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17 de julho de 2024

Nacionalismo falso e ufanista


Por Gilson Aguiar Publicado 17/07/2024 às 07h27
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Nacionalismo de fachada.

Estamos discutindo o nacionalismo e considerando que o “amor à pátria” é a solução para os nossos problemas. Mas, a nação é uma invenção e não é a natureza de nossa origem. Não se criou a pátria do nada. Ela é sim uma instituição definida por diversos elementos, entre eles um território demarcado fisicamente e também por elementos culturais.

Os valores que definem a nação são múltiplos, selecionados e definidos como uma identidade, com particularidades históricas. Tudo em torno de um Estado instituído de autoridade e que justificou seu poder ao longo do tempo, do jogo de forças se consolidando como uma autoridade legítima. 

O discurso do poder legítimo que hoje se exercita pelos símbolos pátrios, pelas instituições de defesa e representação nacional, mesmo nas competições esportivas, merecem um olhar atento. Não podem ser naturalizadas como uma fronteira sólida. 

A nação é forjada e não “uma natureza em berço esplendido”. 

O Estado Nação tem uma história. Na civilização ocidental foi resultado da reorganização de forças que constituíram os territórios das monarquias e suas relações com as atividades econômicas, sociais e políticas e toda a carga de representação cultural que emergiu desta conjuntura.

Se hoje falamos português e esta é a língua pátria, é porque nos antecedeu uma nação chamada Portugal. Somos o desdobramento do elemento colonizador. Mais que isso, somos o encontro de tantas outras nações que constituem a condição social dentro de um determinado espaço que denominamos de território nacional, o qual tem, também, sua história de constituição. 

Se um dia o Estado Nacional foi uma tendência mundial e se constituiu para permitir a expansão da civilização ocidental, hoje ele não cumpre mais este papel. As grandes navegações que levaram às conquistas marítimas e as nações absolutistas que constituíram o poder legítimo das conquistas coloniais, foram fundamentais nas demarcações dos domínios territoriais, na definição dos mapas.

Lembre-se, há muita história na formação dos estados e das nações. Ela não é simples, há diferenças distintas na formação de cada um dos países e nas características que lhes dão significado e poder. Muito dos comportamentos que se tem diante do sentido patriótico está relacionado à formação da nação e do poder que ela exerce.

Estamos vivendo o enfraquecimento da nação e o ufanismo patriótico

Não podemos deixar de considerar que os tempos atuais não são mais os mesmos para os Estados Nacionais. O discurso patriótico que tanto respaldo às medidas do Estado, fazendo com que os decretos governamentais ecoasse inquestionável sobre a vida de todos os cidadãos, agora já não tem mais o mesmo sentido.

O Estado Nacional está enfraquecido. A mundialização da economia gerou grandes conglomerados econômicos, empresas mundiais, e integrações de redes de comunicação e produção planetárias que se impõe sobre a nação. 

Podemos considerar que a economia, a comunicação e mesmo a cultura já demonstram forças comparáveis ao poder bélico dos estados nação. Quanta crise estabelecida em diversas partes do mundo, as quais têm efeitos como se fossem de uma guerra, deixam devastados territórios e populações. 

A fome ou o excesso no mundo é muito mais uma consequência dos efeitos da economia do que das decisões dos governos dos estados nação. 

Acredito, inclusive, que as ponderações em relação aos interesses bélicos são resultado de uma economia que coloca freio no desejo de muitos alucinados governantes. 

A ignorância é um risco

Não podemos negar que a ignorância é um risco. Talvez, nos tempos da decadência dos Estados Nação, a exaltação ufanista seja uma realidade. Os apaixonados “patrióticos” sustentam seus discursos em fantasias e delírios gerados pela uma distorção dos fatos. Se alimentam da alucinação e desconhecem a verdadeira formação e as bases da nação que tanto dizem amar.

Esta ignorância que leva ao extremismo. Uma busca de justificar que há um inimigo a ser combatido e ele está do outro lado da fronteira imaginária ou é um invasor da “nossa terra”. Os imigrantes que no passado sempre foram os principais personagens da formação da riqueza e da própria nação, agora são indesejados e devem ser expulsos. 

De onde nasceu esta pátria que tantos querem defender? Acredito que tenha surgido de nossos delírios. A verdadeira nação pede para ser conhecida, entendida, e valorizada naquele que é o elemento que lhe dá sentido, a sociedade que a forma e que está em constante mudança. 

A paz é o sentido da nação, não a guerra. Se forjamos outrora as fronteiras através do combate ardente ao inimigo, não estamos mais diante deste contexto. Hoje, há uma justificativa constante de combates que eliminam milhares de pessoas, ironicamente, aquelas que o discurso nacional jurou proteger.

Os radicais nacionalistas de hoje são, em regra, os que destroem as condições necessárias da nação e são uma ameaça ao cidadão. O inimigo que tanto se teme a segurança nacional não está além da fronteira e sim dentro do território nacional. 

Pauta do Leitor

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