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26 de abril de 2024

Eu não presto


Por Elton Tada / Coluna Passeio Publicado 30/05/2019 às 11h43 Atualizado 22/02/2023 às 16h16
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Eu defendo uma ideia bem fácil de entender e bem difícil de viver. A simples ideia de que por trás daquilo que conhecemos de cada pessoa existe um infinito. Uma parte desse infinito é o infinito particular sobre o qual a Marisa Monte já cantou belissimamente. Mas, a outra parte é o infinito comum de todos nós, seres humanos, da lua, das estrelas, dos poetas e dos suicidas. Esse segundo infinito é bem mais fácil de conhecer do que o primeiro, pois é a identidade, o diálogo e a percepção silenciosa da comunhão do existir. Já o infinito particular só é conhecido conforme é revelado. E revelar-se é indubitavelmente exercício de coragem. Força e coragem.

Hoje eu posso dizer que adoro crianças. E só sei que isso é verdade porque criança pra mim é uma questão de vida ou morte. Porque toda vez que leio uma notícia de abuso, maus-tratos e violência contra a criança morro mais um tanto. Não sei se é verdade, mas tenho a sensação que essa é umas piores formas de se morrer, morrer enquanto se é obrigado a continuar vivendo. Mas, só estou dando esse exemplo porque a criança consegue romper a barreira nos dois sentidos, tanto supera a barreira para revelar-se quanto para ver o outro que se revela. Chamamos isso de ingenuidade – revelar-se – e sensibilidade – perceber a revelação do outro. Na verdade esse é o tipo de sabedoria que vamos perdendo ao longo da vida. Pois, ao que parece, ao nos tornarmos adultos deixamos definhar o que há de melhor em nós.

Todo adulto é triste e solitário, diria Clarice Lispector. Eu diria que sim, é verdade. Mas essa condição desagradável não é obrigatória, depende do quanto nos deixamos adultecer. Adultecer-se é confundir o crescer como um agregador de experiências com o crescer como um substituidor de experiências. Em nenhum lugar está escrito que para nos desenvolvermos precisamos matar tudo o que há de infância em nós. Fazer isso é jogar sabedoria fora, jogar vida fora, como se o viver fosse assim, coisa pequena.

You don’t Know me/ You don’t Know me at all (você não me conhece/ você realmente não me conhece) já cantou o Caetano. Logo ele, que tanto se revela, que já colocou tantos muros abaixo com sua voz, sua poesia e alguns acordes. Nós adultos, independentemente do nosso nível de adultecimento, temos opções a fazer. E, sim, toda opção pressupõe uma renúncia. Mas, nesse caso, renunciar ao casulo pode ser também o maior dos ganhos. Ver o infinito que há em si e libertá-lo é o primeiro passo. Depois, podemos ver o infinito que é revelado nos olhos de cada pessoa com a qual cruzamos nessa existência. Eis a opção.

No fim das contas, não acredito em milagres. Não porque eu duvide da capacidade de um milagre acontecer, mas porque não preciso de nada milagroso pra me maravilhar. Maravilha-me olhar em teus olhos, ver o que me trazes from behind the wall, e abaixar meus próprios muros para revelar o que tenho do lado de cá. Surpreenda-se, pois em tempos de guerra, o que há do lado de cá não é nada além do velho e simples amor.

Permita-se. Permita-me ser pra você. Afinal de contas, uma certeza eu trago: igualzinho a você eu não presto, eu não presto.

Pauta do Leitor

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