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27 de abril de 2024

CINE QUARENTENA #11 – DARKFLIX


Por Elton Telles Publicado 26/05/2020 às 17h38 Atualizado 22/02/2023 às 22h03
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Para os amantes do horror, a Darkflix é a plataforma ideal. A funcionalidade é muito próxima da Netflix, com a diferença do orçamento consideravelmente inferior – em sua defesa, é preciso dizer que a precariedade do servidor é um “charme” e combina 100% com a proposta. O layout e a disposição dos filmes/informações também são bem semelhantes, então não há dificuldades para navegar pelo streaming.

O acervo da Darkflix é bem abrangente, compreendendo títulos mais antigos, recentes e de diferentes nacionalidades. Os filmes podem ser encontrados em seções específicas, como Monstros, Paranormalidade, Assassinos, Terror Psicológico e outros subgêneros que estão organizados em pastas. É preciso reforçar que o catálogo é excelente, porque oferece exemplares tradicionais e obrigatórios, sem esquecer de algumas raridades. A assinatura mensal é de modestos R$ 9,90.

Neste Cine Quarentena, deixei de lado os filmes mais badalados e de conhecimento público. Abaixo, optei por resenhar três relíquias meio esquecidas, pouco citadas e muito influentes para a consolidação do cinema autoral de gênero.

Não é uma tarefa fácil atribuir a uma história um tom opressor sem recorrer a certos artifícios reconhecidos e já autenticados pela maioria dos espectadores. Alguns exemplos práticos são a fotografia escura, ou a preponderância do aspecto sonoro, ou então ângulos/movimentos de câmera que indicam ao público o que vem a seguir. Em seu segundo filme, “Os Olhos Sem Rosto” (1960), o cineasta francês Georges Franju “ignora” a cartilha do cinema de horror e, ao seu modo, concebe uma experiência aterrorizante. A trama é centrada em um médico cirurgião, responsável por um acidente de carro que deixou a filha adolescente com o rosto desfigurado. Ele utiliza a sua assistente de bisturi como isca para pescar moças bonitas na cidade, trazê-las para a sua casa, roubá-las a face e implantar na garota deformada. Enquanto isso, a filha Christiane utiliza uma máscara sem expressões e de causar calafrios.

A perversidade dos médicos quando, por exemplo, confabulam planos diabólicos de sequestrar mulheres inocentes é retratada com espantosa frieza, como um compromisso rotineiro de ir ao açougue comprar carne. Tão impactante quanto é a inteligência de Franju de direcionar o tremor para o que é oculto, para aquilo que não conseguimos ver e está estampado na ausência do rosto da personagem fragilizada, que se apresenta como um fantasma, uma entidade misteriosa; todavia Christiane continua sendo um ser humano que teve a identidade apagada, mas que, como qualquer outra pessoa, nutre sentimentos. E é mediado por estes sentimentos que “Os Olhos sem Rosto” se estabelece como uma fábula obscura e dialética sobre solidão, angústia e rejeição.

Na época de seu lançamento, o filme teve uma recepção morna, o que foi posteriormente concluído como preconceito da crítica de cinema cabeçuda que considerava o terror um “gênero menor”. Entre outras produções, a obra-prima controversa de Franju serviu como referência conceitual para filmes como “Halloween” (1978), de John Carpenter, e “A Pele que Habito” (2011), do espanhol Pedro Almodóvar. Méritos cinematográficos à parte, só por estas credenciais, “Os Olhos sem Rosto” merecia mais reconhecimento.

https://www.youtube.com/watch?v=HuvbscZeOfc

Inspirado em uma parábola budista, “Onibaba – A Mulher Demônio” (1964) se passa no Japão medieval, mais precisamente no século XIV, momento em que o país estava dividido por uma guerra civil. No meio de um matagal robusto, vivem duas mulheres em uma cabana improvisada: a mais velha, mãe de um soldado que foi ao combate, e a mais jovem, sua nora. Para sobreviver, elas matam samurais perdidos na região, trocando as armas e armaduras saqueadas por comida.

Os elementos econômicos e necessários para constituir a história do filme recebem um tratamento incisivo pelas mãos do diretor Kaneto Shindô. É impressionante o que o cineasta faz com tão poucos recursos cênicos, utilizando-os para traduzir simbolismos que favorecem grandemente a narrativa, como a opulência do matagal, o riacho ao redor das plantações e a moradia das pobres coitadas. “Onibaba” é um vigoroso registro imagético que cumpre bem o papel de assombrar o espectador, sendo favorecido pelo ótimo desempenho da atriz Nobuko Otowa e pela iluminação ressaliente de Kiyomi Kuroda.

A concepção do enredo é bastante simples, mas no fundo, “Onibaba” se vale do terror psicológico para assentar um contundente dilema moral sustentado por estímulos ideológicos. O filme se apresenta como um conto sobre culpa e ganância enquanto o roteiro evidencia os impulsos mais primitivos da natureza humana. “Não sou um demônio, eu sou um ser humano!” é o que escandaliza uma das personagens em desespero. Por trás de sua máscara – aliás, a máscara utilizada aqui foi inspiração visual para o demônio Pazuzu de “O Exorcista” (1973) –, “Onibaba” é uma válida alegoria política e, de certa forma, um canto doloroso aos menos favorecidos.

É possível assistir ao filme completo e com legendas em português no vídeo abaixo, retirado do YouTube.

https://www.youtube.com/watch?v=v1o5CfSpbN4

Giallo (“amarelo” em italiano) é um subgênero oriundo da literatura e conhecido pelas histórias de assassinatos em série, nas quais sempre uma mulher está à frente da investigação. Fenômeno na Itália na década de 1930, o termo veio das popularescas revistas pulp, cujas capas eram amarelas. No cinema, o auge deste movimento se deu entre os anos 60 e 80 e se materializou nas produções de alguns cineastas italianos, mas se faz obrigatório citar três nomes: Mario Bava, Dario Argento e Lucio Fulci. Este último dirigiu o cult “Terror nas Trevas” (1981), sobre um hotel que abriga um dos sete portais com acesso livre para o inferno.

O filme não tem cerimônia. Logo no prólogo, o espectador já é emparedado para testemunhar o homicídio cruel de um dos personagens; e a trama segue assim: uma sucessão de mortes criativas e sem sentido. Em vez de Fulci desviar a câmera no momento da tragédia – como muitos filmes de horror fazem, sobretudo para aliviar a classificação indicativa –, o diretor liga o “foda-se” e não só mostra, como aciona o zoom, faz closes e explora com diferentes ângulos em planos-detalhes o rosto de alguém sendo devorado por aranhas ou derretendo pelo contato com ácido sulfúrico.

É muito dúbia a sensação de assistir a um exemplar de horror exploitation, porque as cenas são explícitas e absolutamente nojentas, porém não dá pra dizer que são mal planejadas. São impecáveis do ponto de vista técnico. Os efeitos visuais artesanais e a maquiagem/próteses são departamentos valiosíssimos para este tipo de filme, são como se fosse a tinta da caneta para o realizador fazer a sua assinatura. Ultra recomendável para quem espera receber este conteúdo, não à toa, “Terror nas Trevas” é um dos giallos mais celebrados.

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