Série relembra tetra e mostra como é difícil formar uma seleção campeã mundial
Uma mistura equilibrada entre jogadores experientes e jovens, um grupo unido e “blindado”, um treinador dono de ampla bagagem e de boas doses de sabedoria e um craque em momento iluminado. Essa é a receita que a série “O Tetra pelo Tetra”, da ESPN, apresenta como a fórmula do sucesso que levou a seleção brasileira ao tetracampeonato mundial há exatos 30 anos, em 1994, nos Estados Unidos.
A série, que vai ao ar na TV a partir do dia 20, traz sete entrevistas, com Carlos Alberto Parreira, Romário, Bebeto, Ricardo Rocha, Branco, Jorginho e Mauro Silva. Os bate-papos, todos em tom informal e quase biográficos, são comandados por Zinho, titular da conquista de 94 e atualmente comentarista do canal.
As conversas são entremeadas por vídeos feitos pelos próprios jogadores no ônibus que transportava a delegação pelos EUA, em meio a arroubos humorísticos de Ricardo Rocha, muitas risadas e alguns pandeiros.
Essas inserções e a intimidade de Zinho com seus ex-companheiros de seleção acabam mapeando o segredo do sucesso daquele time, com dicas e chaves a cada bate-papo. E, a julgar pelos depoimentos, a Copa de 94 começou a ser conquistada no Mundial anterior, em 90. Não por acaso é mencionado com frequência na série o famoso “quarto dos dinos”, em referência aos dinossauros do time, aqueles que foram eliminados pela Argentina quatro anos antes. “A Copa de 90 foi o vestibular para o título de 94”, diz Ricardo Rocha.
O tetra, sendo visto “de dentro” a cada bate-papo, revela elementos óbvios, como a disciplina tática imposta por Parreira, nos treinos “cháticos”, na definição bem-humorada de Branco. A liderança de atletas experientes, como o ex-lateral-esquerdo, também aparece como decisiva para acalmar os ânimos dos mais jovens e até dos mais rebeldes.
Se a experiência de uns ajudava de um lado, de outro o alto astral exerceu papel determinante na conquista, na definição unânime dos entrevistados. E o protagonista foi Ricardo Rocha, o titular com menos minutos em campo – se machucou no primeiro tempo da estreia e só foi mantido na delegação pela importância extracampo. “Ricardinho (Rocha) foi muito importante para o grupo. Jogou uma partida só, mas como foi útil para o grupo!”, disse Parreira.
Apesar do discurso em favor da coletividade, ninguém negou a importância de Romário. O hoje senador, acostumado a frases fortes a respeito de sua própria carreira, pegou leve na série e até ensaiou uma reaproximação com Bebeto, seu eterno parceiro de sucesso na seleção. Ambos se afastaram nos últimos anos por divergências políticas.
Mas, como disse Zinho em um dos bate-papos, “só o talento não vence”. E a união do grupo é um dos mantras da série. Neste sentido, mais do que revelar bastidores, as entrevistas mostram uma união incomum dentro da seleção. Algo quase impossível de repetir em tempos de conexão total nas concentrações, com jogadores tendo acesso a notícias e contatos a qualquer momento na tela do celular.
A blindagem de 94, tão útil para favorecer a união, atualmente é quase impossível. Mas as demais lições do tetra podem ser de grande valia para os sonhos da atual e das futuras seleções do Brasil.