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23 de novembro de 2024

Caverna em fazenda da região é rodeada de mistérios; conheça a história


Por Ivy Valsecchi Publicado 01/10/2023 às 15h03
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Caverna localizada dentro de reserva particular no Paraná é rodeada de mistérios: Foto: Arquivo pessoal.

Uma caverna localizada dentro de uma reserva particular na Serra do Cadeado, em Mauá da Serra, no Paraná, e uma descoberta que entraria para a história do Brasil… não fosse por outra descoberta.

A caverna, de difícil acesso, foi esculpida sob um paredão rochoso no meio da Reserva Particular do Património Natural Monte Sinai (RPPN), no interior da Fazenda Monte Sinai – saiba mais sobre a reserva no fim da matéria.

Segundo a presidente do Instituto Monte Sinai, responsável pela gestão da Reserva, Soraya Christoffoli, quando o imóvel rural foi adquirido, na década de 80, os moradores da região relataram que a caverna havia sido utilizada como refúgio do Marechal Henrique Teixeira Lott na época da ditadura militar – entenda abaixo. Era conhecida uma escavação de aproximadamente 30 m² e a caverna ficou conhecida como caverna JK, em menção ao ex-presidente Juscelino Kubitschek.

“Em 1986, quando os meus pais adiquiriram a propriedade, encontraram lá botas do lado da caverna e ração enlatada, de comida militar. Perguntando do que poderia ser aquela escavação, que é um paredão esculpido a mão, os vizinhos comentaram que o Marechal Lott ficou refugiado lá, e essa foi a tese que durou de 1986 até o ano passado. Durante todos esses anos nós acreditávamos que era o Marechal Lott, porque encontramos uma bota militar lá, porque tinha uma lata de ração e porque os vizinhos falavam que tinha movimento lá e que era o Marechal Lott que estava refugiado. Nós só descobrimos a verdade no ano passado”, explicou Soraya ao GMC Online.

Quem foi Marechal Lott

Marechal Lott foi um Ministro de Guerra que teve um papel importante durante a posse de Juscelino Kubitschek e João Goulart. A história que se contava era que durante o golpe militar de 1964Lott passou a ser perseguido pelo regime e se abrigado na Fazenda Monte Sinai, que pertencia a um amigo do governador do Paraná na época, o Lupion. Quando soube que o exército iria sobrevoar a região, o Marechal e os soldados que o acompanhavam decidiram fugir para a mata, onde teriam feito as escavações na caverna para se esconder.

O achado de utensílios militares encontrados próximos à caverna em 1986, na mata ciliar, reforçaram a tese de que o lugar guardava alguma relação com a ditadura militar. Essa história, conforme contou Soraya, foi divulgada na região por vários anos, com publicações em jornais e programas televisivos – veja abaixo o registro de uma matéria públicada na Folha de Londrina em junho de 2010.

Até que surgiu uma nova descoberta. Contudo, primeiro é necessário apresentar um personagem crucial para que a caverna ficasse ainda mais conhecida como ‘um local da ditadura do Brasil’.

Foto: Reprodução/Arquivo pessoal.

O ‘repórter selvagem’

O biólogo de Apucarana, Fernando Felippe Rodrigues, conhecido como o ‘repórter selvagem’, escavou a caverna e descobriu que o local era maior do que se imaginava. Foto: Arquivo pessoal.

Por suspeitar que a caverna tinha mais do que apenas 30m², com dois poços, um seco e outro com água, o biólogo de Apucarana, Fernando Felippe Rodrigues, conhecido como o ‘repórter selvagem’, pediu autorização para explorar o local junto com um guarda muncipal e com o biólogo responsável pelo local, Udson Mikalouski.

“Em setembro de 2022, o biólogo Felipe apresentou interesse em fazer algumas reportagens sobre a RPPN Monte Sinai. Após algumas visitas, foram gravados 8 episódios e apresentados no programa Repórter Selvagem do Canal 38, tendo como objetivo o registro de alguns projetos ambientais desenvolvidos, destacando a importância da preservação do meio ambiente (educação ambiental). Numa destas reportagens, ao visitar a caverna JK, o biólogo Felipe juntamente com o biólogo Udson e o guarda florestal José descobriram as escavações subterrâneas”, conta Soraya.

Então, em uma escavação de rapel, o biólogo descobriu mais 120 m² na caverna. “Desconfiei que havia mais do que parecia alie junto com o Udson decidi explorar o local mais a fundo, usando rapel. Encontramos novas galerias na caverna, um espaço pelo menos 3 vezes maior do que o já conhecido, de cerca de 120 m². Quando desci o poço seco achei túneis e depois esse espaço maior até então desconhecido. Também encontramos pacotes de velas, pedaços de madeira e cordas no local que teria sido usado como esconderijo por militares perseguidos pelo golpe de 64”, diz Fernando.

“Tinha dois poços dentro da caverna, que diziam que um era para o Marechal se esconder, e outro era um poço com água. Mas um comandante do exército não iria pular dentro de um poço, ficar acuado. Fiquei desconfiado de que houvesse um outro esconderijo, então peguei meus equipamentos de rapel, chamei o Udson e o guarda ambiental que é de lá. Estava com isso na cabeça. Desci de rapel e descobri essas galerias. Desci de rapel e na hora já bati de cara no túnel. Fiquei muito feliz porque eu tinha certeza que tinha alguma coisa. Mas até entao achei que era do Marechal Lott”, relatou ao GMC Online.

Veja fotos do dia em que o ‘reporter selvagem’ descobriu mais 120m² na caverna do Paraná

A reviravolta

Após a descoberta do ‘repórter selvagem’, e com a repercussão e interesse geral pelas reportagens divulgadas pelo Canal 38, Soraya Christoffoli decidiu aprofundar a investigação sobre a caverna e buscar a comprovação da estadia do Marechal Lott na propriedade. “Conversei com dois especialistas sobre a vida do Marechal Lott: Wagner William que publicou a obra “O soldado absoluto: Uma biografia do marechal Henrique Lott”, e Karla Carloni, que publicou a obra “Marechal Lott. A Opção das Esquerdas. Uma Biografia Política”. Ambos atestaram que não há indícios de que o Marechal Lott tenha se refugiado na reserva que hoje é RPPN Monte Sinai. Na sequência, conversamos com alguns geógrafos e mostrando as fotos das escavações, concluímos que a gruta foi esculpida por mineradores em busca de minérios. Ela chama caverna JK, mas foi esculpida 120 metros no subterrâneo e 30 metros no térreo para a procura de minérios”, explicou ao GMC Online.

De acordo com Soraya, acredita-se que a história sobre o Marechal Lott tenha sido divulgada para espantar interesse de curiosos, já que na realidade estava sendo explorada por mineradores na década de 70/80 e que ao não encontrarem maiores mais evidências de minérios preciosos desistiram da escavação e abandonaram a caverna.

Os mistérios que envolvem a caverna JK ainda serão desvendados, já que se pretende aprofundar estudos sobre a mesma – saiba mãos abaixo.

Imagem de um dos compartimentos encontrados pelo biólogo. Reprodução/Arquivo Pessoal.
Pedaço de madeira encontrado dentro de um dos compartimentos da caverna. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal.

O que o futuro reserva?

Botas e rações não comprovam que a caverna era um refúgio de militares. Além disso, conforme destaca Soraya, a maneira pela qual o local foi construído comprova que foi para escavação de minérios.

Ainda assim, faltam respostas. Segundo Soraya, o objetivo é fazer uma pesquisa em parceria com departamento de geografia da UEM em 2024 para continuar as invesrtigações.

Saiba mais sobre a reserva onde está localizada a caverna

A Reserva Particular do Património Natural Monte Sinai é uma Unidade de Conservação de domínio privado que tem como objetivo conservar a biodiversidade, proteger os recursos hídricos, fazer o manejo de recursos naturais, desenvolver pesquisas cientificas, proporcionar atividades de ecoturismo, educação ambiental, preservando as belezas cênicas e ambientes históricos.

Com uma área de aproximadamente 310 hectares de mata nativa e em regeneração natural, a RPPN Monte Sinai está localizada na Serra do Cadeado em Mauá da Serra-PR. Sua área representa um importante remanescente de mata atlântica, com vegetação predominante do tipo Floresta Ombrófila Mista (FOM) com araucárias, que abrigam espécies raras de animais e vegetais, constituindo uma importante unidade de preservação destas espécies, várias delas ameaçadas de extinção.

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