19 de junho de 2025

Bastidores políticos são ponto alto em biografia sobre Ulisses Maia


Por GMC Poder Publicado 07/02/2025 às 10h41
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Foto: Reprodução/Instagram/@ulissesmaia

É sabido que nenhuma biografia pode dar conta da complexidade de uma vida. No caso de um político na casa dos 50 anos e com décadas de vida pública, o sarrafo é ainda maior. Por isso, é positivo o resultado do livro “A odisseia de Ulisses Maia”, escrito pelo sociólogo Joel Júnior Cavalcante (Ed. Sinergia Casa Editorial, 320 páginas), publicado no final de 2024. O texto, de forma clara, apresenta a história do ex-prefeito de Maringá, desde o nascimento até a chegada dele ao cargo de chefe do Executivo municipal.

Filho de um grego e de uma mineira, o décimo na lista de 11 irmãos, Ulisses de Jesus Kotsifas Maia nasceu em 1969 em Maringá. Cresceu e estudou na Vila Operária, e, segundo a biografia, sempre teve pretensões de atuação na vida pública. Estudante de direito na UEM (Universidade Estadual de Maringá), participou do movimento estudantil e, em 1989, filiado ao PDT (Partido Democrático Trabalhista), engajou-se na campanha do então candidato à presidência Leonel Brizola. Após ter sido vereador por dois mandatos e ocupado cargos públicos, tornou-se prefeito por duas gestões, de 2017 a 2024.

A história dele na política, com embates, incertezas e apostas, é o ponto alto da biografia.

Disputas

Ulisses Maia começou a jornada política acompanhando o irmão, Ricardo Maia, numa campanha a vereador no final dos anos 1980. A partir de então, passou a exercer funções de nomeação direta ou eletivas, como quando obteve a primeira vitória eleitoral, em 1996, e assumiu o cargo de vereador no ano seguinte. Em 2000, disputou e perdeu a eleição para a prefeitura de Maringá.

Segundo Cavalcante, o que para alguns era derrota, para Maia era uma ação para projetá-lo politicamente. É nessa toda que, após obter 28 mil votos na eleição para deputado estadual em 2004, ele se junta ao grupo político liderado por Ricardo Barros em 2005, junto ao então prefeito Silvio Barros. Eles trabalham em conjunto até 2014. Nesse período, atua como diretor do Procon, chefe de Gabinete e secretário de Assistência Social, deixando a prefeitura para disputar e vencer outra eleição para vereador em 2012, quando obteve mais de 6 mil votos.

Entre outras histórias de bastidores, destacam-se algumas. Uma delas é o rompimento com o grupo político do deputado federal Ricardo Barros – o que custou a Ulisses a não reeleição à presidência da Câmara de Vereadores, função que ele ocupou no biênio 2013/2014. Ele “não conseguiu renovar sua presidência em razão da campanha contrária do antigo grupo político”.

Essa disputa com o grupo rival também quase lhe impediu de disputar, em 2016, a prefeitura de Maringá, visto que o então parlamentar, que estava no PDT à época, contou ao biógrafo que lideranças políticas locais pressionavam o partido para que ele não fosse aceito como o postulante. Naquele momento, aliás, a biografia registra que Ulisses passava por dificuldades financeiras, sem dinheiro para o IPVA de um automóvel, por exemplo.

Em meio às disputas e incertezas, ele apostou. E saiu vencedor naquela eleição, derrotando o grupo adversário no segundo turno, com 118 mil votos.

Utilizando-se de elementos da trajetória do biografado, Joel Júnior Cavalcante também faz uma espécie de sociologia da vida política de Maia – o que as Ciências Sociais chamariam de habitus. É nítido o tato político de Ulisses Maia para estar no jogo do poder. Ele soube se movimentar quando necessário, entendendo a atuação dos grupos locais, compreendendo pautas que estavam em voga no Brasil (as Jornadas de Junho de 2013, por exemplo) e as necessidades de costuras para construir seu próprio caminho – da presidência da juventude socialista do PDT, nos anos 1980, à aliança com o governo do Paraná durante a gestão à frente da prefeitura de Maringá.

Não à toa, portanto, a vitória de Ulisses Maia, em 2016, após toda sua trajetória, foi chamada por Reginaldo Dias, historiador que faz o prefácio de “A odisseia…” de “a maior façanha política da história de Maringá”.

A pandemia

Talvez o principal fator que a história vá olhar para os anos 2020 em diante seja a atuação do governo frente à pandemia da Covid-19. Esse capítulo é destacado no livro; nele, vê-se a solidão do poder. Ulisses Maia, técnicos e poucas outras pessoas definiram o lockdown sabendo que a pressão contrária seria grande, em março de 2020. “Nada do que eu fiz durante essa pandemia foi pensada em eleição, eu tomei as medidas que eram necessárias”, disse o agora ex-prefeito ao biógrafo.

Domingos Trevisan, chefe de Gabinete de Maia durante o governo e que assinou a apresentação do livro, contou a Cavalcante que a pressão foi tão grande, durante a pandemia, que o “jornalista Augusto Nunes, da Joven Pan, chamou Ulisses de ‘Napoleão de Chácara’, ridicularizando a medida. […] O Véio da Havan colocou toda a equipe da loja para protestar e ligou me ameaçando. Abriu a loja para afrontar. A Prefeitura foi lá e embargou! Ulisses achou que seu capital eleitoral estava perdido. Mas o que era importante, naquele momento, não era o custo eleitoral, mas as vidas”.

Fato é que Ulisses Maia foi reeleito no primeiro turno com 103 mil votos – obtendo nas urnas, portanto, a aprovação das medidas tomadas.

“Cada etapa representou crescimento pessoal e profissional, e, longe da jornada dos heróis predestinados, voltar à vida pública em cargos eletivos demandou muito trabalho. Essa perseverança em muitos momentos só foi comungada pela família, esposa, filhos e amigos e parentes mais próximos. Ulisses relata que, em vários desses momentos de altos e baixos, só pôde contar com uma quantidade muito reduzida de pessoas que acreditavam no seu projeto e na sua (re)ascenção”, escreveu Joel Júnior Cavalcante.

Há muito mais

“A odisseia de Ulisses Maia” apresenta, também, a importância da família para o biografado. A esposa, Eliane Maia, e os filhos, Caroline e Petrus, falam sobre a admiração e a coragem do marido e pai. O irmão, Hércules Kotsifas, que foi secretário de Governo (2021-2024), destaca o fato de que aquele garoto da Vila Operária gosta mesmo de estar com as pessoas.

Ao final, o livro exibe uma espécie de prestação de contas do mandato, dados que, para além do registro, servem para analisar o resultado do trabalho do gestor.

“A odisseia de Ulisses Maia”, por fim, exibe de forma corajosa os desafios enfrentados ao longo da trajetória política do biografado. Isso serve não apenas para passar a história pessoal dele a limpo, mas, também, para inspirar novas lideranças e mostrar que os caminhos são tortuosos.

Com esse livro, Ulisses Maia se torna o primeiro prefeito da história da cidade a ter sua trajetória registrada em biografia estando ainda no governo. E Joel Júnior Cavalcante se mostra preparado para registrar, com qualidade, a história política e dos políticos de/em Maringá.

Victor Simião, autor do texto, é jornalista e sociólogo. Mestre em Ciências Sociais, foi secretário de Cultura de Maringá (2021-2024).

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