19 de junho de 2025

Por meta fiscal, governo congela R$ 31,3 bi e anuncia alta do IOF


Por Agência Estado Publicado 23/05/2025 às 07h07
Ouvir: 06:59

O governo anunciou nesta quinta-feira, 22, contenção de R$ 31,3 bilhões em despesas do Orçamento para tentar cumprir a meta de déficit fiscal zero prevista para o ano. Também foi anunciado aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para uma série de operações, como no crédito para empresas, cartão de crédito internacional e previdência privada. A medida, para reforçar os cofres públicos, já entra em vigor nesta sexta, 23.

O mercado chegou a reagir de forma positiva ao congelamento de gastos, mas o anúncio do IOF pesou no fim do dia. O dólar mudou de direção e subiu 0,33%, para R$ 5,66, enquanto o Ibovespa (principal referência da Bolsa) recuou 0,44%.

Dos R$ 31,3 bilhões, R$ 20,7 bilhões serão contingenciados – quando há frustração de receitas a fim de cumprir a meta fiscal. Para este ano, o governo promete atingir a meta de resultado primário zero, mas há uma margem de tolerância que permite um déficit de R$ 31 bilhões – ou 0,25% do PIB.

Os R$ 10,6 bilhões restantes serão bloqueados para que seja cumprido o limite de despesas do arcabouço fiscal. Nessa situação, o governo pode bloquear despesas não obrigatórias (como custeio e investimentos) para compensar o aumento de gastos obrigatórios (como aposentadorias).

As medidas tentam recuperar a credibilidade da política fiscal, diante do risco de colapso das contas públicas, que ficou evidente com o envio da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026. O cenário apresentado pela equipe econômica, na ocasião, prevê que o poder público fique sem dinheiro suficiente para sustentar os investimentos e manter a máquina pública funcionando a partir de 2027.

“Muita gente do mercado previa necessidade (de congelamento de gastos) menor do que essa, mas nós fizemos questão de ser muito transparentes sobre a execução, para que houvesse também por parte do Congresso e Judiciário (disposição) para tocar essa agenda à frente”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

A previsão de gastos com benefícios previdenciários subiu de R$ 1,015 trilhão para R$ 1,032 trilhão. O governo também reviu os valores com precatórios (sentenças judiciais definitivas), que aumentaram em R$ 1,3 bilhão, para R$ 48,5 bilhões.

Do lado das receitas, a estimativa com dividendos de estatais teve elevação de R$ 10 bilhões, para R$ 43,4 bilhões. Os recursos devem vir principalmente do BNDES e da Caixa. Em contrapartida, houve corte de R$ 81,5 bilhões nas projeções de arrecadação com medidas que frustraram a expectativa do governo. As receitas previstas com o Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf), por exemplo, caíram de R$ 28 bilhões para zero.

Governo espera arrecadar R$ 20,5 bi a mais com IOF mais alto

O governo aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre planos de previdência privada (VGBL), sobre o crédito de empresas e também sobre operações de câmbio que atingem empresas e pessoas físicas. Com isso, a expectativa é arrecadar R$ 20,5 bilhões neste ano e R$ 41 bilhões no próximo ano.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, qualificou a medida como um “pequeno ajuste”, e evitou ligar a iniciativa às metas fiscais. No entanto, a equipe econômica prevê que a tributação de IOF aumente a arrecadação e ajude a reduzir a pressão sobre o Banco Central na condução da política monetária, permitindo a redução da taxa de juros.

Para o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, as mudanças no IOF trazem uma receita adicional “bastante relevante”, mas ele lembra que “aumentar a arrecadação não é o melhor caminho”. “O melhor caminho seria a contenção das despesas.”

Felipe Salto, Josué Pellegrini e Gabriel Garrote, da Warren, afirmaram em relatório que “a previsão de arrecadação adicional é bastante alta e já está incorporada nos números do relatório bimestral, o que representa um risco”.

O presidente da ABBC, entidade que representa os bancos médios e de nicho, Leandro Vilain, afirmou que o custo do crédito e a atividade econômica serão impactados. “Reconhecemos a importância do cumprimento da meta fiscal, que é essencial para a estabilidade econômica do País. No entanto, buscar esta meta com aumento da carga tributária causará aumento do custo do crédito e impactará negativamente a atividade econômica, penalizando o consumidor final.”

Previdência privada

A Receita identificou que investidores de alta renda estavam migrando de fundos exclusivos para fundos de previdência VGBL com o objetivo de pagar menos impostos. Isso porque os fundos exclusivos passaram a ser tributados com Imposto de Renda, ao passo que os VGBL são isentos – só há pagamento de 10% no saque, se feito no longo prazo. A medida fixa que depósitos no VGBL que superarem R$ 50 mil mensais pagarão 5% de IOF. Valores inferiores seguirão isentos.

Câmbio

O governo decidiu interromper a decisão de 2022 que reduziria progressivamente o IOF sobre cartões de crédito e débito no exterior até zerar em 2029. Atualmente, a alíquota está em 3,38%, mas a partir de hoje será fixada em 3,5% tanto para cartões de crédito como de débito.

Empresas que tomam empréstimos de curto prazo no exterior, de até 365 dias, passarão a recolher 3,5% de IOF. Essas operações estavam zeradas desde 2023. Empréstimos com prazos mais longos são isentos.

Crédito para empresas

A Fazenda também aumentou a cobrança de IOF no crédito para empresas, igualando as alíquotas em relação ao que é cobrado das pessoas físicas. Hoje, o crédito às empresas tem a incidência fixa de 0,38% de IOF, e mais uma cobrança adicional de 1,5% ao longo de 365 dias do ano. Agora, a alíquota fixa subirá para 0,95%, o mesmo patamar das pessoas físicas, com cobrança adicional de 3%. (COLABORARAM CYNTHIA DECLOEDT, MATEUS FAGUNDES E CAROLINE ARAGAKI)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Pauta do Leitor

Aconteceu algo e quer compartilhar?
Envie para nós!

WhatsApp da Redação

Comentar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Economia

Seis dirigentes do BoE votaram por manutenção do juro básico; 3 defenderam corte


Seis dos nove integrantes do Comitê de Política Monetária (MPC, na sigla em inglês) do Banco da Inglaterra (BoE, na…


Seis dos nove integrantes do Comitê de Política Monetária (MPC, na sigla em inglês) do Banco da Inglaterra (BoE, na…

Economia

BC da Inglaterra deixa juro inalterado em 4,25% em meio a persistentes incertezas tarifárias


O Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) decidiu deixar sua principal taxa de juros inalterada, em 4,25%, após…


O Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) decidiu deixar sua principal taxa de juros inalterada, em 4,25%, após…

Economia

Supremo suspende análise sobre oposição à contribuição sindical


O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu vista em julgamento contra decisão que autorizou os sindicatos a…


O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu vista em julgamento contra decisão que autorizou os sindicatos a…