Após 19 anos, Cianorte e Corinthians voltam a se enfrentar no Willie Davids; relembre o primeiro duelo
A partida única, entre Cianorte e Corinthians, valida pela primeira fase da Copa do Brasil, será realizada em Maringá. A informação foi confirmada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na noite desta sexta-feira, 9.
O duelo marcará um reencontro entre as equipes após 19 anos. Na mesma Copa do Brasil, o WD foi palco de um jogo que ficou marcado na história dos dois times, principalmente na do Leão do Vale do Ivaí.
Um confronto vivo na memória
O duelo realizado em 2005 foi válido pela segunda fase da Copa do Brasil daquele ano. Diferentemente do formato atual, a equipe classificada era definida após jogos de ida e volta. Por essa razão, o “galático” Corinthians — que se sagrou campeão brasileiro naquela temporada — veio à Maringá para enfrentar o Cianorte, no Estádio Regional Willie Davids. O Leão do Vale do Ivaí, visando maiores arrecadações de bilheteria, não mandou a partida para a sua cidade, assim como acontecerá neste ano.
O Alvinegro Paulista era formado por um elenco de grandes estrelas, como Carlos Alberto (campeão da Champions League com o Porto-POR, em 2004), Roger Flores, Tévez e o grande artilheiro Gil. No comando do time, o técnico argentino Daniel Passarella fazia sua estreia. Do outro lado, com apenas três anos de fundação até então, o Cianorte, comandado por Caio Júnior (técnico da Chapecoense e vítima do acidente aéreo em 2016), fazia sua primeira participação na história da competição (ganhou a vaga após o título do interior no Paranaense, em 2004).
Apesar das grandes diferenças, o Cianorte não tomou conhecimento do Timão jogando em Maringá e venceu de forma arrasadora, por 3 a 0. Os gols foram marcados por Édson Santos e Márcio Machado (2x), que anotou um deles de bicicleta. Era um roteiro inimaginável, com cenas capazes de orgulhar os diretores de Hollywood.
Para o jogo de volta, no Pacaembu, a pressão pelo resultado do Corinthians era gigatesca e o Cianorte vinha para tentar uma classificação história, depois de um ótimo resultado no primeiro jogo, difícil de ser revertido. O brilho de Roger Flores e Tévez, porém, acabou com as chances do Leão do Vale, que foi derrotado por 5 a 1, somando uma placar agregado de 5×4 para o Corinthians.
O jogo de ida
O primeiro confronto entre Cianorte e Corinthians pela Copa do Brasil de 2005 aconteceu no dia 9 de março. O Willie Davids estava lotado, com mais de 19 mil pessoas esperando para ver um dos melhores times do Brasil encarar um fraco adversário e goleá-lo.
O Corinthians — e os torcedores — só não esperavam que quem abriria o placar fosse o Cianorte, ainda mais logo no início da partida, aos oito minutos. Em escanteio pela esquerda, o jogador do Leão do Vale cobrou muito fechado, na segunda trave. A bola passou por toda a defesa até chegar nas mãos de Fábio Costa. Ou quase isso. O goleiro fez o movimento para segurar a bola no alto, mas deixou ela passar. Atento, o defensor Édson Santos, livre sem marcação e com o gol aberto, pegou a sobra de cabeça e foi para o fundo das redes.
Os presentes no estádio ficaram ainda mais surpresos quando, um minuto depois, o Cianorte fez mais um. De muito longe, o meia Daniel Marques mandou uma bomba para o gol. No meio do caminho, na linha da grande área, estava Márcio Machado. O atacante desviou a trajetória da bola e enganou Fábio Costa, que nada pôde fazer.
Quando parecia que nada podia piorar para o Corinthias, Márcio brilhou novamente e entrou para a história. Aos 36 minutos, ainda no primeiro tempo, o Cianorte chegou mais uma vez ao ataque, quando Márcio interceptou um chute de fora da área. No domínio, a bola subiu e atacante emendou uma linda bicicleta, novamente sem chances para Fábio Costa.
O placar não se alterou até o fim da partida e o Cianorte foi protagonista de uma noite inesquecível.
Ficha técnica – Cianorte 3×0 Corinthians
Competição: Copa do Brasil
Local: Estádio Regional Willie Davids – Maringá (PR)
Árbitro: Elvécio Zequetto
Cartão vermelho: Anderson Cléber (COR)
Gols: Márcio Machado (duas vezes) e Édson Santos
Público: 19.500
Renda: R$ 380.000,00
CIANORTE: Adir; Édson Santos, Diego, Fábio Carioca, Daniel Marques, Rocha, Cuca, Roberto (Dário), Maurício, Márcio Machado (Djames) e Pinho (Valdiran).
Técnico: Caio Júnior
CORINTHIANS: Fábio Costa; Coelho, Anderson Cléber, Sebá Dominguez, Edson Sitta, Wendel (Bobô), Fabrício de Souza, Carlos Alberto, Roger Flores (Gustavo Nery), Carlos Tévez e Gil.
Técnico: Daniel Passarella
O jogo de volta
No segundo jogo do confronto, em 6 de abril de 2005, o Corinthians foi a campo precisando vencer por quatro gols de diferença para avançar. O palco da partida novamente estava lotado: mais de 34 mil pessoas estavam no Pacaembu.
Reverter a grande vantagem do Cianorte seria uma tarefa difícil, mas esperava-se que o Corinthians fosse para cima e, pelo menos, marcasse gols. Do lado azul, a esperança de eliminar um gigante brasileiro era enorme. Um sonho que foi abalado logo nos minutos iniciais. Rocha recuou errado para Adir e Tévez aproveitou, driblou o goleiro e mandou a bola para o gol vazio, aos 12 minutos.
O sonho estremecido foi reanimado ainda na primeira etapa. Novamente, Édson Santos — autor de um dos gols no primeiro jogo — marcou para o Leão do Vale e empatou a partida. Aos 28 minutos, em falta cobrada da intermediária, um jogador do Cianorte cabeceou a bola e Fábio Costa espalmou para frente. No rebote, Édson Santos completou de perna esquerda. O gol, no entanto deveria ter sido anulado, pois quatro jogadores do Leão estavam em posição de impedimento.
Assim, o Timão voltava a precisar de mais quatro gols, restando 60 minutos para o fim do jogo. E teve um alívio, quando Roger Flores dimuniu o tamanho da missão nos minutos finais do primeiro tempo. Marcelo Mattos encontrou o meia-atacante entrando na área, que dominou e bateu forte no canto, aos 44. Antes disso, Bobô protagonizou um lance inacreditável, ao isolar uma bola de frente para o gol completamente vazio.
Os jogadores corinthianos voltaram do intervalo querendo resolver logo seus problemas. E conseguiram. 42 segundos depois da saída no círculo central, a bola chegou para Carlos Aberto na direita, depois de um cruzamenteo de Roger Flores. O meia dominou e rolou para Tévez marcar seu segundo gol na partida e o terceiro do Corinthians.
A equipe paulista estava fulminante. Aos cinco minutos do segundo tempo, Carlos Aberto acertou o travessão. Aos seis, Roger Flores também chegou ao seu segundo gol, com uma bela ajuda do goleiro Adir. O meia do Corinthias cobrou falta de longe, que passou pela barreira. Adir estava bem posicionado e iria encaixar a bola no peito, mas um passo para a direita fez que com ele tomasse um frango, deixando a bola passar pelos seus braços. Era o quarto gol do Timão.
Depois disso, Marcelo Mattos também acertou o travessão e, restando dez minutos para o fim, o Corinthians chegou ao seu gol salvador. Gustavo Nery adiantou a marcação dentro da área e bateu firme no canto esquerdo do goleiro. Enfim, a equipe paulista pôde comemorar a classificação e a festa parecia ser de final de campeonato. Classificado para a terceira fase, um vexame histórico foi evitado na Copa do Brasil de 2005.
Ficha Técnica – Corinthians 5×1 Cianorte
Competição: Copa do Brasil
Local: Estádio do Pacaembu – São Paulo (SP)
Árbitro: Lourival Dias Lima Filho
Gols: Tévez, aos 12′, Édson Santos, aos 28′, e Roger, aos 44′ do 1º tempo; Tévez, ao 1′, Roger, aos 6′, e Gustavo Nery, aos 34′ do 2º tempo
Público: 34.330 pagantes
Renda: R$ 492.982,00
CORINTHIANS: Fábio Costa; Sebá, Marinho (Rosinei) e Betão; Edson, Marcelo Mattos, Carlos Alberto (Hugo), Roger e Gustavo Nery; Carlitos Tévez e Bobô (Jô).
Técnico: Daniel Passarella.
CIANORTE: Adir, Édson Santos, Diego e Fábio Carioca; Daniel Marques, Cuca, Rocha, Robert e Maurício (Thiago); Binho (Dario) e Márcio (Valdiran).
Técnico: Caio Júnior.
Alguns personagens daquela noite
Um dos grandes jogadores da equipe, Roger Flores concedeu entrevista ao ge em 2020 e falou sobre o duelo. Para ele, uma eliminação “seria um vexame”, pois o Cianorte era, naquele momento, “um time totalmente desconhecido” e enfrentava o “time mais badalado do cenário nacional”.
O vexame seria inesquecível, e muitos acreditavam que era possível. Milton Leite, que fazia sua estreia nos canais Globo justamente na partida do Pacaembu, resgatou algumas memórias daquele dia, também ao ge. “Uma das coisas que me lembro com muita clareza é que pouca gente acreditava que o Corinthians fosse superar o Cianorte”, recordou o narrador.
Mas talvez o caso mais curioso de todo o duelo foi do goleiro do Cianorte. Determinante no gol de falta de Roger Flores, Adir, então com 33 anos de idade, saiu de campo comunicando à imprensa sua aposentadoria do futebol. “Vou repensar minha carreira. Talvez seja a hora de parar”, disse o jogador do time paranaense. Muito abalado com a derrota, o goleiro chegou a admitir que aquele dia havia sido o pior da sua vida e que nunca havia jogado tão mal em toda a carreira.
Apesar de não ter sido um confronto decisivo para o campeonato, os roteiros de Cianorte x Corinthians ficaram gravados na memória de muitos torcedores. De uma vitória improvável e histórica a uma virada de um todo poderoso contra um recém-criado time do interior, mas que parecia estar vestido com as cores do maior rival.
O duelo ficou marcado na memória esportiva de Maringá. Até hoje, o primeiro jogo representa a maior vitória do Cianorte em todo o seu tempo de existência. A segunda partida, um marco para o Corinthians do livramento do que seria uma das maiores vergonhas de toda sua história.
Agora, resta ver quem levará a melhor no desempate.
Com informações de ge.globo, ESPN e Estadão.