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30 de junho de 2024

Ciência


Por Elton Tada / Passeio Publicado 02/12/2021 às 00h27 Atualizado 19/10/2022 às 10h26
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fonte: Pixabay

Eu preciso de distrações para viver. Todos precisamos, porque a vida nua é forte demais, arde os olhos e dói o peito. Se olharmos para a vida sem proteção é capaz de faltar o ar e sem ar você sabe, não se respira. Qualquer coisa pode ser o objeto de uma boa viagem, como no dia em que vi um cego mastigando chiclete, ou quando vi uma barata sozinha subindo a porta de um armário sozinho, de um quarto sozinho, recém desocupado.

            Hoje andando pelo centro vi uma mulher encostada na parede de um comércio, às três da tarde, num calor inaceitável, com um batom vermelho, tomando um café duvidoso em um copinho de plástico, deixando a marca de batom no copinho, deixando sua marca de vida no mundo. Nós somos a vida no mundo e vamos nos marcando. Se é verdade que tudo passa, também é verdade que todo passo deixa rastros e que toda jornada deixa lastros. É bem nosso papel confundir os arqueólogos do futuro.

            Em um futuro distante, alguém ganhará uma bolsa de estudos para escrever sobre nossa civilização, e vai defender que éramos muito organizados, com avenidas largas e computadores. Mas eu queria mesmo que fizessem uma arqueologia dos nossos amores, das nossas dores, e das nossas distrações. Afinal de contas, me parece que no fundo somos apenas todos apenas mais uma mulher encostada na parede, num dia quente, tomando um cafezinho duvidoso e deixando marcas.

            Às vezes gosto de pensar quanto tempo ainda tenho de vida para calcular o quero fazer daqui pra frente. Às vezes faço o contrário e calculo quanta vida tenho no meu tempo, e daí fico meio triste. Mas o que me encanta mesmo é saber que daqui a vários séculos alguém pode encontrar meus ossos e medir minha taxa de carbono 14, e mesmo lá ainda estarei deixando marcas nesse mundo. E até lá a ciência certamente terá encontrado a estrutura molecular do amor, e um grupo de pesquisadores poderá afirmar que amei demais, e que meu amor não acabará, e que serei pó de amor eternizando as mudanças constantes do universo.

            Hoje não queria falar sobre amor. Enfim, eu acredito na educação, na cultura e na ciência. Deixemos assim.     

Pauta do Leitor

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