26 de julho de 2025

Propriedade rural de Maringá produz insumos para cosméticos naturais


Por Brenda Caramaschi Publicado 13/07/2025 às 08h52
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O casal Denise e Edson Lopes descobriu o universo dos cuidados por meio das plantas depois de problemas de saúde e hoje abrem a chácara onde cultivam insumos para cosméticos naturais a visitantes que querem aprender mais sobre as propriedades encontradas na natureza. / Foto: Brenda Caramaschi

Em uma propriedade rural de Maringá, próxima ao distrito de São Domingos, o que sai da terra “alimenta a pele”. As plantas produzidas ali são usadas para fabricar cosméticos naturais criados por um casal formado em agroecologia que mudou toda a vida profissional e se lançou em um estudo profundo sobre medicina oriental depois de descobrir como a natureza e os cuidados com o corpo estão interligados.

Na chácara de cinco mil metros quadrados, um canteiro em forma de mandala ilustra a máxima que há um tempo ideal para todas as coisas. Trata-se de um “relógio humano das ervas”, também conhecido como “relógio biológico das plantas medicinais” É uma forma de organizar e utilizar plantas medicinais de acordo com o horário em que certos órgãos do corpo humano estão mais ativos, segundo a medicina tradicional chinesa e estudos científicos sobre ritmos circadianos. 

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Relógio Humano: canteiro em forma de mandala ilustra a máxima que há um tempo ideal para todas as coisas. / Foto: Brenda Caramaschi

O objetivo é promover o conhecimento sobre as propriedades terapêuticas das plantas e incentivar o uso de métodos naturais para o cuidado com a saúde. Plantas como a pulmonária e o guaco respondem melhor ao uso para tratamentos ligados ao pulmão quando usadas entre as 3h e as 5h; das 7h às 9h o estômago responde melhor a chás de hortelã, por exemplo. Ali, o que não é usado para fazer sabonetes, cremes, desodorantes e outros cosméticos naturais, é servido aos visitantes que a chácara recebe uma vez ao mês. O cardápio também inclui geleia de amora, pitayas, abacates, caponatas de berinjela, sempre respeitando a época de cada planta que nasce na propriedade.

Foi em meio a uma crise nervosa que Denise Lopes começou a descobrir que havia um tempo certo para todas as coisas. Formada em moda e mãe de quatro filhos, ela trabalhava em grandes indústrias desenvolvendo coleções até sofrer uma estafa mental. Por indicação de amigos que moraram fora do país, ela conheceu as terapias naturais à base de óleos essenciais, quando o assunto ainda não era tão conhecido por aqui. “Eu encontrei esse caminho dentro das coisas naturais, dentro das plantas, da aromaterapia e eu fiquei louca, eu enlouqueci, descobri um novo mundo”, recorda. O marido,  Edson, que trabalhava na área comercial de empresas de produtos esportivos e sofreu por décadas com crises de sinusite, diz que se apaixonou pelo universo natural depois de usar um óleo de eucalipto. 

Ambos passaram a estudar sobre medicina oriental e produtos naturais, se tornaram vendedores de óleos essenciais de uma grande empresa e, com o passar do tempo, passaram a oferecer treinamentos, viajando o Brasil. Com o que aprendiam em cursos, começaram a fabricar cosméticos naturais como sabonetes e cremes para uso próprio, com ervas que plantavam no quintal de casa, em Maringá. Contudo, com a chegada da pandemia da Covid-19, a empresa encerrou os contratos. Denise e Edson, que já haviam diminuído o ritmo no trabalho para buscar mais qualidade de vida, se viram forçados a parar de vez. Foi então que decidiram aumentar a produção artesanal de cosméticos naturais para vender e se mudaram para a chácara, onde poderiam cultivar mais insumos. Começaram a participar de feiras colaborativas e a levar a produção à feira livre da Avenida Mauá, aos domingos. “Queríamos apresentar nossos produtos a quem já estava na feira querendo se alimentar melhor”, relembra Denise.  

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O casal maringaense começou fabricando sabonetes e cremes para uso próprio e ensinando outras pessoas a fazer o mesmo, até que viram nos cosméticos naturais um negócio rentável, que expandiu rapidamente. / Foto: Brenda Caramaschi

Aos clientes, não ofereciam sabonetes, desodorantes ou hidratantes, mas explicavam as propriedades de cada ingrediente da composição. Assim, deixavam os ativos das plantas falarem por si àqueles que decidiam levar os cosméticos naturais para casa. Passaram a investir também em produtos para perfumar a casa. Dentro dos vidros, lavandas, arrudas e alecrins não apenas deixavam o ambiente mais cheiroso, mas chamavam atenção pela beleza. Em uma das feiras colaborativas, um encontro abriu portas para que os produtos passassem  ser vendidos em São Paulo: a curadora de arte e design Cris Rosenbaum, casada com o arquiteto Marcelo Rosenbaum, se encantou com os home sprays da marca maringaense. Com o aumento na produção, nem todos os processos seguem artesanais. As plantas ainda são colhidas e se transformam em extrato concentrado ali, mas depois seguem para uma indústria de São Paulo, onde as fórmulas criadas por Denise são executadas e voltam à Maringá prontas para a venda. 

Na chácara, uma área está sendo preparada para ampliar a produção de lavandas, alecrins e arrudas, para substituir parte do que hoje precisam comprar fora para atender à demanda. De fora também vem ingredientes amazônicos, a água termal, extraída de uma área em Terra Boa, que também vende o insumo para grandes marcas nacionais de cosméticos, e restos de fios de seda usados pela empresa Casulo Feliz e que seriam descartados, mas na chácara se transformam em ingrediente de hidratantes. Hoje, além das feiras, os produtos de Denise e Edson Lopes são vendidos em lojas colaborativas em Maringá e na capital paulista. O sonho, é seguir a expansão e ter lojas próprias, mas o crescimento, como o das plantas, eles acreditam, virá no tempo certo.

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