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18 de maio de 2024

Vaca profana, venha a Maringá


Por Bloco de Notas/Victor Simião Publicado 02/03/2019 às 15h40 Atualizado 20/02/2023 às 10h18
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minha risada e o carnaval de rua. O cancelamento definitivo do evento em Maringá só me faz dizer uma coisa: vaca profana, por favor, venha à cidade.

Deusa de assombrosas tetas, teu leite secaria se soubesses que os festejos entre 1° e cinco de março foram simplesmente cancelados, apesar de se saber que o carnaval de rua movimenta a economia, gera público e permite o acesso a espaços públicos – algo tão raro nesse tempo do privado, nesse tempo de privadas.

Há que se registrar, deusa das divinas tetas, que houve excessos no pré-carnaval, sim. Adolescentes bebendo, por exemplo, e cerca de 100 pessoas passando mal. Mas covenhamos (como diria o Temer em sua pose vampiresca cuja mãozinha é de estilo inconfundível): em um universo de 15 mil pessoas, o número das que passaram mal é ínfimo, tão pequeno quanto a frota elétrica de ônibus da empresa de transporte coletivo da cidade.

Além do mais, todo mundo já foi ou será jovem um dia. Lança-perfume, cocaína, maconha eram tão comuns nas festas de clubes fechados quanto hoje é comum gente pedindo dinheiro em frente aos bancos de Maringá.

“Na minha época era diferente. Não tinha bagunça”, dizem uns. Não tinha ou você não via ou você era o jovem bagunceiro e estava tudo bem para você?, eu pergunto.

Ao que parece, as pessoas se esqueceram do tempo que frequentaram a universidade e os clubinhos pagos pelo papai, vaca profana! Talvez quem tenha ficado revoltado com o carnaval de rua e exigido a moral e os bons costumes não se lembre, também, que dirigir depois de beber em uma festa de formatura caríssima ou mesmo depois do happy hour não é correto.

Quem nunca errou que atire o primeiro litro de corotinho!

Vaca profana, eu sei. Para uma deusa como tu és, livre, leve e musicada, visitar Maringá não é algo bom. Quase como um feudo, a cidade tem dono, tem poder de igrejas e grupos que mandam e desmandam — mas que bebem e dirigem alcoolizados.

Se estivesses em nossa terra, deusa de assombrosas tetas, como derramarias leite bom na nossa cara? Além disso, o cercado do sítio não permitiria sua movimentação, impedindo-te de colocar teus cornos para fora e acima da manada.

O cerceamento de parte da população, mesmo que não funcione na prática, resulta em barulho que não é música na Cidade Canção. Ano passado, vaca profana, a vinda de uma escritora foi motivo para ataques públicos – pela internet, claro.

O problema? Ela ter sido candidata ao governo do RJ pelo PT. Quem gastasse um terço do tempo que gastou falando bobagem para pesquisar Márcia Tiburi no Google veria que a mulher, antes de tudo, é escritora.

Os carolas estão vencendo, deusa. Se dependesse deles, Hilda Hist, Ernest Hemingway, Marquês de Sade e tantos outros literatos não poderiam pisar na cidade por conta de posicionamentos político-sociais. Por aqui, não poderiam beber no Bar do Zé, não poderiam tomar mojito no Atari, não poderiam jogar sinuca no Escritório Bar, não poderiam se acabar na batata com queijo e bacon do Tabuleiros.

De canção, somento o epiteto do município e as festas sertanejas. O carnaval público passa longe. Não é de se duvidar: em breve um projeto de lei pode surgir e impedir em Maringá a execução de uma das principais músicas de Jorge Ben Jor.

Afinal de contas, fevereiro já não há; carnaval de rua, menos ainda. Por aqui, o país não é tão tropical.

Com o cancelamento do evento, vaca profana, apesar dos esforços do secretário de Cultura (pasta que faz muito pelo município!), fica um recado: evento, para ser bom em Maringá, tem de ter ou ingresso ou abadá ou a sorte de não incomodar os indomodadores-mor – que bebem e dirigem, não esqueçamos.

Caso um dia queiras vir ao sí… digo, Maringá, avise-me. Eu quero leite bom na minha cara e leite mau na cara dos caretas.

Haja tetas, vaca profana!


* O colunista entra em férias e retorna em abril.

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