O tempo e a história


Por Passeio

Estamos confundindo a narrativa dominante da historia com a historia propriamente dita.”

Acabamos de perder o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Isso é um assunto que merece plena atenção, mas vou falar sobre isso em outro momento. Agora, quero falar sobre aquilo que o evento me recordou, vou falar sobre História.

Temos a errada sensação de que a História é uma linha reta, fixa, que só anda para a frente. Há uma confusão central nessa ideia. Estamos confundindo a narrativa dominante da História com a História propriamente dita. A narrativa que chega a nossos ouvidos não passa da fantasiosa epopeia dos vencedores. Sim, apenas os vencedores contam suasHistória, pois aqueles que foram subjulgados estão fracos, tristes, em luto por seus mortos, lutando por alguma forma de sobrevivência.

Acreditamos tanto no que nos dizem que esquecemos o que temos a dizer. E se não dissermos o que temos a dizer, quem ditará nossa História? Temos deixado que nossos algozes escrevam em nossos corpos quem somos e o que temos feito. Com uma passividade doentia, passamos a acreditar e reproduzir as besteiras que nos disseram.

Quem passa seus dias preocupado com arrumar recursos para consumir as mais novas “des-necessidades” da vitrine não vai ter tempo de pensar-se na História, de identificar-se como parte da humanidade em todas suas glórias e barbáries.

Já é tempo de começarmos a ler nossos dias, pois se não entendermos o tempo de nossa vida, levarão embora também nossos dias e nosso viver. Enquanto não assistirmos nosso próprio roteiro, alguém de fora nos dará as coordenadas e a História terá um desfecho alheio a nosso querer.

Fazer História não é viajar nas memórias doces de outrora. Não é reviver com nostalgia um evento que não vai mais voltar. Fazer história é definir-se no espaço e no tempo, é propor que o desfecho de sua vida seja consequência de seu próprio viver.

Imagine agora, quantas mentiras já não te contaram? E quantas outras são simplesmente julgadas como verdade para você?

O Museu Nacional foi ao pó através das chamas. Perdemos muita História que nem mesmo sabíamos ter. Entramos para a História agora como bonecos coniventes que assistem sua cultura desmoronar nas mãos de governos incapazes e despreocupados. Mais uma vez não escrevemos nossa História. Seguimos o fluxo que leva ao vazio cultural. Seguimos crendo que é só isso o viver.

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