Quando o isolamento muda, além do consumo, seu jeito de trabalhar


Por Alexandra Staudt / Marketing e Varejo

Não há dúvidas de que a Pandemia e necessidade de isolamento social tem acelerado mudanças já previstas no comportamento de consumo. Como já discutimos anteriormente, o mundo inteiro está se redescobrindo e, precisamente em Maringá, nota-se uma explosão dos deliveries e uma parcela considerável da população aderindo aos disques entrega e drive trues para além da alimentação, mas remédios, itens de lazer como jogos eletrônicos, calçados, roupas…

O frio está chegando, as crianças estão crescidas e as mães passaram a pedir pijamas, pantufas, tênis… tudo via direct nas redes sociais das lojas nas quais já consumiam. Nesse interim cabe ainda destacar a importância dos influenciadores digitais, pois, num mundo vasto como o da internet e sem grandes referências de onde e o que, ou como consumir, um público que ainda não possuía esse hábito tende a recorrer à antiga propaganda boca a boca; que em tempos digitais, trata-se da indicação de pessoas reconhecidas pelo público, as influencers.

O interessante disso tudo é que a forma como o mercado se organiza também está mudando. Da mesma forma como os clientes querem ser vistos e respeitados na sua individualidade, profissionais começam e se redescobrir. O home office momentaneamente obrigatório, tira a mão de obra das empresas da rotina clássica: trabalho das 8h às 18h, com pouco mais de uma hora de almoço… bater ponto, parada de 15 minutos para café, meta de ligações, meta de contatos, silêncio, reunião… E após os surtos de dificuldade de adaptação à rotina, retorno aos ansiolíticos (e acreditem, não são poucos casos) e o desespero da insegurança, os profissionais começam a se descobrir indivíduos.

 

Domênico de Mais já explicava em 2000, em seu livro O Ócio Criativo, que a principal competência do ser humano no mercado de trabalho precisa ser a capacidade de criar e adaptar:

“O que mais ainda é necessário ensinar aos jovens da sociedade pós-industrial? Não tanto as novidades já existentes, que logo se tornarão obsoletas, mas sobretudo os métodos para aprender a infinidade de coisas novas que estão por vir. De modo que, qualquer que seja a novidade que surja, os jovens estarão em condições de assimilá-las com segurança”.

Ora, se o mundo evolui tão rapidamente e se a Pandemia e consequente isolamento social aceleraram essa mudança, é indiscutível que o mundo corporativo também tende a sair diferente disso tudo. Não significa, claro, que trabalhar exclusivamente de casa seja a melhor solução, afinal, o ser humano precisa de contato e se resolve problemas com maior facilidade quando há troca, mas o que exatamente prende o profissional ao vínculo empregatício? E o que exatamente prende a sua empresa ao modelo de negócio onde você mantém uma série de funcionários devidamente registrados a trabalharem exclusivamente para você?

Em tempos de isolamento social, o profissional começa a entender se funciona/produz melhor a tarde e a noite, ao invés da manhã, por exemplo. Ele também resgata antigos livros e atividades que lhe davam prazer e para os quais não vinha tendo tempo ou simplesmente desvalorizava. Se nota como ser complexo, além do seu potencial produtivo, mas começa a entender a necessidade do seu SER CRIATIVO. Citando novamente Domênico de Mais (O Ócio Criativo – 2000), fica claro que:

“A plenitude da atividade humana é alcançada somente quando nela coincidem, se acumulam, se exaltam e se mesclam o trabalho, o estudo e o jogo; isto é, quando nós trabalhamos, aprendemos e nos divertimos, tudo ao mesmo tempo”.

Veja, os salões de beleza acabam de reabrir em Maringá, mas mesmo antes disso, profissionais como manicures e cabeleireiras buscaram uma forma segura para atender suas clientes à domicílio, respeitando as normas de segurança, sem aglomerações e mantendo sua renda. Em Maringá há inclusive uma empresa que atende à domicílio cujo agendamento é exclusivo por aplicativo. As academias também estão proibidas de funcionar, mas, numa cidade que preza tanto pela qualidade de vida como a cidade canção, era de se esperar que a população buscasse alternativas.

E elas surgiram, na forma de aulas online, em que professor e alunos se reúnem virtualmente e cada aluno faz suas atividades em casa; em aulas exclusivas, com personal trainer, em desafios virtuais para instigar o público a realizar suas atividades mesmo em casa…

Fato é, que a partir do momento que os profissionais perceberam que não precisam se limitar a uma única atividade ou a um único modelo de trabalho; e, há estudos que dizem que as grandes evoluções internas do indivíduo ocorrem geralmente em momentos de crise, quando há que se abandonar a zona de conforto e buscar alternativas, o mercado também tende a evoluir. Pensemos no seguinte:

-Se eu sou um excelente profissional, reconhecido na minha área, com bons contatos, excelente no que eu faço… Ao invés de me empregar em uma única empresa, eu posso prestar meu serviço a diferentes empresas, aumentando minha renda sem perder em qualidade e ainda ganhar tempo e agregar valor à minha rotina, certo?

-Se eu sou um empresário e quero prestar o melhor serviço ao meu cliente, eu posso contratar o melhor profissional em regime de CLT e tê-lo exclusivamente para mim e pagando por todas as horas do seu dia, ou posso contratá-lo como prestador de serviço, dando-lhe liberdade para atuar em outras empresas e ainda continuarei a ter o melhor para meus clientes, com economia de recursos, certo?

-Se eu tenho uma equipe de vendedores que estão geralmente fazendo visitas a clientes. Qual o sentido de eu mantê-los presos a um corporativismo retrógrado, obrigando-os a “bater ponto” na minha empresa todos os dias, demandando espaço, computadores, telefones e recursos pouco usados se eu posso remunerá-los por resultados, desafiando-os ainda mais ao crescimento e possibilitando-lhes uma qualidade de vida maior?

Bem, é o mundo evoluindo rapidamente enquanto enfrenta uma crise de saúde pública, econômica, e no caso do Brasil, acrescente uma crise política. Uma pesquisa recente, realizada pelo grupo G5, com amostragem nas regiões sul e sudeste, mostra que para 43% da população pesquisada, a crise econômica não mudou seu modo de consumir (funcionários CLTs, aposentados e funcionários públicos) e ainda que os setores de alimentação e bebidas, saúde e educação serão os mais procurados para consumo no período pós isolamento.

Bem, o modo de consumir mudou, as prioridades dos clientes mudou também (em pesquisa divulgada pela CNN em 28/04, 90% dos consumidores acreditam que as marcas devem continuar divulgando seus produtos mas, devem ser úteis) e os profissionais também estão mudando. Há que se encontrar um equilíbrio nesse redescobrir e reordenar do mundo para que se possa efetivamente criar oportunidades.

É momento para dissipar conteúdo e informação relevante, ir além das intermináveis lives de conteúdo clichê e superficial que viraram modinha na internet; usar suas redes sociais para divulgar seus serviços, seu conhecimento, seu trabalho, seu compromisso social… Seja você pessoa física ou jurídica, é momento para empatia, reinvenção e busca de oportunidades.

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