Conheça a história do cinema que terminou em tragédia na região de Maringá
O incêndio que destruiu o Cinema Alvorada na década de 1980, em Alto Paraná,é considerado uma das maiores trágedias da cidade. Apesar do triste final, o Alvorada marcou gerações por ter sido um local onde se formaram laços sociais, memórias e histórias de sobra para serem contadas.
Fundado na década de 50 pela família Freiberger, pioneira da cidade, o cinema de Alto Paraná embalou sucessos cinematográficos por muito tempo. A história toma outro rumo quando Pedro Vieira compra o cinema e reinaugura como Cine Auri Verde na Avenida Paraná. Na década de 60, Vieira desativa o Auri Verde e constrói o Cine Alvorada na rua José de Anchieta.
Para entrar a fundo nesta história, a reportagem do Portal da Cidade Paranavaí falou com Herodes Vieira, neto do proprietário Pedro Vieira. Em entrevista, ele disse que o Cine Alvorada comportava 960 pessoas sentadas. “Por muito tempo o local foi ponto de encontro, cenário de alegria da cidade e palco de shows. Eu e meus primos íamos muito, pois não pagávamos para entrar”, relembra.
Geraldo Catarino, o funcionário que colocava os rolos de filmes na máquina e projetor, também participou da entrevista. Ele trabalhou no local por 30 anos e é uma das pessoas que mais tem detalhes. “Eu tinha as chaves do cinema de Alto Paraná, mas também viajava pra outras cidades para passar filmes. Os que mais fizeram sucesso foram os faroestes e o Mazzaropi, tudo em preto e branco. As sessões eram todos os dias e ainda não existia televisão, então era muito frequentado”.
O aposentado também relembra que para colocar os rolos de filme para rodar era necessário subir em uma cadeira, pois o maquinário era grande. Mesmo com o grande público, Geraldo às vezes se arriscava…”Me lembro que em algumas ocasiões coloquei filmes de conteúdo adulto, os corredores lotavam, era uma gritaria. Em uma dessas, virou até caso de polícia, quiseram me prender, mas o prefeito que mandava na cidade, então não deu em nada”, comentou aos risos.
O glorioso Cine Alvorada marcou gerações de famílias em Alto Paraná e ainda há moradores que guardam as boas memórias. É o caso de José Frasson, que nasceu na segunda casa construída em Alto Paraná. “Foi uma época muito boa, é muito bom relembrar. Não tínhamos quase nada, mas éramos felizes. Lembro que o cinema lotava todos os dias e tinham as matinês e sessões à noite. Quando pegou fogo foi uma tristeza”, lamenta.
Mas, o espaço que embalou a diversão entre amigos, passeios em famílias, beijos roubados e namoros tímidos, acabou sendo destruído por um incêndio em 1984.”Há algumas controvérsias sobre como isso aconteceu. Não há um quartel de bombeiros na cidade, então foi uma correria da população tentando apagar às chamas e ao mesmo tempo tirando as coisas das residências próximas com medo do fogo se espalhar”, comenta Herodes Vieira.
Nesta época, Pedro Vieira já era falecido e o Cine Alvorada era comandado pelo filho Edson Vieira. As televisões, rádios e as fitas em VHS já dominavam as residências e o movimento já não era tão intenso como antes. Desta forma, o Cine Alvorada fechou as portas de vez encerrando o acesso às produções de audiovisual em Alto Paraná. No entanto, o país todo passou pela mudança de configuração social em que, com o surgimento de outras maneiras de assistir filmes, o cinema acabou se tornando um ato de consumo causando impactos culturais até os dias atuais.
O trecho do poema “O Fim das Coisas”, de Carlos Drummond de Andrade (abaixo), retrata o fechamento de um cinema e, o mesmo sentimento exposto pelo poeta, é compartilhado pelos moradores de Alto Paraná que tiveram a oportunidade de frequentar as salas do Cine Auri Verde e Alvorada.
“Fechado para sempre.
Não é possível, minha mocidade fecha com ele um pouco.
Não amadureci ainda o bastante
para aceitar a morte das coisas”
O que restou foram depoimentos saudosistas, relíquias em fotos, amizades formadas, casamentos consolidados e memórias que, assim como o cinema, atravessarão gerações por muito tempo, seja com imagens ou relatos, dos que presenciaram o palco da sétima arte no município. Das cinzas às lembranças, aqui jaz o Cine Alvorada…
Com informações do Portal da Cidade Paranavaí.