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25 de abril de 2024

Três perguntas de um amigo estrangeiro


Por Victor Simião Publicado 17/01/2019 às 19h30 Atualizado 19/02/2023 às 16h51
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Frederich é um amigo que fiz em 2016. Ele gosta de futebol, churrasco e até sabe cantar uma parte do hino “Deus me livre”, do Raça Negra*. Um brasileiro normal – não fosse o fato de ser um norueguês. Nos conhecemos por acaso quando ele estava de passagem por Maringá. O nosso encontro foi na Biblioteca Pública Central, na Avenida Horácio Racanello. Enquanto Fred – é assim que eu lhe chamo atualmente – procurava por um dicionário inglês-português, eu queria um exemplar de “A História da Arte”, de E.H. Gombrich.

Frederich, quando me viu com o calhamaço na mão, não teve dúvidas. Como estudante de arquitetura que era, me disse que aquele era dos melhores livros sobre o tema que ele já lera. Sim, falou exatamente isso, só que em norueguês.

Ao notar minha cara de desentendido, tipo aquelas que o senador Flávio Bolsonaro (PSL) tem feito quando questionado sobre Queiroz e os depósitos, Fred tratou de se comunicar em inglês. Aí nos entendemos, conversamos. Desde então, somos amigos via internet.

Dia desses, recebi um e-mail dele. O assunto da mensagem me intrigou: “Three Questions From a Foreigner Friend” (Três perguntas de um amigo estrangeiro).

“Saudações diretamente do Quebec, Victor. Como está a vida?”, Fred escreveu no início do texto. E aí relatou amenidades: a pós-graduação em história da arte no Canadá, o frio, a neve, o frio, a neve, o fato de Justin Trudeau ser mais bonito pessoalmente do que em vídeo, o frio, a neve. Na sequência, aí sim, foi ao ponto que o fizera enviar um e-mail para mim.

“Tenho acompanhando o noticiário internacional, e o Brasil não vai nada bem. Queria ter a resposta relativa a três perguntas que estão em minha cabeça. E você, querido Victor, pode me ajudar.”

Abaixo, as questões e as minhas respostas.

***

1) Tenho visto que o Estado do Ceará está passando por uma onda de violência. O crime organizado, de dentro dos presídios, comanda ações nos centros urbanos. O que tem acontecido por lá?

Fred, a gente tem um grave problema em relação à segurança pública. Não só no Ceará, mas em todo o Brasil. Naquele estado, facções realizam ataques a espaços públicos, ônibus etc por conta do endurecimento das forças de segurança pública contra os criminosos que estão presos, segundo o noticiário brasileiro. É uma espécie de vingança. Quem paga a conta, claro, é a população. Infelizmente, caro Fred, as causas do problema são antigas. A penitenciária lotada é o reflexo de um sistema que não tem funcionado. Educação, moradia, acesso à cultura, por exemplo, seriam itens que, se tivessem sido permitido a todos e de forma igual desde sempre, poderiam evitar – creio eu – muitas dessas situações. De certa forma, o Brasil todo é semelhante ao Ceará. Só que, por enquanto, a crise não eclodiu em todo o país.

2) O Ceará é o estado de onde veio Belchior, um dos músicos mais geniais que ouvi no Brasil e tenho ouvido desde então. Apesar de não entender muitas das coisas que ele diz (a língua portuguesa é muito difícil!), me sinto profundamente tocado pela voz e pela melodia. Como é possível surgir alguém tão espetacular de um lugar como o Ceará?

Camarada, nada é tão simples quanto parece. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Resumidamente falando, Belchior viveu em outro momento do país, um Brasil bem menor em relação ao número de habitantes – o que reduz consideravelmente qualquer índice quando analisamos os números absolutos. Creio não conseguir responder rapidamente a sua pergunta, mas me sinto feliz pelo questionamento. Se você citou Bel – era assim que os amigos chamavam Belchior – é porque gostou do “Alucinação”. Eu sabia que lhe dar este álbum de presente seria um dos maiores acertos que eu poderia fazer para você – além, claro, de lhe apresentar a cerveja Glacial. Há um trecho no LP em que Belchior diz: “A minha alucinação é suportar o dia a dia/E o meu delírio é a experiência com coisas reais”. No Brasil, vivemos esses versos cotidianamente.

3) Há meses, uma vereadora e o motorista dela foram brutalmente assassinados no Rio de Janeiro. Passando tanto tempo, não se sabe ainda quem são os autores do crime. Victor, quem matou Marielle Franco e Anderson Gomes?

Essa resposta eu não sei, Fred, infelizmente.

***


O e-mail seguia mas o restante não importa. Por isso, deixo a pergunta de Fred por aqui: Passados 10 meses, quem matou Marielle Franco e Anderson Gomes?

*Fred consegue pronunciar “Didididiê”, talvez o trecho mais importante da canção, fazendo linguinha presa à moda norueguesa. Não fica bom, mas é engraçado.

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