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23 de novembro de 2024

MOSTRA SP 2019 – DIA #3


Por Elton Telles Publicado 22/10/2019 às 18h46 Atualizado 25/02/2023 às 03h27
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A 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo segue com a sua extensiva programação, e aqui vão mais três resenhas de filmes que passaram por pelo menos um dos festivais mais prestigiados mundo afora. Tratam-se do bizarro título sueco “Koko-di Koko-da” (Festival de Sundance), do chinês que faz até pedra chorar “Até Logo, Meu Filho” (Festival de Berlim) e a coprodução Brasil e Estados Unidos, “Pacificado” (Festival de San Sebastián), ambientado na favela carioca Morro dos Prazeres.

KOKO-DI KOKO-DA
Origem: Suécia/Dinamarca
Direção: Johannes Nyholm

Em seu segundo longa-metragem, o diretor sueco Johannes Nyholm optou por um jeito bem irreverente e com os dois pés fincados no surrealismo para abordar o luto de uma família. Após a morte prematura da filha, os pais ficam absolutamente desolados. Anos depois, com o matrimônio desfalecendo por conta da tragédia, eles resolvem acampar. Entretanto, durante a viagem o casal vai enfrentar os seus principais medos, personificados em uma trupe de artistas sombrios que vagueiam pela floresta. O que era para ser um final de semana tranquilo se transforma em um terrível pesadelo.

A eficiência da direção é vital para tornar perturbadora a experiência de encarar “Koko-di Koko-da”. Transitando entre o terror e a comédia, o filme não abre concessões na violência gráfica e nem em “brincadeiras” pouco convencionais e totalmente anticlimáticas, como a inserção de animação no meio da trama ou o uso inventivo de recursos, como o flashback, que acabam por engrandecer a narrativa. Reservadas algumas medidas, estamos diante de um cruzamento bem realizado de David Lynch com o indigesto “Anticristo” (2009), de Lars von Trier. Apesar de toda a bizarrice e sadismo que invadem o desenvolvimento da história, no fim das contas, “Koko-di Koko-da” é sobre a aceitação dos eventos desagradáveis da vida, porém contado de um jeito doloroso e sem resquícios de misericórdia. Uma paulada.

 

ATÉ LOGO, MEU FILHO
Origem: China
Direção: Xiaoshuai Wang

Em três horas de duração, o acalentador “Até Logo, Meu Filho” atravessa três décadas acompanhando a vida de duas famílias em uma China marcada por mudanças sociais e políticas. Pela beleza intrínseca dos longos planos e admirável capacidade de absorção, o filme pouco entrega de sua história e o público é rapidamente abraçado pela reconstrução emocional do casal Yaojun e Liyun, após um incidente que levou a vida de seu único filho. Nas tentativas de encontrar um novo sentido para sua existência, marido e esposa – antes pai e mãe – percorrem um caminho cheio de mágoas, reconciliações e (auto)descobertas, cravados em um roteiro melancólico, de ritmo lento, mas que nunca solta a mão do espectador. Com abordagem delicada e minuciosa, é um desafio não se sensibilizar com a trajetória dos protagonistas, diretamente afetada por fatores externos que exprimem as transformações na China do final do século passado, sobretudo a vigência da Política do Filho Único.

“Até Logo, Meu Filho” assume as características de um épico intimista, liderado por duas atuações magníficas dos atores centrais, Jingchun Wang e Mei Yong, ambos premiados com merecimento no Festival de Berlim. O diretor Xiaoshuai Wang, pioneiro do cinema independente chinês nos anos 1990, concebe o filme mais ambicioso de sua carreira, tanto pela estrutura do roteiro que abusa de elipses ao desrespeitar a cronologia das passagens quanto pela crônica familiar expansiva em sentimentos. A fotografia assinada por Hyun Seok Kim é um deleite à parte.

 

PACIFICADO
Origem: Brasil/EUA
Direção: Paxton Winters

A trama de “Pacificado” se desenrola em meio ao programa de pacificação das favelas do Rio de Janeiro, colocado em prática em 2008 pela Secretaria de Estado. A adolescente Tati, de 13 anos, estuda de manhã e trabalha à noite como vendedora ambulante para incrementar a renda de casa, onde mora com a sua jovem mãe solteira. Um dia, sai da prisão e retorna a Morro dos Prazeres o ex-chefe da comunidade, Jaca, que antes assumia o controle do tráfico de drogas na região. Convencido a começar uma nova vida, longe da bandidagem que ronda a favela, Jaca e Tati se aproximam e nutrem uma inesperada comunhão de amizade.

Nem tudo funciona no roteiro escrito pelo norte-americano Paxton Winters, também responsável pela direção do filme. À medida que a trama avança, fica visível a necessidade de haver um conflito maior do que o já instalado. Com a entrada de outra facção na história, “Pacificado” se distrai e perde o rumo, inicialmente tão bem delineado nos conflitos da protagonista e seu olhar desconfiado às dinâmicas da favela.

Ainda assim, o retrato é convincente e os desempenhos do elenco são o grande chamariz, sobretudo a naturalidade da estreante Cassia Gil e Bukassa Kabengele, premiado na categoria Melhor Ator no Festival de San Sebastián, de onde “Pacificado” também saiu vencedor da Concha de Ouro, prêmio máximo do evento.

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