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31 de maio de 2024

Cai nº de cidades em calamidade, mas gestão de desalojados no estado preocupa


Por Agência Estado Publicado 16/05/2024 às 07h22
 Tempo de leitura estimado: 00:00

O governo do Rio Grande do Sul reduziu para 46 o número de municípios em estado de calamidade pública – eram 397 há uma semana. E os principais rios deixaram de ter alertas de alta. Mas ainda se encontram em situação de emergência 320 cidades e há 76 mil pessoas em abrigos. Desde o fim de abril, foram relatadas 149 mortes em decorrência das enchentes no Estado.

A diferença entre situação de emergência e estado de calamidade pública está na capacidade de resposta do poder público à crise, segundo a Defesa Civil gaúcha. No caso da emergência, essa capacidade é afetada parcialmente, de modo que o município precisa de recursos complementares.

Já a calamidade pública se configura quando o desastre compromete completamente a capacidade de resposta do município. O órgão ressalta, porém, que na fase dos planos de trabalho das ações de restabelecimento e reconstrução, em que são buscados os recursos públicos, as autoridades municipais devem comprovar a necessidade e os danos.

A questão dos abrigos

De uma centena até alguns milhares de pessoas, abrigos de diferentes portes, perfis e realidades são criados dia a dia para receber a população. Um balanço parcial do Estado aponta 830 em atividade em 103 municípios, criados tanto pelo poder público quanto pela sociedade civil em clubes, escolas, centros desportivos, paróquias, universidades, escolas de samba, Centros de Tradições e outros espaços.

Um dos maiores abrigos improvisados após a tragédia, somente o câmpus da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, reúne cerca de 6 mil pessoas, além de uma área voltada a animais. Na fase atual, alguns começam a ser montados para grupos com necessidades e características distintas, como para mulheres, pessoas cegas e famílias atípicas. Além disso, um abrigo em Canoas e outro em Porto Alegre são referência para receber crianças desacompanhadas dos responsáveis. A maioria é, contudo, voltada à população em geral, de bebês recém-nascidos até idosos.

Segundo o Estado, os municípios com mais alocados em abrigos são Canoas (18,4 mil pessoas), Porto Alegre (14,3 mil), São Leopoldo (13,9 mil), Guaíba (4,4 mil) e Novo Hamburgo (2,6 mil). Os dados consideram a localização dos espaços, não as cidades onde as pessoas viviam. Um exemplo é Eldorado do Sul, que foi quase que totalmente inundada, e os moradores foram resgatados para outras localidades.

Para os especialistas, o novo momento exige uma dinâmica mais consolidada, organizada, segura e acolhedora à população. Para tanto, precisa envolver treinamentos dos voluntários e funcionários ligados ao setor público, protocolos de atendimento e um maior envolvimento do poder público.

Conflitos têm sido registrados em parte dos abrigos, como brigas, discussões e eventuais furtos, pois existe pouca privacidade e convívio coletivo com muitas pessoas simultaneamente. Professora de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Beatriz Schmidt explica que a resposta em desastres precisa ter ênfase em Primeiros Cuidados Psicológicos. “Envolvem tanto suporte psíquico quanto social às pessoas que enfrentam a situação de crise”, diz.

“Fazemos isso por meio da escuta ativa sobre a história da pessoa, o modo como ela está vivenciando o desastre e as suas principais demandas. Assim, é possível confortá-la, bem como auxiliá-la a buscar outros apoios e serviços.”

Gestão

Também professor da Furg e com experiência em desastres, o psicólogo Lucas Neiva Silva diz que a gestão de um abrigo envolve diferentes momentos de atenção. Um dos primeiros é o acolhimento. Atuando como psicólogo de emergência em áreas de resgate e voluntário num abrigo com 600 pessoas, em Porto Alegre, ele explica que algumas dessas pessoas chegam em um nível de estresse crônico após dias à espera de resgate, por vezes ao relento, molhadas e longe de entes queridos. “Precisa assegurar a essa pessoa o descanso. A falta de descanso pode causar nível de agressividade e impaciência maior, o que gera possíveis conflitos nesses abrigos”, diz.

Para facilitar o convívio, ele indica a divisão das pessoas por núcleos com características comuns: homens solteiros; famílias em geral; famílias com crianças pequenas; mulheres que estão desacompanhadas, dentre outros.

“Quem tem criança pequena tem mais paciência para aguentar a criança pequena ao lado chorando. Abrigando com os seus iguais, pode até criar uma rede de apoio”, exemplifica ele. “Casais e famílias devem ficar longe de homens solteiros. Se alguém achar que o homem solteiro olhou para a mulher casada, pode criar uma situação de conflito”, cita outro exemplo.

Além disso, outra orientação é estabelecer regras claras, de convivência e na distribuição das doações. Como nem sempre chegam em número suficiente para todos, é indicado ter critérios claros, como a prioridade para famílias com bebês, depois com crianças pequenas. “Precisa de critérios objetivos. Para a pessoa saber que está em uma fila e que vai receber em algum momento.”

Crianças

Beatriz destaca que esse acolhimento precisa também apoiar as pessoas que estão em busca de gente desaparecida ou que perderam contato com seus familiares e amigos. E as crianças precisam de atenção em especial. A professora e mais especialistas têm preparado um material com orientações técnicas para atenção psicossocial aos menores de idade nos abrigos, tanto acompanhadas quanto desacompanhadas dos responsáveis. “É uma necessidade de primeiríssima ordem no momento”, ressalta.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgou orientações para apoiar mães, pais e cuidadores no processo de acolhimento e cuidado com meninas e meninos afetados pelas chuvas. “Desastres ambientais podem ser promotores do chamado ‘estresse tóxico’. É importante que os adultos possam oferecer o suporte necessário para que as crianças continuem tendo um desenvolvimento saudável e pleno. Isso pode ser feito por meio do cuidado responsivo, da escuta atenta e do acolhimento na conversa e nas brincadeiras”, disse a oficial de desenvolvimento infantil no Brasil, Maíra Souza.

E o futuro?

Além disso, a prefeitura de Porto Alegre tem falado em uma etapa posterior, quando os espaços temporariamente transformados em abrigos voltarem às atividades normais. A gestão Sebastião Melo (MDB) tem discutido a criação de uma “minicidade” no Complexo Cultural do Porto Seco, na zona norte. A proposta envolveria a permanência dos desabrigados na pista do sambódromo e no estacionamento. A prefeitura pretende discutir a implantação com o governo federal. (COLABORARAM RENATA OKUMURA E VICTÓRIA RIBEIRO)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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