo, de origem grega que significa a ideia de estudo. Logo, garbologia é a ciência que estuda o lixo, mas no sentido arqueológico do termo, ou seja, a ciência que vai estudar a cultura e o modo de vida das sociedades através de seus restos materiais conhecidos como resíduo ou lixo.

Já tivemos oportunidade de usar a garbologia e contar um pouco da sua história no A garbologia e o Panorama Abrelpe 2017. Recomendo a leitura.

Voltando ao vírus, vimos que ele foi declarado o causador de uma pandemia mundial e como consequência, os governos têm tomado decisões. Alguns como Taiwan, souberam responder ao vírus, agindo de forma precisa sobre possíveis transmissores, desta forma impedindo a multiplicação de casos. Outros, como a Itália e nós, optaram pelo modelo totalitário chinês: a quarentena, chegando em casos de imposição de toque de recolher e restrição de locomoção de pessoas.

Mas qual o efeito desta ação sobre o lixo? Dois aspectos: o primeiro dele diz respeito ao resíduo industrial e comercial. Com fábricas e comércio parados, haverá drástica redução na produção de resíduos. Isto é fato. Sem gerador, não há geração.

O segundo aspecto é, aos olhos do leigo, contraditório. Os resíduos domésticos serão produzidos em maior quantidade. Não se espante, é isto mesmo que você leu. Esta foi a conclusão do professor William L. Rathje, como fruto do Garbage Project de 1973. Neste trabalho descobriram que em momentos críticos, com escassez, por exemplo, de alimentos, este alimento é comprado em maior quantidade no mercado. Mas como há um prazo de validade, o estoque caseiro acaba por se deteriorar, e promove uma perda que não ocorreria em tempos normais.

O primeiro fato encontrado na garbologia foi no mesmo ano em que se iniciou o projeto. Naquele ano houve falta de carne no mercado norte americano e para surpresa dos pesquisadores, foi encontrado no lixo 3 vezes mais carne jogada fora, que em tempos de abundância.

A quarentena tem o efeito do medo, da aparência da escassez e da fome. Em especial quando imposta pelo poder público. Quando ela é um convencimento da população, ou seja, quando o próprio individuo decide se isolar, com a consciência que poderá voltar ao convívio social ao momento que ele próprio decidir e que haverá uma sociedade para ele retornar, não causa o mesmo efeito de pânico, medo e até histeria que causa quando é determinado pelo estado, já que não só ele, mas toda a sociedade foi segregada do convívio social.

Sob este efeito o indivíduo tende a fazer um estoque para sua sobrevivência. Muitos não fazem sob o manto da razão, mas apenas da emoção medo, o que significa que também não consegue medir a extensão e necessidade de seu armazenamento.

Consequências? Teremos um acréscimo de resíduos domésticos. Um porque pessoas que ficavam em fora de casa o dia todo, agora ficarão produzindo seus resíduos em casa. Dois, e mais perverso deste acréscimo da produção de resíduos, virá com o tempo, pelo desperdício de produtos armazenados.

De quem a culpa? Bom todo drama tem um culpado. Eu acredito que as pessoas tendem a culpar as pessoas, dizendo que devem ser racionais, tranquilas, comprar só o necessário, ainda mais quando o estado diz que mercados ficarão abertos, pois significam primeira necessidade.

Outros dirão que é o estado, que foi incompetente de fechar fronteiras e rastrear o vírus e isolar os possíveis contaminados e agora, numa atitude contrária a própria essência da humanidade, encarcera toda a sociedade, e talvez, sem a certeza que a quarentena funcione.

Realmente, descobrir o vilão da quarentena não é fácil, ou talvez seja, já que sabemos de onde veio o vírus. Mas acredito que todos têm culpa. O estado nunca foi eficiente e o cidadão sempre soube disto. Confiar a saúde ao estado de forma absoluta sempre é temerário. Agora as decisões não são nem consultadas pelo estado ao cidadão. É normal que o medo e o pânico se potencializem, até porque não se sabe o que poderá vir além da quarentena…

Rogel Martins Barbosa, advogado, doutor em Direito dos Resíduos, autor do curso História dos Resíduos e de obras juridicas, dentre as quais, Política Nacional de Resíduos Sólidos, Guia de Orientação para Municípios.

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