26 de julho de 2025

Fed propõe modificar padrão de alavancagem e requisitos de capital para bancos importantes


Por Agência Estado Publicado 25/06/2025 às 15h58
Ouvir: 08:12

O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) propôs alterar o padrão de alavancagem suplementar (eSLR, em inglês) e os requisitos de capital para bancos sistematicamente importantes, conhecidos como GSIBs. O BC dos Estados Unidos divulgou nesta quarta-feira, 25, um rascunho da proposta e uma atualização sugerida para o Federal Register (o Diário Oficial dos EUA), emitida em conjunto com a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) e o Escritório de Controle Cambial.

Os documentos sugerem reduzir os requisitos de capital agregado de nível 1 para os GSIBs em 1,4% e em 27% para instituições depositárias subsidiárias de bancos globais.

Segundo o Fed, contudo, os bancos ainda teriam que cumprir os requisitos mínimos das regras de capital bancário para administrar adequadamente os riscos aos quais estiverem expostos, o que impediria o repasse de capital para acionistas e investidores.

Especificamente, cada GSIB e suas subsidiárias terão que manter uma taxa de alavancagem suplementar de pelo menos 3% e um buffer adicional de 2% para evitar limitações de distribuição de capital.

O cálculo levará em conta uma recalibração da eSLR para se igualar a 50% do método de nível 1 da estrutura de cobrança baseada em riscos do Fed.

A proposta ficará aberta para comentário público por 60 dias.

Defesa de Powell

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, defendeu nesta quarta-feira a proposta da instituição dos Estados Unidos. Durante reunião pública do Fed, Powell afirmou que a regra, originalmente criada após a crise financeira global de 2008, precisa ser atualizada para refletir as mudanças estruturais no sistema financeiro norte-americano.

“Mais de uma década atrás, após a crise financeira global, as agências adotaram a razão de alavancagem suplementar como um requisito de capital que serviria de retaguarda às exigências baseadas em risco”, afirmou o líder do Fed.

Segundo ele, a medida foi “um passo importante para garantir a resiliência do sistema bancário”.

Powell explicou, no entanto, que as condições desde então mudaram. Quando a diretoria do Fed aprovou o eSLR, esperava-se que as reservas bancárias diminuíssem nos anos seguintes. “Em vez disso, vimos as reservas bancárias aumentarem substancialmente”, afirmou.

Ele também destacou a forte alta das participações em títulos do Tesouro nos balanços dos bancos. Esse acúmulo de ativos “relativamente seguros e de baixo risco” fez com que a exigência de alavancagem se tornasse mais restritiva do que o previsto.

“Com base nessa experiência, é prudente reconsiderar nossa abordagem original”, disse Powell. Segundo ele, o objetivo é garantir que a exigência de capital não desestimule a atuação dos bancos em atividades de baixo risco, como a intermediação no mercado de Treasuries. “Queremos garantir que a razão de alavancagem não se torne regularmente vinculante e desestimule os bancos de participar dessas atividades.”

Powell ressaltou que a proposta, fruto de trabalho conjunto entre agências reguladores, visa ajustar a calibragem da exigência “sem comprometer a resiliência do sistema” e está “alinhada com o arcabouço do Comitê de Basileia”.

Divisão entre diretores

O diretor do Fed Michael Barr criticou a proposta, afirmando que ela “reduz desnecessária e significativamente o capital bancário em US$ 210 bilhões para os bancos globalmente sistêmicos (GSIBs)” e “enfraquece a eSLR como uma rede de proteção”.

Segundo Barr, a medida aumenta o risco de colapso de grandes bancos e pode comprometer a capacidade de resolução ordenada em caso de crise. “Tomadas em conjunto, essas mudanças aumentariam significativamente o risco de falência de um GSIB”, alertou.

O dirigente argumentou que a proposta não garante melhora na intermediação do mercado de Treasuries. “As firmas poderiam simplesmente direcionar o capital liberado para outras atividades com requisitos de capital mais baixos e retornos mais altos”, disse. Segundo ele, mesmo se houvesse maior atuação em tempos normais, “não haveria capital excedente em tempos de estresse”.

Barr também criticou a opacidade que a proposta traria. “A proposta desgasta a transparência da rede de proteção de capital”, afirmou.

Ele ainda rejeitou a ideia de excluir Treasuries e ativos do Fed da base da eSLR. “Pode parecer atraente, mas é uma ladeira escorregadia”, alertou. Ainda que contrário à proposta atual, ele sinalizou abertura a um ajuste “muito mais modesto”.

O diretor do Fed Christopher Waller, por sua vez, apoiou a proposta do BC dos EUA, em declaração preparada para reunião do Conselho do Fed nesta quarta-feira. Segundo ele, a defesa pela mudança é para que a medida sirva como um “reforço aos requisitos baseados em risco”.

“Acredito que a abordagem proposta para simplesmente reduzir o grau de vinculação da eSLR é preferível à exclusão explícita de ativos específicos, como passivos do governo. Não é nossa função escolher vencedores e perdedores. A abordagem proposta deixará essas escolhas e a gestão de risco para os bancos, o que é apropriado”, ponderou no texto.

Em contrapartida, a diretora do Fed Adriana Kugler afirmou que não pode apoiar a proposta por considerar que a redução de capital para subsidiárias bancárias de grandes bancos eleva o risco sistêmico. Também em discurso preparado para reunião do Fed, ela disse que a proposta tenta resolver um possível efeito colateral do modelo atual, mas “vai além do necessário”.

Segundo Kugler, a regra de capital mínimo pode estar desincentivando atividades de menor risco, como a intermediação de Treasuries, e por isso ela “teria se inclinado a apoiar” mudanças limitadas ao cálculo da eSLR para as holdings dos bancos sistêmicos globais (G-SIBs). No entanto, rejeitou o escopo atual do plano, que inclui cortes de 27% nos requisitos de capital de nível 1 para subsidiárias bancárias. “Não estou convencida de que os benefícios à intermediação de Treasuries justifiquem essas reduções significativas”, afirmou.

A dirigente alertou que, ao deixar o capital concentrado em outras partes do conglomerado financeiro, “não há garantia de que ele será realocado para o banco quando necessário para conter uma corrida bancária”.

Ela concluiu pontuando que acredita ” que essa redução aumentará o risco sistêmico de forma injustificável”.

Kugler defendeu uma abordagem mais ampla e integrada da regulação de capital.

Defesa de Michelle Bowman

A vice-presidente de Supervisão do Conselho do Federal Reserve, Michelle Bowman, afirmou que a proposta do BC norte-americano ajudará a construir resiliência nos mercados de Tesouro dos EUA, em declaração preparada para a reunião nesta quarta-feira.

Segundo ela, a medida também pode reduzir a probabilidade de disfunção do mercado e a necessidade de o Fed intervir em um futuro evento de estresse. “Devemos ser proativos em abordar as consequências não intencionais da regulamentação bancária, incluindo a vinculação da eSLR, enquanto garantimos que o quadro continue a promover segurança, solidez e estabilidade financeira”, menciona.

Para Bowman, a proposta também é um passo importante para “equilibrar a estabilidade do sistema financeiro”, preservando a segurança e a solidez, bem como restaurando o eSLR como um mecanismo de proteção.

Pauta do Leitor

Aconteceu algo e quer compartilhar?
Envie para nós!

WhatsApp da Redação

Comentar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Economia

MRE diz que Embaixada do Brasil em Caracas apura dificuldades relatadas por exportadores


O Ministério das Relações Exteriores (MRE) informou, por meio de nota enviada ao Estadão/Broadcast, que acompanha, em coordenação com o…


O Ministério das Relações Exteriores (MRE) informou, por meio de nota enviada ao Estadão/Broadcast, que acompanha, em coordenação com o…

Economia

Venezuela passa a taxar produtos brasileiros que eram isentos, dizem exportadores de Roraima


Exportadores brasileiros foram surpreendidos pela cobrança, por parte da Venezuela, de uma taxa de importação que até então era isenta…


Exportadores brasileiros foram surpreendidos pela cobrança, por parte da Venezuela, de uma taxa de importação que até então era isenta…

Economia

InterCement fecha acordo com credores e Mover venderá as ações da Motiva para pagar o Bradesco


Em negociações acertadas nesta quinta-feira, 24, o grupo Mover e a cimenteira InterCement, ambos em recuperação judicial desde 4 de…


Em negociações acertadas nesta quinta-feira, 24, o grupo Mover e a cimenteira InterCement, ambos em recuperação judicial desde 4 de…