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08 de dezembro de 2025

Saiba quais são os possíveis impactos da guerra em Maringá


Por Lethícia Conegero e Ivy Valsecchi Publicado 12/03/2022 às 15h41 Atualizado 20/10/2022 às 15h29
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Saiba quais são os possíveis impactos da guerra em Maringá
Foto: Arquivo/Marcello Casal Jr./Agência Brasil

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia completa 17 dias neste sábado, 12, e os impactos econômicos já se estendem além das fronteiras do país europeu. O conflito acontece em um cenário delicado, de retomada da economia mundial no pós-pandemia.

O fechamento de portos do leste europeu, assim como as sanções da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) frente ao cenário de guerra, refletem nos preços do barril do petróleo, nas commodities, nos insumos agrícolas e outros setores.

Em entrevista ao GMC Online, o economista João Ricardo Tonin explicou que, no âmbito econômico, o impacto de uma guerra depende do tamanho das economias que estão em conflito e o grau de relacionamento que elas têm com os outros países. O volume de negócios da Rússia e da Ucrânia com o Brasil é de aproximadamente US$ 7,8 bilhões (dados de 2021), considerando importações e exportações.

“Nós dependemos mais deles do que eles de nós. O saldo da balança comercial com esses países é negativo em US$ 4,1 bilhões. Cabe destacar que importamos principalmente combustíveis e insumos agrícolas e exportamos alimentos – troca justa inclusive. Com a guerra, vamos ter que fortalecer a relação comercial com novos parceiros para importar insumos e vender alimentos, ou seja, é possível que ambos os produtos tenham aumento de preços”, frisa Tonin.

Alta nos preços dos combustíveis

A Rússia é uma grande produtora de petróleo e derivados, o que justificaria a alta nos preços de combustíveis, já observada nas bombas dos postos de Maringá. “A partir do momento que as torneiras e registros foram ameaçados de serem fechados, os preços do petróleo explodiram. O impacto que vamos ter diretamente é a grande elevação de preços dos combustíveis, que afeta a cadeia produtiva toda”, frisa o economista. “[Em Maringá], diretamente temos o impacto sobre os combustíveis e custos dos insumos agrícolas, e exportações de carnes e commodities. O que já é observado, por enquanto, é só o preço dos combustíveis. O restante será observado a médio e longo prazo”, acrescenta.

A Petrobras anunciou na quinta-feira, 10, reajustes nos preços de venda de gasolina, diesel e do gás de cozinha para as distribuidoras, após 57 dias sem aumento. A estatal explicou, por meio de nota, que “esse movimento da Petrobras vai no mesmo sentido de outros fornecedores de combustíveis no Brasil que já promoveram ajustes nos seus preços de venda”.

Poucas horas após o anúncio do reajuste, motoristas já formavam filas em vários postos de combustíveis para conseguir abastecer antes dos novos valores entrarem em vigor (a partir desta sexta, 11). Na quinta, 10, a gasolina comum já era comercializada a R$ 7,25 o litro em postos de Maringá, segundo o Procon, que realizou fiscalização na cidade.

E como a elevação dos preços dos combustíveis afeta toda a cadeira produtiva, os impactos podem ir muito além do que já se observa: resultando no aumento da inflação, dos juros e do desemprego, além da redução do crescimento econômico.

“Precisamos considerar que as famílias não tiveram aumento real de renda no último ano, ou seja, o custo de transporte abocanhará uma parcela maior no orçamento familiar, então haverá uma desistência ou uma perda de interesse em ter um veículo em casa. O transporte compartilhado também não terá o seu reajuste de preço no mesmo nível, os serviços praticados pela Uber, 99 e outras empresas, não serão repassados integralmente, e isso vai fazer com que o custo para o motorista seja elevado e é provável que alguns desistam da atividade. Na medida que os motoristas desistem dos veículos locados, impactarão nas montadoras e locadoras. Elas também emprega um volume significativo de pessoas e para ajustar ao novo nível de oferta de mercado, terão que fazer demissões”, finaliza.

Gás de cozinha

O reajuste da Petrobás vai deixar o botijão de gás 16% mais caro para as revendedoras. A estimativa do Sinegás, sindicato que representa as revendedoras de gás de cozinha de Maringá, é que o preço do botijão varie de R$ 128 a R$ 133 nos próximos dias. A última pesquisa de preços indicava variação de R$ 112 a R$ 120.

Segundo o presidente do Sinegás, Francisco Laganar, embora as distribuidoras não concordem com a política de reajuste que vem de cima, é uma reação em cadeia que chega ao consumidor final.

“Para nós, que vendemos o gás, com o aumento dos pneus, do próprio combustível e de outras coisas que influem no preço, como a parte mecânica, mesmo alimentação, tudo influi, vai mudar tudo. Vai influir sobre o custo de vida de todos, desde o consumidor até a revenda. Então é uma reação de cadeia, ninguém consegue fugir disso. […] Nós não estamos de acordo com a maneira que está sendo feita essa precificação”, diz Francisco.

Agronegócio

Entre os possíveis impactos da guerra no setor da agricultura, em Maringá, está o aumento do custo de produção devido à alta nos preços dos insumos agrícolas (como fertilizantes) e dos combustíveis, segundo o presidente do Sindicato Rural de Maringá, José Antônio Borghi. O acréscimo deverá ser repassado no preço dos alimentos.

“Acho que o grande vilão dessa história vai ser o aumento no custo de produção, já que muitos dos insumos são importados daquela região, e o petróleo também. Vai aumentar o custo do frete e, na cadeira produtiva, quando isso acontece, esse custo acaba saindo do produto, da matéria prima que sai das propriedades rurais. (…) Pode prejudicar Maringá de uma forma bastante intensa, porque a cidade é um centro do agronegócio, é um polo do agronegócio, e com certeza sofrerá esse impacto”, destaca.

De acordo com Borghi, a agricultura, assim como os demais setores da economia, já vinha sofrendo com as sucessivas altas devido à pandemia. E a guerra deve agravar este cenário. 

“Depois da pandemia, todos os produtos tiveram um acréscimo grande, não só na agricultura, mas de uma maneira geral: na indústria, máquinas, insumos… O custo dos fertilizantes já praticamente dobrou. E agora este cenário deve ser intensificado em função da guerra, que gerou uma dificuldade na logística e na produção, porque os países envolvidos na guerra e alguns países que são muito próximos, também são grandes produtores de fertilizantes”, acrescenta.

Saiba quais são os possíveis impactos da guerra em Maringá
Foto: Arquivo/Jaelson Lucas/AEN

Além da alta no custo de produção, os agricultores temem a possível falta de insumos. “É uma especulação que já existe e que poderá ocorrer. Para essa safra que está sendo plantada, temos escassez de fertilizantes, mas não temos falta. Mas o produtor está preocupado com a próxima safra, que vai começar agora em setembro/outubro”, destaca.

Diante deste cenário, é importante que os produtores rurais busquem alternativas, segundo o presidente do Sindicato Rural de Maringá. “Vivemos numa região de solos muito férteis e o produtor talvez tenha que se adequar a uma nova situação, uma nova realidade, buscando outras alternativas para fertilização do seu solo e da sua produção”, finaliza.

Há, ainda, uma preocupação por parte dos agricultores com eventuais restrições para a exportação de alguns produtos agrícolas.

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