‘Eu não sentia nada’: Como reverter gordura no fígado; veja hábitos, tratamentos e riscos explicados por hepatologista

Quando o representante comercial Emerson Kazuo Miura, 53 anos, decidiu fazer um check-up de rotina, não imaginava que o resultado dos exames mudaria sua relação com a própria saúde. “Eu não sentia nada, nenhum desconforto. Descobri por acaso, em exames pedidos pelo cardiologista, que mostraram alterações no fígado”, conta.
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O diagnóstico inicial de esteatose hepática, mais conhecida como gordura no fígado, veio sem sintomas aparentes, o que é muito comum, segundo a médica hepatologista e professora Aline Oba, que há mais de 20 anos atua no tratamento de doenças do fígado em Maringá. Ela explica que a esteatose hepática está entre as condições mais frequentes em consultório e que o número de pacientes diagnosticados tem aumentado de forma expressiva. “O Brasil está entre os dez países com maior prevalência de obesidade no mundo, e isso está diretamente ligado ao aumento da gordura no fígado”, afirma.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Hepatologia, entre 20% e 30% da população brasileira apresenta algum grau da doença. Aline Oba explica que a esteatose está associada à síndrome metabólica, que envolve obesidade, resistência à insulina, colesterol e triglicerídeos elevados. “Mesmo pessoas magras podem desenvolver a condição se tiverem alterações metabólicas”, destaca.
O problema, muitas vezes silencioso, costuma ser descoberto em exames de imagem realizados por outros motivos. Nos estágios iniciais, pode ser revertido com mudanças de hábitos. Mas, sem tratamento, a doença pode evoluir para esteato-hepatite, caracterizada por inflamação e fibrose hepática, que pode progredir para cirrose e até câncer de fígado. “Cerca de 10% dos pacientes com inflamação hepática e cirrose desenvolvem carcinoma hepatocelular, mesmo ele pode aparecer mesmo sem cirrose estabelecida”, alerta a médica.
Aline explica que o tratamento é baseado, principalmente, em mudanças no estilo de vida. “O que realmente funciona é uma dieta hipocalórica, com redução de gordura e açúcar, associada à prática regular de exercícios físicos. Essa combinação tem comprovação científica na reversão da esteatose”, reforça. Ela ressalta ainda que não existem alimentos ou chás capazes de “limpar” o fígado e que o uso de produtos naturais sem orientação médica pode causar o efeito oposto. “Alguns chás são tóxicos e podem agravar a inflamação hepática”, adverte.
Para os casos mais avançados, o tratamento pode incluir medicamentos como vitamina E, pioglitazona e substâncias da classe dos agonistas do GLP-1, como a semaglutida, que têm mostrado resultados promissores na melhora do fígado ao promover perda de peso. O acompanhamento é feito com exames específicos, como o Fibroscan, que mede o grau de fibrose sem a necessidade de biópsia.
A médica destaca que a doença reflete o estilo de vida moderno, marcado pelo consumo de alimentos ultraprocessados e pela falta de atividade física. “Vivemos uma verdadeira epidemia de obesidade. A rotina corrida, o sedentarismo e o excesso de calorias contribuem diretamente para o aumento da esteatose hepática”, observa.
Para ela, o diagnóstico precoce é o principal aliado na reversão do quadro. “Quando identificamos o problema a tempo, é possível reverter completamente. O fígado tem grande capacidade de regeneração, e mudanças de comportamento podem fazer toda a diferença.”

Emerson Kazuo é prova disso. Hoje, leva uma rotina mais equilibrada e segue em acompanhamento médico regular. “Minha sorte foi que eu consegui diagnosticar rápido. Hoje eu faço exames a cada seis meses e está tudo normal”, resume.
