Pequeno Príncipe: “Sorte a minha ele ter me escolhido”
No Dia Nacional da Adoção de Animais, celebrado em 04 de outubro, juntamente com o dia de São Francisco de Assis, conhecido como padroeiro dos animais, o GMC Online traz uma história comovente e inspiradora: a história do Pequeno Príncipe.
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. A frase é uma das mais conhecidas da literatura mundial, presente nas páginas da obra O Pequeno Príncipe, escrito por Saint-Exupéry em 1943. E foi dessa obra que veio o nome de um cãozinho idoso, sem raça definida, que apareceu no portão da arquiteta Ligia Largura em janeiro de 2019.
Ela já tinha seis cachorros em casa, todos adotados, quando o cãozinho deitou no portão bem na hora que ela iria sair com o carro. Para poder sair e seguir para o compromisso, ela colocou ele para dentro de casa e pensou “na volta eu tomo as providências para encontrar o dono”. Nas redes sociais ela procurou em grupos de cachorros desaparecidos, e encontrou várias fotos do mesmo animal vagando pelo centro de Maringá e pela Zona 4. Ele tinha uma coleira de couro, sem identificação, muitas cicatrizes e doenças que, se não fossem tratadas, poderiam se agravar.
Sem encontrar o dono, ela levou o cãozinho ao veterinário que deu um prognóstico nada otimista. “Do jeito que ele está, tem mais uns três meses de vida”. Pela dentição, o profissional identificou que o cachorro deveria ter cerca de 13 anos de idade. “Quem é que vai adotar um cachorro de 13 anos e doente?”, pensou Ligia. E, por medo de que ele passasse os próximos meses sozinho, sem cuidados adequados, e morresse sem um lar, o levou para casa e o batizou de Pequeno Príncipe. “Como o personagem do livro, ele vagava até encontrar seu lugar. Se ele tivesse mais três meses, iriam ser os melhores da vida dele”, relembra.
Aos poucos, ele foi tratando cada problema de saúde do animal. Na época, ela também estava passando por um problema de saúde muito sério e encontrou na resiliência do bicho forças para lutar também pela própria vida. “Eu olhava para o sobrevivente que ele estava sendo a cada mês que passava ele ia melhorando, parecia uma fênix que renascia das cinzas. Ele me deu muita força e é um símbolo para mim de resistência, resiliência e fé na vida”.
Quando chegou na casa de Lídia, o Pequeno Príncipe tinha muito medo de tudo. A suspeita é que ele tenha sido vítima de maus tratos, tanto pelas cicatrizes quanto pelo comportamento. “Eu não conseguia tocá-lo, porque ele tinha muito medo. Mas, aos poucos, fui estabelecendo uma relação de confiança, respeitando o tempo dele”.
Os traumas e problemas de saúde de muitos cães que são resgatados são, geralmente, mal vistos por alguns adotantes. Tanto que nas feirinhas de adoção de animais, os mais procurados são os filhotes e muitos cães mais velhos passam boa parte da vida em abrigos ou lares provisórios. Mas a arquiteta diz que vale a pena seguir o caminho oposto. “É a melhor coisa do mundo você adotar um cachorro adulto ou idoso, porque eles aprendem e já têm uma história, então quando você demonstra algo bom para eles, eles se agarram àquilo para viver. Tenho certeza que a longevidade dele se deve muito à relação que a gente estabeleceu, de carinho”, incentiva.
A idade avançada do Pequeno Príncipe, que hoje beira os 19 anos, trouxe complicações na visão e na audição, como acontece também com os humanos e, por conta de um procedimento cirúrgico, há um ano e meio, parou de andar. Para buscar uma melhor qualidade de vida, Lígia buscou tratamentos alternativos, como fisioterapia, acupuntura e laser, além de fazer um acompanhamento com exames periódicos. Por conta dos cuidados, o cachorro voltou a passear, correr, pular e brincar. “Os últimos exames de sangue dele vieram perfeitos. A veterinária ficou surpresa. A vontade que ele tem de viver é inspiradora. Ele não desiste dele. As pessoas falam ‘sorte a dele ter te encontrado’ e eu digo ‘sorte a minha ele ter me escolhido’, porque eu sou uma pessoa muito melhor hoje por conta dele”, conta a arquiteta.
Millena de Mello faz parte da equipe de veterinários que atende o cachorro atualmente e diz que a história de Lígia inspirou a equipe inteira. “O amor que ela tem por ele é incrível. E o Pequeno Príncipe é a prova de que não importa a idade em que você vai adotar o animal. Se ele for bem cuidado, ele vai viver bem. Fazer checkup, um acompanhamento frequente, garante essa longevidade vivendo bem. O animalzinho de rua, com mais de 10 anos, pode dar tanto amor quanto um filhotinho comprado. O importante é o carinho e o afeto, que faz diferença tanto na vida do animalzinho, quanto do tutor”.