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09 de setembro de 2024

‘Só aparecia a mão dele sobre os grãos’, diz bombeiro sobre trabalhador resgatado com vida em silo em Maringá


Por Brenda Caramaschi com informações de CBN Maringá Publicado 05/09/2024 às 15h31
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Foi um resgate dramático e delicado que durou mais de oito horas. O chamado chegou ao corpo de bombeiros por volta das 9h desta quarta-feira, 4, depois que três trabalhadores de uma cooperativa agrícola de Maringá caíram em um silo com duas mil toneladas de grãos de soja.

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Foto: Reprodução

Dois trabalhadores foram resgatados pouco tempo depois, mas o terceiro, que chegou a ficar totalmente soterrado, estava preso à soja num ponto de difícil acesso no silo. “No momento em que nós chegamos ao local e ele estava só com a mão para fora, o risco de sufocamento pelos grãos era bem elevado”, relembra o 1º sargento Edson Dalla Valle, do 5º Grupamento do Corpo de Bombeiros de Maringá em entrevista à rádio CBN Maringá. Mesmo coberto pelos grãos a vítima respirava e murmurava, pedindo socorro.

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Parte das ações do trabalho de resgate, que durou oito horas. / Foto: Corpo de Bombeiros

As etapas do resgate em meio aos grãos

Segundo os Bombeiros, o princípio básico desse tipo de salvamento é retirar o grão das vítimas e não a vítima dos grãos, por conta do peso, que vai comprimindo a pessoa. Uma estrutura metálica foi montada ao lado do trabalhador, formando um tubo de resgate. 

“A vítima recebia oxigênio por um respirador enquanto bombeiros instalaram  uma estrutura de metal ao redor formando uma parede protetora. Nós fizemos o isolamento da vítima e retiramos os grãos do entorno, principalmente das vias aéreas. Ele ficou 100% do tempo com administração de O2”, explica o sargento. 

Primeiro usando baldes e capacetes e depois aspiradores cedidos pela cooperativa, os socorristas retiravam a soja de dentro deste espaço, liberando aos poucos o corpo do trabalhador em um trabalho minucioso e arriscado: durante todo o tempo, havia o risco de um novo soterramento. “Nas duas laterais haviam duas montanhas de grãos, que a todo momento começavam a escorrer. Então um novo soterramento poderia acontecer. Se o grão descer, você não tem para onde sair”, relembra.

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“Se o grão descer, você não tem para onde sair”, diz subntenete dos bombeiros que participou da operação de resgate em meio aos grãos de soja, dentro do silo de uma cooperativa. / Foto: Corpo de Bombeiros

Três frentes de trabalho foram montadas por equipes de socorristas que se revezavam: uma equipe ficava na parte externa do silo, fazendo a parte de logística e providenciando o material necessário para o salvamento, outra ficava dentro do silo, mais próxima ao telhado, alcançando esse material e repassando à terceira, que estava junto à vítima. Os socorristas estavam presos à chamada “linha de vida”. “Consiste em um ponto de ancoragem com uma corda, que nos deixa presos através de um dispositivo antiqueda”, detalha o bombeiro. 

Além da chance de novos soterramentos ainda existia uma outra preocupação: a chamada “síndrome do esmagamento”, que ocorre depois de um tempo prolongado da vítima exposta a uma grande pressão sobre o corpo. “Vai começar a desprender algumas toxinas no organismo; corta a circulação, por conta dessa compressão, e por falta dessa circulação, cria uma toxina que pode levar a óbito, inclusive. Para remediar isso, estávamos com a equipe avançada do Samu, que aplicou uma reposição de fluidos e medicamentos para aumentar o ph do sangue e isso acabou estabilizando a parte clínica da vítima”, conta o 1º sargento Edson Dalla Valle.

O último obstáculo envolveu técnicas de resgate em altura. “Tivemos que estabilizar a vítima em maca e, através de cordas, fazer a retirada, pela parte de cima do silo”, diz o bombeiro. Foi só por volta das seis horas da tarde que o resgate foi concluído e o trabalhador pôde ser retirado com vida e enviado ao hospital. 

O resgate desse trabalhador agora será um estudo de caso para os Bombeiros, para entender como a vítima conseguiu respirar e murmurar por socorro apesar de estar coberta pelos grãos, com apenas uma mão para fora. “Provavelmente a máscara que ele usava fez um bolsão de ar e ele conseguia respirar, porque com a massa de grãos, o peso que estava ali, era para ter entrado grãos pelas vias aéreas dele e causado sufocamento. Se ele estivesse sem nada, ele não conseguiria ter fluxo de ar para entrar nas vias aéreas dele. Essa vítima era para ter entrado em óbito em poucos minutos, por cessar o movimento respiratório e não ter oxigenação no corpo dele”, revela o bombeiro. 

O sargento, no entanto, diz que o trabalhador, além da máscara, usava apenas um capacete, mas não equipamentos como cinto e corda de segurança. “Provavelmente foi um dos motivos dele ter afundado tanto”.

A cooperativa C. Vale divulgou uma nota informando que a empresa está dando toda a assistência aos trabalhadores e familiares.

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