19 de junho de 2025

Professor de Maringá percorre 12 mil quilômetros de moto entre Brasil e França


Por Ivy Valsecchi Publicado 18/12/2021 às 23h16 Atualizado 21/10/2022 às 01h51
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Moto
Júlio Cesar Gasperim Bandeira tem uma Harley Davidson Heritage 1450 CC californiana. Foto: Arquivo Pessoal

Ter uma moto e percorrer a estrada sempre foi um sonho para o professor universitário Júlio Cesar Gasperim Bandeira, de 40 anos, morador de Maringá. Logo que realizou o desejo de comprar uma motocicleta, Júlio resolveu visitar o pai, que mora em Caiena, na Guiana Francesa, e completar o sonho. A bordo da “Cristina” – nome dado em homenagem à esposa do mecânico responsável por cuidar da motocicleta – uma Harley Davidson Heritage 1450 CC californiana, ele percorreu 12 mil quilômetros entre ida e volta.

Quando contou sobre a viagem, Júlio recebeu apoio da mãe. Já os amigos achavam que ele morreria antes de chegar na primeira divisa de estado. “Acho que até apostaram dinheiro que isso iria acontecer”, diverte-se.

Com a decisão tomada, no dia 26 de julho deste ano, o professor iniciou sua jornada de cerca de 30 dias, em que cruzou vinte e quatro divisas de estado e duas fronteiras de países.

Ele saiu de Maringá na madrugada gelada de uma segunda-feira, e seguiu para São José do Rio Preto (SP). A ansiedade fez com que perdesse as luvas e o fone de ouvido antes mesmo de deixar a cidade. “Passei uma noite na casa de amigos em São José do Rio Preto e depois segui para Minas Gerais. Acampei no triângulo mineiro, em um frio de 2ºC”, conta. No dia seguinte, ele seguiu para Jaraguá, em Goiânia, e enfrentou uma diferença brusca de temperatura: na cidade, a sensação térmica era de 40ºC. Mas o acampamento próximo à BR-153 rendeu um pôr do sol ‘espetacular’. “No quarto dia eu desmontei acampamento às 5h da manhã, fiz um café reforçado e peguei a estrada com destino ao Tocantins”.

Mas, a diferença de temperatura fez com que a bateria da moto pifasse e Júlio precisou improvisar um acampamento próximo à divisa entre Goiás e Tocantins até o dia seguinte, quando chegou uma bateria nova. “Uma coisa incrível é que as pessoas que me ajudaram eram completamente desconhecidas, como motociclistas que também estavam em suas jornadas e se depararam com a minha dificuldade, caras que pilotaram 200km para ajudar um estranho parado na beira da estrada”, relata.

Com a bateria trocada, Júlio seguiu para Palmas (TO), por recomendação dos próprios motociclistas que o ajudaram e disseram que valeria à pena conhecer o ‘lugar fenomenal’. “De fato, eles não mentiram. Foi uma das paisagens mais lindas que eu já vi. Um deserto dourado, pintado pelas cores de um pôr do sol poético”, descreve.

De Palmas o destino seguinte foi Imperatriz, no Maranhão, percurso que Júlio percorreu em um único dia. No sétimo dia ele chegou a Belém do Pará, onde planejou o melhor jeito de chegar até Macapá, no Amapá.

Na capital paraense Júlio colocou a moto em um navio e viajou mais de 30 horas até a linha do Equador, que divide a capital amapaense. O trecho longo ele percorreu deitado em uma rede, sem internet nem telefone.

“Foi um momento de contemplação de um rio amazonas indescritível. Vi as comunidades ribeirinhas, as grandes balsas, comi comida típica, tinha o rio interminável, com margens quase impossíveis de se ver. Perto do meio-dia avistei o porto de Santana, no Amapá”, conta.

Júlio Cesar Gasperim Bandeira

O último trecho antes de chegar na França

Para prosseguir a viagem, o professor subiu novamente em sua Harley e seguiu para o Oiapoque, no Amapá, em uma estrada cheia de buracos, trechos de barro e conflitos indígenas. Mesmo assim, descreve a viagem como ‘perfeita’, até a última cidade antes de chegar em território francês. “Cheguei no Oiapoque na madrugada do décimo dia, sujo, com fome e muito cansado. Os banhos eram em postos de combustíveis, rios ou em um chuveiro portátil”, relata.

A comida era feita em uma cozinha improvisada na própria moto. “A ‘suíte’, era a barraca com um colchonete mais duro que o chão. Mesmo assim, a Cristina (moto) e as histórias da viagem eram a atração principal”, brinca.

Uma paisagem surpreendente fez companhia a Júlio na viagem pelo rio Oiapoque em um pequeno barco até a Vila de Saint Georges de l’Oyapock, no território francês.

“A paisagem me fez pensar estar na Europa. A arquitetura, veículos com placas estranhas e o sotaque francês pelas feiras e ruas. De lá, segui para Montoury, já na região metropolitana da capital Caiena, onde fiquei até o décimo quinto dia de viagem”.

Júlio Cesar Gasperim Bandeira

Dificuldades que se tornaram presentes

Mesmo os perrengues garantiram a Júlio uma viagem perfeita. Ele sentiu frio, calor, teve problemas com a moto, passou por atoleiros, esteve até no meio de cobras e chegou a dormir em um motel cheio de muriçocas.  “Gostei da viagem toda, das pessoas, das paisagens, das comidas, da chuva, do vento no rosto, de acordar e dormir em lugares diferentes. O que eu menos gostei foi do descaso com as nossas estradas”, diz.

No dia 13 de agosto, Júlio iniciou o percurso de volta. O prazo era apertado, porque ele tinha todo o caminho de volta e pouco menos de vinte dias para fazer o trajeto. Para retornar, ele optou pelo litoral. A viagem de volta até Belém foi mais tranquila, já sem a ansiedade de saber como seria embarcar e desembarcar a moto de um navio. Consegui aproveitar melhor as paisagens no Amazonas. Cheguei em Belém, onde fiquei para comemorar meu aniversário no dia 15 de agosto. Aproveitei para comer frutas e iguarias locais, como a maniçoba, o tacacá e o piracuí, uma farinha de peixe desidratado, assado e triturado”, conta.

O destino depois de Belém foi São Luís, no Maranhão. Mas, antes de chegar, Júlio passou por outro perrengue. O parafuso que prendia um dos amortecedores da moto quebrou, devido ao peso e às condições ruins da estrada. O problema fez com que ele precisasse passar a noite na cidade de Pinheiro (MA), o que deu a ele mais um presente de viagem. “O lugar é espetacular, cheio de espelhos d’agua naturais e um povo especialmente hospitaleiro. Mas não ouse falar mal do conterrâneo”, dá a dica.

Assim, Júlio seguiu seu trajeto de volta, em uma viagem permeada por paisagens paradisíacas e desertas, como no Piauí, na praia do Macapá. Passou pelo lugar conhecido como a ‘rota das emoções’, nos lençóis maranhenses, Delta do Parnaíba (PI), e Jericoacoara (CE).

No caminho pela costa brasileira, Júlio passou por Fortaleza (CE) Natal (RN), João Pessoa (PB) Recife (PE), Maceió (AL), Aracaju (SE) e Salvador (BA), onde conheceu pessoas, culturas e lugares incríveis, como o delta do Rio São Francisco, na divisa entre Alagoas e Sergipe. “Andei de moto pela praia, atolei, acampei e dei risada da minha própria burrice”, brinca.

Com o início de uma chuva no litoral, sem capa, que já havia se perdido pelo caminho, Júlio decidiu entrar Brasil adentro em direção a Belo Horizonte (MG), cidade que ainda não conhecia. “Foi mais um trecho de contemplação, com café e pão de queijo”, brinca.

Seguiu então em uma estrada de ‘perder o fôlego’ até São Paulo, e depois pela serra do Rio Turvo até Curitiba, trecho no qual enfrentou um frio de 6ºC. Depois da capital e muitos cafés quentes “para descongelar”, Julio continuou o caminho para Maringá.

A próxima

Os planos incluem uma viagem para o Atacama, mas, dessa vez, com amigos. A moto que será utilizada, segundo Júlio, é só um detalhe, “mas a Cristina é uma boa companheira”.

Para quem tem vontade de fazer uma viagem de moto sozinho, a dica de Júlio é:

“Vai! A vida é curta. Não espere ter a moto ideal. Cruzei com companheiros de bicicleta, com motos de 100 CC, pessoas fazendo romarias a pé, e ouvi a frase ‘para você ir para onde sonha, até um tênis te leva”.

Júlio Cesar Gasperim Bandeira

Canal no Youtube

Por ter sentido falta, durante o planejamento da viagem, de dicas como sobre qual barraca, levar, qual colchão seria mais prático, qual o fogareiro ou panela ideal, Júlio pretende criar um canal no Youtube para dar dicas para quem gosta desse tipo de aventura. “Sobre para onde ir, o que comer e o que levar”.

Em seu perfil no Instagram, o professor também posta fotos da motocicleta e fala sobre suas aventuras.

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