17 de abril de 2025

Temor de ingerência na Petrobras agrava perdas e estatal encolhe R$ 23 bi na Bolsa em 1 dia


Por Agência Estado Publicado 07/04/2025 às 21h01
Ouvir: 08:04

Já abaladas pelo efeito Trump, as ações da Petrobras aprofundaram a desvalorização na Bolsa de Valores brasileira, a B3, nesta segunda-feira, 7, depois da divulgação de que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, procurou a estatal para pedir a redução no preço dos combustíveis. A informação sobre essa abordagem foi divulgada pela CNN Brasil.

Procurados pelo Estadão/Broadcast, o Ministério de Minas e Energia (MME) e Silveira não comentaram a informação sobre o pedido de redução de preços.

Só nesta segunda-feira, a Petrobras perdeu R$ 23,1 bilhões em valor de mercado. Com a quarta queda seguida do papel, a empresa furou o piso de setembro de 2023, recuando a R$ 445,8 bilhões. As ações ordinárias (ON) despencaram a R$ 35,63, queda de 5,57%; as preferenciais, a R$ 33,18, queda de 3,97%; e a ADR da estatal na Nyse (a Bolsa de Nova York), a US$ 11,19, queda de 5,73%

O Estadão/Broadcast apurou que Silveira apresentou à Petrobras argumentos que na avaliação do governo justificariam a viabilidade da redução de preços de combustíveis. Dentre eles, é mencionada a perspectiva do aumento da produção de petróleo pelos países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, grupo conhecido como Opep+.

Na semana passada foi anunciado que a produção no mês que vem seria elevada em 411 mil barris por dia (bpd). O grupo de países mencionou “fundamentos saudáveis” e uma “perspectiva positiva” do mercado. O petróleo está em queda no mercado internacional, também puxado pelo temor de uma recessão causada pelo “tarifaço” de Trump, e consequentes retaliações de outros países.

Segundo interlocutores, o ministro Silveira fez uma argumentação à Petrobras baseada no cenário externo, reforçando o respeito à governança da companhia. Ainda de acordo com fontes, não foi apresentado um dado quantitativo de qual seria a redução nos preços considerada ideal para o governo.

Petrobras não comenta, mas mexida paira no ar
A estatal disse que não vai comentar a fala do ministro, nem apontou uma possível direção para o preço dos combustíveis.

Contudo, o analista Vitor Sousa, da Genial, afirma que tanto diesel quanto gasolina negociam com prêmio em relação à paridade com os preços internacionais (PPI), da ordem de 5%.

“Existe espaço para cortar, o problema é o Brent voltar”, disse Sousa, referindo-se à alta volatilidade do petróleo no mercado internacional. A commodity estava em queda no final de março, mas voltou a se recuperar nos primeiros dias de abril, voltando a despencar com mais força após as taxações do governo de Donald Trump.

Como lembra o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, a estatal costuma evitar transferir a volatilidade dos preços para o mercado interno, com os últimos reajustes seguindo o mantra de petróleo e dólar mais baixos, o que não é o caso no momento, com a moeda americana tocando os R$ 5,91.

Ele vê, no entanto, que a porta de reajustes da estatal nunca está totalmente fechada.

Alta do dólar deve frear queda nos preços

Apesar da queda do preço do petróleo de quase 13% no mês, o dólar segue firme, em alta de quase 4% em abril. Para Arbetman, qualquer alteração nos preços no momento vai depender do que a companhia classifica como estrutural.

“Eu, por exemplo, não esperava o último reajuste”, disse o analista se referindo à queda de 4,6% anunciada pela empresa a partir de 1º de abril, em um momento em que o preço do petróleo se recuperava e dias após o ministro Silveira fazer as mesma afirmações de agora, de que “já era hora de a Petrobras analisar a redução de preços”.

Com a queda no valor do preço do petróleo no mercado internacional, o valor dos combustíveis nas refinarias brasileiras tem ficado mais caro em relação ao preço internacional, o que pode levar a Petrobras a reajustar principalmente o preço da gasolina, há 272 dias sem alteração, aponta levantamento do Estadão/Broadcast. Uma eventual queda, porém, esbarra na alta do dólar, que se aproxima novamente dos R$ 6, refletindo a aversão ao risco por temor à recessão mundial.

Em julho passado, a gasolina teve aumento de R$ 0,20 por litro nas refinarias da estatal. Na sexta-feira, 4, o preço no Brasil estava em média 5% acima do Golfo do México, de acordo com levantamento da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).

No dia 1º de abril, a Petrobras reduziu o diesel em R$ 0,17 o litro, mas não mexeu na gasolina. Apesar dessa redução, o preço do diesel continua 5% mais caro no mercado internacional do que no Brasil. A queda de preços está arrastando para baixo também as ações da estatal, que já acumulam recuo de 9,85% no mês, no caso das ações preferenciais, e de 11,6% nas ordinárias. Com isso, o valor de mercado da estatal cai hoje para R$ 450 bilhões, até aqui, o menor market cap desde dezembro de 2023.

Nos polos de importação de Itacoatiara, no Amazonas, e Aratu, na Bahia, a gasolina estava com o preço 7% acima dos preços externos no fechamento de sexta-feira, 4. Na média, o preço da gasolina está 5% mais caro do que no Golfo do México, usado como parâmetro para importação, o que poderia puxar uma redução de R$ 0,13 por litro no combustível.

Segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), os contratos futuros do petróleo e seus derivados registraram uma segunda sessão consecutiva de perdas substanciais na última sexta-feira, 4, levando os preços internos para uma diferença também de 5% em relação ao mercado internacional, no cálculo da consultoria. Hoje, a depressão continua, com a commodity do tipo Brent registrando queda de 1,71%, por volta das 15h, cotada a US$ 64,28 o barril.

“Em um novo capítulo do que vem se configurando como uma guerra comercial global, a China anunciou tarifas de 34% sobre quaisquer importações norte-americanas no país, alimentando a incerteza sobre o crescimento da atividade econômica no curto prazo”, avaliou o Cbie em relatório nesta segunda-feira, ressaltando que o preço do barril foi ainda pressionado por um desempenho robusto do dólar e pela perspectiva de retorno da oferta da Opep+.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast em meados de março, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou que poderia baixar os preços caso os combustíveis no Brasil fiquem muito mais caros do que os patamares praticados no mercado internacional. “Se o preço (no Brasil) ficar muito acima do mercado (externo) e enxergarmos que a tendência é essa, vamos mexer certamente. Da mesma forma, se ficar abaixo vamos mexer também”, disse Magda.

Pauta do Leitor

Aconteceu algo e quer compartilhar?
Envie para nós!

WhatsApp da Redação

Comentar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Economia

IIF: alta de juros dos Treasuries durante tensão reflete padrão atípico e quebra de correlações


Os Treasuries costumam ser vistos como porto seguro em momentos de turbulência nos mercados, com seus rendimentos caindo diante do…


Os Treasuries costumam ser vistos como porto seguro em momentos de turbulência nos mercados, com seus rendimentos caindo diante do…

Economia

Canadá: Carney abandona tarifas retaliatórias ‘dólar por dólar’ contra EUA


O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, que lidera as pesquisas a menos de duas semanas de uma eleição, afirma que não…


O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, que lidera as pesquisas a menos de duas semanas de uma eleição, afirma que não…

Economia

Bolsa de Tóquio abre perto da estabilidade de olho em tarifas e inflação


A bolsa de Tóquio abriu perto da estabilidade nesta sexta-feira (horário local), com os EUA afirmando que um acordo com…


A bolsa de Tóquio abriu perto da estabilidade nesta sexta-feira (horário local), com os EUA afirmando que um acordo com…