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03 de julho de 2024

‘Nosso projeto envolve uma proposta de mudança real no País’, diz Sergio Moro sobre candidatura à Presidência


Por Redação GMC Online e CBN Maringá Publicado 04/03/2022 às 15h27 Atualizado 20/10/2022 às 15h00
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Foto: GMC Online

Viajando o Brasil como pré-candidato à Presidência da República, Sergio Moro está em casa (literalmente) nesta sexta-feira, 4. Nascido e formado em Direito em Maringá, ele lançará logo mais, na cidade, o livro “Contra o Sistema da Corrupção”. 

Quase três anos depois de entrevistar com exclusividade o então ministro Justiça e Segurança Pública, do Governo Jair Bolsonaro, o portal GMC Online e a CBN Maringá voltaram a conversar com Moro, mas em um cenário totalmente diferente e disposto a concorrer à cadeira presidencial. No bate-papo, ele comentou sobre as experiências de vida compartilhadas no livro, falou sobre o atual cenário político brasileiro e como pretende adotar uma postura que vai diferenciá-lo fortemente dos demais candidatos à Presidência da República. 

Durante o bate-papo, Moro também defendeu a permanência no Podemos e comentou sobre as especulações de uma possível candidatura ao Senado pelo Paraná.  

No livro, você fala da experiência na Lava Jato, a experiência no Ministério da Justiça. Quais das duas experiências você considera que foi mais significativa para que o senhor seja o candidato à presidência?

Sergio Moro: “É difícil comparar as duas porque foram experiências diferentes. Como juiz, na Lava Jato, meu papel era mais limitado, julgar os casos, mas acho que ali a história de certa maneira também foi feita, que a gente conseguiu acabar, pelo menos durante o período que a Lava Jato vigorou, com aquele privilégio que é roubar e não ser punido. Então, a gente viu gente muito poderosa, quando você viu um governador sendo preso no Brasil? Quando que você viu o presidente da Câmara sendo preso? Um ex-presidente da República? O dono da maior empreiteira do Brasil, a Odebrecht? Foram julgados pelos crimes que cometeram e foram ali punidos. Então, foi um momento em que a lei prevaleceu no Brasil, que é algo que não é trivial. No Ministério da Justiça, a gente fez coisas muito boas também. Eu tive que sair pelos motivos que já expliquei, mas a gente conseguiu, por exemplo, reduzir a criminalidade violenta, os assassinatos caíram 22% em 2019 em comparação com 2018, a gente foi pra cima do PCC. Ninguém tinha coragem de mexer com o PCC que estava encastelado em São Paulo, a gente tirou as lideranças e colocou em presídios federais. Então, tiveram coisas muito boas com os programas que a gente criou ali. Infelizmente, eu tive que sair porque aquela parte para minha consolidação do combate à corrupção, eu não tive apoio e na verdade eu acabei sendo sabotado. Eu preferi sair. Mas eu deixo as duas experiências como muito gratificantes, apesar de ambas terem suas limitações”. 

A obra foi uma forma de dividir a sua trajetória e se aproximar de admiradores? 

Sergio Moro: “Tinha muita gente que pedia que eu escrevesse, contasse a história da Lava Jato. Quando eu entrei no governo, achei que não era apropriado, enquanto era ministro, e quando eu saí [disse]: ‘Bem, vou escrever agora’. Eu tinha uma quarentena jurídica de seis meses, mas [a escrita do livro] levou mais de um ano. Tem ali os relatos do meu trabalho como juiz, casos em que eu trabalhei, por exemplo, envolvendo grandes traficantes de drogas, Fernandinho Beiramar, inclusive, o Caso Banestado, a Lava Jato e depois o período como ministro da Justiça”. 

O que representa para você lançar seu livro aqui em Maringá, sua cidade natal?

Sergio Moro: “Maringá é minha terra natal. A gente volta aqui e sempre vê rostos amigos, [pessoas] que a gente gosta. Para mim, Maringá é uma cidade fantástica e aqui o coração bate mais [forte]”. 

Você consolidou o seu nome com a corrupção, mas tocou em pontos importantes: economia, política social. Há duas coisas em relação aos dois candidatos – Jair Bolsonaro e Luís Inácio Lula da Silva – que, junto com você, têm um peso muito grande. Lula é tido como o presidente das políticas sociais. Jair Bolsonaro foi o presidente que se elegeu falando de liberdade econômica. Hoje a gente tem desemprego, uma pandemia que ainda não terminou, uma crise internacional que já estava se processando e uma guerra. Como é que você vai fazer política social e o desenvolvimento econômico, por exemplo, reduzindo estado, iniciativa privada, gerando emprego e atendendo a população mais pobre?

Sergio Moro: “Você colocou muito bem. Não houve entrega, houve discurso. As políticas sociais a gente sabe como o governo do PT acabou, naquela grande recessão de 2015/16. O governo hoje não entregou. Não fez privatização, não fez as reformas, o Brasil hoje está estagnado economicamente. As pessoas estão sofrendo, tem gente na fila dos ossos. Gente sobrevivendo apenas por conta desse Auxílio Brasil. E, aí? Vai ser pra sempre assim? Política tem que ser: fomentar crescimento econômico para emprego, controlar inflação […]. O que a gente quer fazer? Recolocar o Brasil na trilha do crescimento econômico para gerar emprego, para gerar renda. Como é que você faz isso no presente momento? Você tem que aliar responsabilidade social, ou seja, política social robusta mesmo, ter esses auxílios, mas a gente quer fazer algo mais. A gente quer fazer uma força-tarefa para enfrentar as causas da pobreza no Brasil, que é mais do que simplesmente ficar pagando mês a mês para aliviar uma situação de pobreza. […] A gente quer fazer com que essa força faça os serviços públicos chegarem naqueles que mais precisam […]. Começa já em janeiro [de 2023] e paulatinamente a gente já vai enfrentando esses problemas. Vamos fazer parcerias público-privada […]. A gente tem que sair da dicotomia público-privado, a gente tem que discutir o que funciona, a gente tem que ser pragmático. […] Se funciona naquele local o governo, é o governo, se funciona naquele local uma organização da sociedade civil, de benevolência ou caridade ou coisa parecida, vai utilizar esse caminho”.

O Paraná foi um estado importante na vitória do presidente Jair Bolsonaro, assim como Maringá. Você acredita que parte do antigo eleitorado do presidente poderia dar um voto de confiança a você nessa busca por mudanças? 

Sergio Moro: “Nosso projeto envolve uma proposta de mudança real no País. Eu, como muitos brasileiros, estou decepcionado com o atual governo, porque não entregou. E não é só o problema da corrupção, nós não temos crescimento econômico, as pessoas estão sofrendo com dificuldade de emprego, gente passando fome. Então é um governo que, infelizmente, não deu certo. Nós temos uma proposta de algo diferente e, certamente, para aqueles que estão procurando opções mais de centro, pessoas mais moderadas… evidentemente moderadas, mas com princípios – moderação é uma coisa na parte da política, outra coisa é firmeza de princípios e isso eu posso garantir que eu tenho muito mais do que outros por aí”. 

Como é que você vai enfrentar os grupos que dominam regionalmente a política?

Sergio Moro: “Exatamente por isso que eu sou a pessoa certa para isso. Eu já enfrentei isso. Na Lava Jato, diziam que era impossível combater a corrupção. A pressão foi incrível e, muitas vezes, desses mesmos grupos, dessas mesmas oligarquias, que se acostumaram sempre aqui no Brasil que a regra é roubar e não ser punido […]. A gente foi para cima na Lava Jato, a gente, no Ministério da Justiça, foi para cima, a gente não cedeu um palmo em relação a essas pessoas. Por isso, a gente precisa fazer uma série de reformas, entre elas as coisas estão relacionadas, a gente precisa fazer um pacote ético no Congresso. Vamos acabar com a reeleição de presidente da República. Isso facilita a aprovação das outras reformas. 4 anos sem reeleição, valendo para o Presidente em 2023. […] Mas não é só isso que a gente quer fazer não. Fim do foro privilegiado, para todo mundo, inclusive para o presidente da República. É outro compromisso escrito na pedra. Foro privilegiado é privilégio de autoridade de político em relação ao cidadão comum. Chega de tratar o político a alguém superior ao cidadão comum”. 

Você comentou anteriormente que o atual governo e a oposição não declararam posições claras frente ao conflito entre Rússia e Ucrânia. Qual sua postura em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia?

Sergio Moro: “Esse é um dos exemplos das coisas que estão erradas no País. Isso é muito claro. O Brasil tem uma tradição de não alinhamento. Foi assim na Guerra Fria, ele tentava evitar, embora a gente tivesse muito mais ligação com os Estados Unidos do que com a União Soviética. A gente tinha uma tradição de não alinhamento. Agora você tem uma situação clara de que a Rússia invade um outro país, então é uma clara violação do direito internacional da soberania de um país. A gente vai concordar com uma guerra de conquista? Ou para a colocação de um governo fantoche lá na Ucrânia? Ou a gente vai concordar com o sofrimento do povo ucraniano que está sendo bombardeado? Não tem como. Então esse é um dos casos que o Brasil tem que assumir uma posição clara de condenação à guerra e de condenação ao culpado pela guerra, que é a Rússia. Então, não tem meio termo. E aqui eu vou pedir desculpas. Não é uma crítica pessoal, mas uma reflexão. Nem Lula, nem Bolsonaro emitiram qualquer declaração de condenação à Rússia, de reprovação à invasão da Ucrânia. O que você tem, no máximo, são declarações genéricas contra a guerra. […] O Brasil teria que se posicionar claramente condenando a guerra e pedindo respeito à soberania da Ucrânia. […] Ninguém está defendendo que o Brasil se envolva na guerra, mandando tropas, nada disso. Ninguém quer a terceira guerra mundial. Mas [o boicote econômico] é uma coisa que poderia ser estudada, poderia ser avaliada. Aí nós temos que analisar as consequências disso no Brasil, quais seriam as consequências internas, mas é algo que poderia ser avaliado”. 

O GMC Online conversou com você em 2019, quando ainda ocupava o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública. Nós o questionamos sobre a possibilidade de concorrer à presidência da República e a resposta foi que ainda era muito cedo para se discutir o assunto. Quando e por que o senhor começou a considerar concorrer a este cargo? 

Sergio Moro: “A decisão foi tomada mesmo em outubro do ano passado. Depois que eu deixei o Ministério [da Justiça de Segurança Pública], eu fui convidado pelo Podemos, mas eu disse que ia tomar a decisão somente ao final de 2021, como de fato fiz. Eu fui para a iniciativa privada, estava distante, mas eu via com tristeza a situação do País: a economia parada, as pessoas sofrendo, esse retrocesso no combate à corrupção que vem dos três poderes. A gente precisa ter uma mudança real no País, precisamos olhar as coisas que estão erradas e começar a consertar. Fazer a coisa certa é algo fundamental, então isso fez eu me dispor a colocar meu nome para os brasileiros. Eu acho que os brasileiros merecem outras opções do que esses dois extremos que acabam se retroalimentando e gerando só animosidade na sociedade”. 

Você vai ficar no Podemos ou vai para a União Brasil? E dizem até que você não vai ser candidato à presidência e vai ser candidato ao Senado no Paraná: fato ou fake?

Sergio Moro: “[Ficar no] Podemos. Veja, projeto de um pré-candidato à presidência não é o projeto de uma pessoa, não é um projeto de um partido. É um projeto maior, inclusive maior que o mundo político, tem que envolver a sociedade. Então, a gente está construindo alianças com outros partidos, com outros agentes políticos, com a sociedade a partir do Podemos. Então é muito simples isso. Não devo sair do Podemos. […] A outra situação [de ser candidato a Senado], não tem nada disso. Muita gente tem medo dessa candidatura porque tem muita gente que está satisfeita com essa situação. O próprio centrão, [que] estava com Lula, está agora com o Bolsonaro. O Bolsonaro até colocou no centro do poder o centrão”.

A população brasileira está diante de um cenário desafiador, lidando com crises econômica e sanitária. Como pré-candidato à Presidência da República, você acha que ‘o Brasil tem jeito?’

Sergio Moro: “Claro! Eu não estaria aqui se não tivesse. A gente tem percorrido o País e visto experiências fantásticas. Tem todo um Brasil que dá certo. A gente foi, por exemplo, na “Casa da Vovó Dedé”, lá em Fortaleza, que é uma organização social que atende jovens de uma comunidade carente do Ceará com aulas de música, de artes, de audiovisual. Já é a segunda geração dessa  “Casa da Vovó Dedé” que consegue jovens que se inserem depois em orquestras sinfônicas de Paris, de Londres. Você entra no local e respira arte, música, é um trabalho social fantástico. É esse tipo de coisa que a gente quer conhecer nessa jornada pelo País e quer multiplicar esses exemplos. Por exemplo, em Maringá, estamos indo para a Cocamar. A gente sabe da pujança da Cocamar e como ela foi importante para o desenvolvimento da agropecuária e da agroindústria para a região de Maringá. Imagina você conseguir multiplicar esse exemplo em regiões que têm mais dificuldades, como o Nordeste, onde o cooperativismo ainda é reduzido? A gente tem que pegar aquilo que deu certo e multiplicar”. 

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