Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso site, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao acessar nosso portal, você concorda com o uso dessa tecnologia. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

21 de novembro de 2024

28 pessoas doaram o corpo em vida em Maringá; saiba como doar


Por Ivy Valsecchi Publicado 27/05/2023 às 07h56
Ouvir: 00:00
Foto: UEM.

A grande certeza da vida é também o maior mistério. Existe vida após a morte? Religião e ciência se implicam na busca por respostas. Há quem tenha o desejo de ser enterrado…há quem prefira ser cremado. Mas você sabia que é possível doar o corpo para a ciência?

No Paraná, a doação de corpos após a morte ou em vida está vinculada ao Conselho Estadual de Distribuição de Cadáveres do Paraná (CEDC/PR). Instituído pela Lei Estadual nº 15.471, de 10 de abril de 2007 e criado pelo Decreto Estadual nº 3.332 de 27 de agosto de 2008, o Conselho atua desde 2009 na distribuição de corpos destinados às Instituições de Ensino Superior do Paraná com a finalidade de estudos e pesquisas.

Segundo a professora e conselheira titular representante da UEM no Conselho, Célia Regina de Godoy Gomes, o primeiro registro de doação de corpo para a UEM foi feito em março de 1999. O segundo foi feito um ano depois, em março de 2000, de Aparecido Rubio de Araújo, que já concedeu entrevista ao GMC Online. “Percebi que poderia ser útil mesmo após a morte, relatou na época o técnico em enfermagem aposentado”.

Até o momento, foram registradas 29 doações para a UEM, sendo 28 de corpos e uma de órgãos. Deste total, três doações foram efetivadas, sendo duas de corpos e uma de órgãos. “Pode ser que dos que não efetivaram sua doação no cartório tenham morrido, porém a família não quis fazer a doação ou não sabia do registro”, explica Celia. O registro mais recente foi feito em fevereiro deste ano.

Por que doar?

Aula prática. Foto: UEM.

Pelo artigo 14 da Lei nº 10.406/2002, “é válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo”.

Na maior parte das instituições de ensino superior, o ensino da anatomia é feito por meio da utilização de corpos de pessoas que faleceram e que não foram procuradas por amigos ou familiares. Pela Lei nº 8.501/1992, esses cadáveres podem ser utilizados para ensino e pesquisa.  

“A maior parte dos cadáveres que temos na nossa instituição são de pessoas que não foram identificadas e não reclamadas, ou identificadas e não reclamadas. Se após 30 dias da morte, não foram identificados e não reclamados, podem ser doados para uma instituição de ensino superior. Atualmente no Paraná será doado para o CEDC e este doará para uma instituição que esteja cadastrada junto a este conselho. Existe também casos, em que familiares doam o corpo para não terem gastos com o funeral, ou seja, com o enterro. Quando doam para a Universidade a família não terá custo nenhum. Uma vez doado à instituição o corpo está disponível para ser usado no ensino e na pesquisa, a legislação permite”, diz Celia.

Celia destaca que a anatomia é uma ciência e, no seu conceito mais amplo, é a ciência que estuda, macro e microscopicamente, a constituição e o desenvolvimento dos seres organizados. “Ela estuda as estruturas do corpo humano importantes para as ciências médicas, e tem contribuído com os ensinamentos e aprendizagem do corpo humano. Portanto, contribui principalmente para o ensino da anatomia humana para as áreas saúde e biológica, mas também para a pesquisa, para a investigação científica. O ensino da anatomia clássica tem sido realizado em todas as universidades do mundo por meio de métodos de dissecação de peças cadavéricas formolizadas”, explica.
 
Corpos doados para a ciência contribuem de inúmeras formas. Confira abaixo:
 

  • Permitem que os profissionais de saúde desenvolvam novos procedimentos cirúrgicos, cada vez mais eficientes e menos agressivos e invasivos;
  • Contribuem para pesquisas relacionadas, por exemplo, ao conhecimento das variações anatômicas existentes nos indivíduos, ao estudo de alguma patologia que o doador possuía, à descrição de estruturas não totalmente elucidadas até o momento, entre outros;
  • Possibilitam a realização de pesquisas relacionadas à antropologia forense, ciência que ajuda a identificar características diferenciais nos indivíduos.  Isso contribui, por exemplo, na identificação de corpos em acidentes aéreos, entre outras situações.
  • Médicos residentes podem aprender e treinar os diversos procedimentos de saúde que são fundamentais para suas especialidades.

Para onde vão os corpos?

Tanque com formol. Foto: UEM.

Após serem doados para qualquer instituição de ensino superior, os corpos vão ser preparados para utilização, que consiste em: fixação e conservação. “Para fixação usamos uma substância química (formalina a 10%), que será injetado/perfundido pelos vasos sanguíneos do corpo, para que possa preservar a integridade dos tecidos. Após este processo ele será colocado em tanques que contenham este fixador para que possa ser conservado. Se bem conservado, um corpo/cadáver dura anos. Após bem fixado, depois de aproximadamente 30 dias, ele poderá ser dissecado. Dissecar consiste em cortar, ir tirando as camadas para o estudo regional de cada parte do cadáver. Esta parte da anatomia é denominada de anatomia topográfica. A anatomia é uma ciência e a dissecação é uma técnica para que possamos estudar os corpos”, explica Celia.

Os corpos doados ficam, portanto, armazenados em tanques contendo uma solução de formol ou glicerina, e quando bem conservados e manipulados adequadamente duram anos. Celia explica que o tempo de uso depende de uma série de fatores, como a causa da morte, o tempo decorrido entre a hora do óbito e a preparação do corpo por meio de técnicas de conservação, o manuseio do corpo durante as aulas e pesquisas.

Como doar?

Para realizar a doação de corpo em vida é necessário ser maior de 18 anos. O doador deverá dirigir-se a um cartório, com duas testemunhas e documentos pessoais, para realizar o termo de intenção ou escritura pública. No documento, deve constar que deseja fazer a doação do corpo para fins de estudo e pesquisa para a UEM ou para outra instituição de ensino superior. Após realizar a escritura pública, é necessário levar uma cópia para a instituição que deseja doar. Na UEM, o Departamento de Ciências Morfológicas dará as informações necessárias para a doação.
 
Segundo Celia, também é possível realizar doação de corpo após a morte, por meio da autorização de familiares. “A família pode fazer essa doação pós-morte em respeito à vontade do falecido. A pessoa pode ter mencionado que gostaria que seu corpo fosse doado, mas nunca efetivou isso no cartório. Ou pode ser que a pessoa não quisesse ser enterrada, ou por motivo religioso. “Os familiares podem doar independente da vontade da pessoa que morreu. Os familiares são soberanos na decisão sobre o corpo. Mesmo não sendo efetivada a vontade em cartório, mas comunicou à família sobre sua vontade, os familiares podem fazer esta doação”, explica a professora.

Não é permitida a doação de corpo em caso de morte violenta ou suicídio, porém a decisão da doação ainda depende da autorização do Juiz ou ministério público.

Para mais informações sobre a doação de corpos para a UEM, clique aqui.

Pauta do Leitor

Aconteceu algo e quer compartilhar?
Envie para nós!

WhatsApp da Redação