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26 de abril de 2024

Não tenho vergonha de assumir: eu gosto do Roupa Nova


Por Victor Simião Publicado 23/05/2019 às 14h00 Atualizado 22/02/2023 às 13h38
 Tempo de leitura estimado: 00:00

“‘Mais que a luz das estrelas, meu universo é você/Ah, se eu puder ter a chance, ah/ Eu juro todo o seu amor – com toda a força em mim! – eu juro todo o seu amor merecer’. Com amor, JV.”

Foi isso que escrevi àquela que foi a minha oitava grande paixão na vida, assinando com as inicias do meu nome (João Victor). Em uma carta de quatro páginas, terminei citando Roupa Nova, imaginando ser essa a melhor das estratégias. O meu objetivo era mostrar que eu abandonaria tudo para viver ao lado dela. E eu jurava isso – “com toda a força em mim!”.

Me lembrei dessa carta dia desses quando, de repente, caí aleatoriamente num vídeo do Roupa Nova no Youtube. A plataforma de vídeos, aliás, está cada vez mais aleatória – tão ou mais que até parece os comentários do Neto, da Band, que fala sobre 27 assuntos em três minutos, passando da serenidade e chegando à raiva, finalizando com o já clássico “É brincadeira?”.

Ao comentar com dois ou três amigos sobre o Roupa Nova – que eu realmente gosto -, eles, de modo geral, falaram que o som é brega, chato. Coisa de um passado bobo, idílico, dos anos 1980.

Aí me toquei de uma coisa: encontrar algum jovem que seja fã da banda atualmente é algo tão raro quanto achar alguém que saiba onde está título eleitoral em ano sem eleição. Assumir gostar do grupo, então, é uma extravagância tão grande que até parece pecado: você fala baixo e olha para os lados porque a Gestapo pode aparecer a qualquer momento.

A minha geração talvez não saiba mas o Roupa Nova, entre outros fatos positivos, tem qualidade musical e composições marcantes na voz de outros artistas. “A lenda”, gravada pela dupla Sandy e Júnior, é um exemplo. Mais do que isso: muitos da minha geração talvez tenham sido produzidos em uma noite de amor ao som de “Dona”.

A maior parte das pessoas que conheço atua em alguma área ligada às Ciências Humanas. Aí, gostam, geralmente, daquilo que é chamado cult. Os filmes do Truffaut e Woody Allen, os discos de Charles Parker, Gal Gosta, Chico Buarque e João Gilberto, os livros de Guimarães Rosa e Karl Marx.

Nada contra isso, até porque eu também gosto, e dizer qualquer coisa contrária à qualidade desses artistas/intelectuais é pior do que ser o brasileiro que afirma não existir racismo no Brasil “até porque eu tenho um amigo negro”.

Eu só queria registrar que o Roupa Nova também é bom pacas – e eu digo isso sem medo de ser feliz.

Quanto à carta, eu nunca tive uma resposta. Confesso não saber o motivo até hoje, mas tenho hipóteses: talvez ela achasse que não combinássemos porque eu costumava usar boné, um anel de caveira e sapato sem meia; talvez ela não gostasse da banda e preferisse CPM 22; ou talvez porque me achasse muito novo para ela. Em 2005, quando escrevi a missiva, eu tinha 11 anos. Ela, 21.

Por conta de minha angústia juvenil, imaginando que ela fosse responder a carta e me convidasse para uma festa, eu já havia preparado como se desenrolaria o nosso primeiro encontro.

Sentados em uma mesa, buscaria gelo e cuba libre para bebermos. Depois, eu perguntaria em inglês se ela queria dançar. Em caso positivo, durante a nossa dança eu diria o quão linda ela era, o quanto só ela me fascinava. Por fim, falaria que o meu sapato é velho, mas que me aquecia – e que eu poderia fazer o mesmo, caso ela me calçasse.

Como nada disso aconteceu, ela não se tornou minha dona e nem seguimos num trem azul.

O que ficou, portanto, foi a lenda dessa paixão.

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