Reconciliação


Por Zona Livre

“No velório de Gustavo Corção, no cemitério de São João Batista, enquanto esperávamos pela missa de corpo presente, que seria rezada por dom Marcos Barbosa, perguntou-me Afonso Arinos: – Você sabe como o nosso Alceu (Amoroso Lima) reatou relações com Corção, ainda na fase em que o Corção violentamente o atacava, em seus artigos em O Globo? E ante minha negativa, contou: – O Alceu estava na igreja da Glória, no Largo do Machado, de joelhos, rezando. Pedia a Deus que lhe poupasse a vida do filho, vítima de um desastre de automóvel, e que se achava em estado gravíssimo. Em meio da súplica, prometeu cumprir a mais difícil das missões que Deus lhe inspirasse, para merecer a graça que lhe pedia. Nisto lhe veio a determinação de visitar o Corção. Saiu dali, foi cumprir a promessa. O Corção não estava. Alceu ficou a rondar o quarteirão. Uma hora depois, tornou a bater-lhe à porta, sem saber como o outro, com suas intransigências, o receberia. Corção, já em casa, quis saber quem lhe queria falar. Alceu disse seu nome, e ficou rezando. A porta voltou a descerrar-se. O próprio Corção veio ao seu encontro; abriu-lhe os braços, apertou Alceu contra o peito, e os dois romperam a chorar. Afonso deixa passar um silêncio, enquanto dom Marcos se paramenta, à vista de todos nós. E conclui: – Deus poupou a vida do filho do Alceu.”- Do “Diário da Noite Iluminada,” com Paul Medeiros Krause.
Recebi da minha amiga Junia Turra e compartilho aqui.

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