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06 de agosto de 2024

Representantes regionais do atletismo voltam sem medalha, porém vitoriosas


Por Brenda Caramaschi/CBN Maringá Publicado 05/08/2024 às 15h45
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Nascida em Querência do Norte, Valdileia Martins não conseguiu competir na final do salto em altura feminino dos Jogos Olímpicos de Paris nesse domingo, 4. Mas conseguiu igualar o recorde nacional antes de se lesionar. E Flávia Maria, que não chegou à final dos 800 metros volta de Paris com uma vitória pessoal: se tornou símbolo na luta contra o machismo estrutural.

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Foto: Divulgação/Grupo Integrado

Estreante em Jogos Olímpicos aos 34 anos de idade, Valdileia Martins fez a melhor marca da carreira nas eliminatórias saltando 1,92m, garantiu vaga na final e igualou o recorde brasileiro de 1989, de Orlane Maria dos Santos, que conquistou a marca em Bogotá, na Colômbia. Mas na prova olímpica na capital francesa, Valdileia torceu o tornozelo ao tentar superar a marca, saltando 1,95m.

A saltadora iniciou uma corrida contra o tempo para ficar saudável para competir neste domingo e se apresentou para a decisão da prova com o tornozelo enfaixado, entretanto acabou desistindo ainda na corrida da primeira tentativa de salto. Parou no início do movimento e informou estar sem condições físicas para continuar. [ouça o áudio acima]

A força para estar presente na final, mesmo lesionada, veio do pai, que faleceu aos 74 anos na segunda-feira, 29, vítima de um ataque cardíaco, quando a atleta já estava na Europa, na reta final da preparação para a disputa olímpica, diz o irmão de Valdileia, Ezequiel Martins.

Tinha hora que ela queria parar, mas o pai falava, não, filha, não para não, tem que continuar, que a vida é assim mesmo, pode desistir, pega a cabeça e vai, que você vai conseguir chegar lá. E foi, igual hoje, ela plantou e teve que ficar cultivando, né, cultivando até começar a colher o fruto, aí começou a colher o fruto, agora ela está saboreando o sabor do fruto. Mas é uma carreira bonita, né, que ela está fazendo e a família está muito orgulhosa dela, o município aqui, todo mundo, né, todo mundo orgulhoso para ela sair aqui de baixo, né, para chegar lá onde ela está hoje.

A medalha não veio, mas a história de vida de Valdileia conquistou o Brasil. O primeiro passo na preparação para que ela pudesse representar o País nas olimpíadas foi dado quando ela estava na sexta série do ensino fundamental em uma escola pública do pequeno município de Querência do Norte, como relembra o primeiro treinador, o então professor de educação física, Flávio Rodrigues.

É uma escola só de alunos carentes, alunos que não tinham nem quase contato com o mundo urbano. Havia jogos colegiais aqui todo ano e as crianças queriam ter uma oportunidade de participar desses jogos colegiais. Só que a gente não tinha estrutura de formar times de esporte coletivo. No caso da Valdileia, ela estudava sexta série na época e ela tinha 12 anos quando eu comecei a trabalhar com ela, as alunas que foram competir com a Valdileia eram do colégio particular de Londrina, Curitiba, Foz do Iguaçu, do Circuntel, centro de atletismo, centro de referência. As alunas tudo bem arrumada, com sapatilha, com roupa adequada, porte físico, musculação. A Valdileia era até um pouco corcunda na época, não tinha definição de musculatura, simples. E eu levei, não só ela, levei vários alunos lá na época e eles não tinham estrutura nenhuma. Nós fizemos uma arrecadação aqui e levamos para Curitiba e a maioria não tinha nem sapato, nem tênis. Ela competiu descalça.

Valdileia Martins chorou ao abandonar a prova, mas a família sabe que, mesmo sem medalha, ela volta vencedora, depois de realizar um sonho de estar entre os melhores do mundo representando o Brasil.

Para a menina que saltava descalça, usando varas de bambu e caindo sobre palha de arroz chegar a uma final olímpica, foram anos de preparação, treinos, lesões, altos e baixos. De Querência, Valdileia veio para Maringá, depois para o interior paulista. Desde 2018, Dino Cintra é o treinador que ela escolheu e conta sobre como ela conseguiu chegar à marca obtida em Paris.

“Quando ela conseguiu ficar mais forte treinando sem o joelho inchar, nunca mais inchou, a gente iniciou um trabalho mais forte, um trabalho mais específico. E aí ela começou a trabalhar na academia com bastante peso, comecei a trabalhar bastante saltos, força de saltos. E até hoje ela continua com esse trabalho feito pela fisioterapeuta. E daí para frente ela foi evoluindo, foi voltando. A melhor marca dela era 1,88, que ela saltou uma vez. Voltou a saltar 1,87, 1,88. E do ano passado para cá, a evolução foi enorme.”

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Foto: Wander Roberto/COB

Também no atletismo, Flávia Maria de Lima, de 31 anos, que representa Campo Mourão, não avançou para as semifinais e se despediu das Olimpíadas de Paris, na manhã desse sábado, 3, após chegar em sexto lugar na prova dos 800 metros livre. Nas redes sociais, ela agradeceu, sem perder o otimismo mesmo após deixar a competição.

A presença de Flávia nas Olimpíadas levantou uma bandeira de inspiração para outras mulheres na luta contra o machismo. A paranaense foi para a Europa em meio a uma disputa judicial com o pai da sua filha de seis anos. Segundo a atleta, o pai da criança utiliza como argumento no processo as frequentes viagens feitas pela paranaense para participar de competições.

Oi, Brasil. É difícil ser mulher. A busca pela liberdade e deixar de ser um objeto, de ser posse de alguém, é uma luta difícil. Mas é algo que vale a pena batalhar e correr atrás. Pela segunda vez, estão tentando me silenciar para que eu não conte mais a minha história, para que eu seja proibida. E eu fico aqui me questionando. Quantas mulheres são silenciadas diariamente? Quantas mulheres vêm procurando ajuda, procurando suporte, achando maneiras de contar sua história e sua dor e são amordaçadas pelo machismo? Porque eles acham que têm o poder de controlar a nossa vida e que a gente tem que viver reprimida para o resto da vida. Então, vocês já sabem. A partir do momento em que eu não me pronunciar mais a respeito, é porque eu fui silenciada. Mas não porque eu quis. Porque eu sou vista como um objeto.

A defesa do ex-marido de Flávia afirma que não tem interesse em se manifestar, pois o processo tramita em segredo de Justiça.

Pela primeira vez, nesta edição das Olimpíadas, há mais mulheres do que homens na delegação brasileira e ainda há representantes do noroeste paranaense com possibilidade de pódio: são as atletas maringaenses Adriana Cardoso e Gabriela Moreschi, do handebol, que disputam as quartas de final contra a Noruega no dia 6 de agosto. A mãe da Gabi, Carla Moreschi, está na França acompanhando os jogos da filha e fala sobre a emoção da última partida, contra Angola, que garantiu a classificação.

“Estou muito, muito, muito feliz. Um jogo excepcional, um jogo importantíssimo hoje. Arena lotada, muitas vibrações dos brasileiros. E assim, eu posso dizer que eu realmente não infarto mais. Que emoção, que jogo sensacional. As meninas se acharam em quadra, a Gabriela fechou totalmente o gol. Que emoção. Eu estou muito, muito, muito, muito feliz. Nós estamos bem felizes mesmo com a próxima etapa. A gente já sabe que alcançamos grandes coisas. Muito feliz mesmo, de verdade.”

Veja outras matérias na CBN Maringá.

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