O pior cargo do mundo


Por Tiago Valenciano

O título deste texto pode soar irônico para muitos ou, em alguns casos, como uma loucura de minha parte. Para quem acompanha os bastidores da política desde 2001, avaliando campanhas, assistindo eleições e vivenciando a política diariamente, é muito fácil afirmar: não existe pior cargo no mundo (político) do que o de vereador no Brasil. Da campanha ao exercício do mandato, as tarefas de um parlamentar são inúmeras.

O vereador é uma invenção luso-brasileira. Herdando a característica portuguesa das Câmaras Municipais, o Brasil instituiu o cargo de vereador como se fosse um administrador das cidades. Com o passar dos anos, a atividade de um edil passou a integrar o Poder Legislativo, sendo a função básica a proposição de leis para melhorar (ou atrapalhar) o convívio das pessoas, aliado à atividade de fiscalização dos atos do Poder Executivo.

Para quem se aventura em uma carreira política, a disputa para a vereança é o princípio de tudo, já diria a professora Celene Tonela (UEM). Porém, quem vivencia o cotidiano da política sabe que a função do vereador não se resume a por um terno e participar das sessões em que, aparentemente, se fala muito e não se decide nada.

Por ser o político mais próximo da população, o vereador é o responsável por tudo. Do parquinho do bairro ao tapa buraco, do campo de futebol à lei que melhora a vida das pessoas, do posto de saúde sem médicos aos “super salários”, tudo começa e termina com o vereador. Afinal, as pessoas vivem nos municípios. E, da mesma forma que a proximidade para pedir votos é grande, as cobranças também são pessoais – às vezes, na porta de casa.

Não é fácil ser vereador. São sessões, reuniões de comissões, conselhos, visitas à comunidade, compromissos, tempo de estudo, reuniões com a equipe de trabalho, a profissão que atualmente muitos não deixam de exercer, enfim, os compromissos são inesgotáveis para apenas 24 horas. O eleitor, cansado da falta de resposta da classe política e, igualmente, que não quer entender as funções dos políticos, reclama, ora com, ora sem razão.

É preciso ser uma espécie de “clínico geral”, conhecendo de tudo um pouco para debater os problemas da cidade. Diferente dos deputados e senadores, nem o álibi para dizer que “estou em Curitiba ou Brasília” o vereador tem: ele precisa cobrar o escanteio (participar das sessões), correr para cabecear (ouvir a população) e, ainda, defender o gol e lançar o contra-ataque (exercer sua profissão).

Entendo a possível revolta do leitor. Como disse, é mais fácil ser pedra do que vidraça. Claro, a realidade de Maringá é muito diferente da maioria das cidades do país. Uma Câmara enxuta, com administração severa e sem as mordomias que estamos acostumados a ouvir, vez que aqui o vereador não tem direito a carro oficial, motorista particular, verba de gabinete, verba de ressarcimento, auxílio paletó, celular corporativo e nem usa diárias, na maioria dos casos. Mas, é preciso questionar: você abandonaria a sua zona de conforto para ter o exercício de um mandato com tanto ônus e com pouco reconhecimento? Seja bem-vindo, você pode estar chegando ao pior cargo político do Brasil…

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