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18 de julho de 2024

‘Geada negra’ de 1975 e as lembranças de quem viu a destruição de perto: ‘não sobrou nada’


Por Fábio Castaldelli Publicado 18/07/2024 às 14h56
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Em 18 de julho de 1975, há 49 anos, Maringá e diversas regiões do Paraná foram atingidas por uma geada devastadora que ficou marcada na memória de muitos moradores como a “geada negra”. Este evento não apenas transformou a paisagem agrícola, mas também mudou vidas e histórias para sempre.

Marco Bruschi Neto foi um desses moradores cuja vida foi radicalmente alterada. Em entrevista do GMC Online em 2021, O produtor rural perdeu todas as lavouras de café e trigo no sítio da família, localizado na Estrada Pinguim, em Maringá. “A terra estava muito molhada porque tinha chovido bastante dias antes, então congelou a superfície da terra. Pela quantidade de gelo, a gente já sabia que não ia salvar nada. E não sobrou: nem café, nem trigo e nem pastagem. Foram dias muito difíceis”, relembra Bruschi em entrevista ao GMC Online.

A perda foi tão devastadora que Bruschi nunca mais plantou café. “Fui criado mexendo com café até aquela data e tenho boas recordações, mas depois disso nunca mais. Desanimou os cafeicultores, foram poucos que continuaram. Já tinha começado a aparecer ferrugem, e depois veio a geada. Começamos a plantar soja e trigo, e o milho safrinha demorou um pouco mais”, disse ele.

O historiador Reginaldo Dias, que era criança na época e morava na Vila Operária, também guarda lembranças vívidas daquele inverno rigoroso. “As casas eram de madeira, não tinha muita vedação, forro ou muro – eram cercas de balaústre. E a casa da minha família era precária, então fez muito frio, mas até então eu não tinha noção do que estava acontecendo”, relatou ao GMC Online em 2021.

Pouco depois da geada, uma viagem de trem revelou a ele a extensão da tragédia. “Me lembro de ir para a casa da minha tia, em Rolândia, e o trem passar no meio do cafezal. Eu olhava para os dois lados e era uma tristeza ver aquele cafezal morto. O café tem uma flor tão linda, mas estava tudo morto. Foi uma imagem desoladora, nunca me esqueci. Foi ali que tive noção do que tinha acontecido”, conta o historiador.

‘Geada negra’ em fotos

As lavouras assoladas pela geada negra naquela madrugada fria estamparam as manchetes do extinto jornal O Diário do Norte do Paraná no dia seguinte. As culturas de café e trigo foram as mais prejudicadas, e o cenário de destruição foi registrado por fotógrafos como Valdir Carniel, Moracy Jacques e José Antonio Tofanetto. Naquela madrugada, os termômetros marcaram temperaturas alarmantemente baixas: 4ºC em Maringá, 1ºC em Mandaguaçu, 6ºC em Marialva, 2,8ºC em Paranavaí, 2,5ºC em Cianorte, 3ºC em Umuarama e 4ºC em Curitiba.

Inverno de 1975: Relembre a geada negra em Maringá e região; FOTOS
Foto: Acervo Jornal O Diário do Norte do Paraná/19 de julho de 1975

O então governador do Paraná, Jaime Canet Júnior, chegou a Maringá no início da tarde do dia 18 para avaliar os danos. Dois dias depois, ele se reuniu em Londrina com Camilo Calazans, presidente do Instituto Brasileiro do Café (IBC), para discutir medidas de apoio aos produtores rurais que perderam tudo.

Inverno de 1975: Relembre a geada negra em Maringá e região; FOTOS
Foto: Acervo Jornal O Diário do Norte do Paraná/19 de julho de 1975

A geada negra recebe esse nome porque provoca o congelamento da parte interna da planta que, por consequência, queima e fica com aparência escura. 

Foto: Acervo Jornal O Diário do Norte do Paraná/19 de julho de 1975
Foto: Acervo Jornal O Diário do Norte do Paraná/19 de julho de 1975

Outras fotos mostram os efeitos da geada negra no campus da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Em um dos registros, aparece o então reitor da instituição, Rodolfo Purpur.

Foto: Acervo Jornal O Diário do Norte do Paraná/19 de julho de 1975
Foto: Acervo Jornal O Diário do Norte do Paraná/19 de julho de 1975

Nos diversos municípios paranaenses, muitas residências amanheceram sem água no dia 18 de julho de 1975 porque o líquido congelou. Abaixo, um registro feito em Jandaia do Sul (a 42 quilômetros de Maringá).

Inverno de 1975: Relembre a geada negra em Maringá e região; FOTOS
Registro feito em Jandaia do Sul. Foto: Acervo Jornal O Diário do Norte do Paraná

Documentário

No dia 18 de julho de 1975, as lavouras de café no Paraná foram destruídas por uma forte geada, que entrou para a história como a “Geada Negra”. Mas o ouro verde se reinventou e, nesta data emblemática, será lançado em Maringá o evento Ca Fé On.

O lançamento será às 19h30 desta quinta-feira, 18, no Centro de Ação Cultural, com a apresentação do documentário “Geada Negra” seguida de um bate-papo com o historiador Reginaldo Dias, professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e colunista de O Assunto é Política, às sextas-feiras na CBN Maringá.

Para saber mais sobre o Ca Fe On, confira a entrevista da diretora criativa do evento, Danielle Cenerini, à CBN Maringá. 

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